quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Vô não!

Tem dia que eu me entrincheiro e digo - vô durmi não! (foda-se (o) amanhã)

Uma música - T'es Beau - Pauline Croze

Solte...


Não, você não nasceu plantado, fixo, alojado, enjaulado... não, você não nasceu assim... lá, muito muito tempo antes de você saber-se nascido, tu eras um grãozinho velejando no vento... era um pardal afoito, uma vela escura tremulando na maresia, um toco de madeira n'um mar incerto, um par de pés saltitantes e sempre em frente... ah, sim, era você que a todo canto ia... e nada te prendia, nada te fazia ficar, parar, deixar o caminho. Você não tem essa cara de hoje, esse olhar de pedra, esses pés de lodo, você era um cavalo selvagem, um lobo da floresta, um esquilo furtivo, a raposa astuta, a coruja e a noite, a mariposa e a folha caída, levando a vida a outros e outros... O movimento, o catavento, o sopro, o relento... era você e todos nós...

Uma valsa cigana - Malinkovec Valzer - Maxmaber Orkestar

Muitas caras na mesma canção - 500 pessoas em 100 segundos

Tic-Tac-Tic-Tac


Maldita bolsa pesada! Ai, como odiava. Mas também não poderia sair na rua sem ela. Como as pessoas conseguem passar sem agenda, caderno, textos, marca página, câmera, livros, escova de dentes, tudo ao alcance da mão? Impossível. E ainda dizem que o impossível não acontece... Pois é. Estava na rua, mas nunca sozinho (lembra da bolsa?), indo para qualquer lugar. Resolver algo. Difícil é não ter nada para fazer. Fosse cobrir alguma matéria, uma reunião, consertar alguma maldita coisa quebrada, sempre em movimento... Dá nos nervos, sabe? Não parar quieto. E quando pára, faz qualquer coisa que o tempo passa tão rápido que parece que não parou... Quando foi a última vez que o tempo passou devagar?... Hmmm... olhando p'rum lado e pr'outro, puxando da memória. Lembro de uma vez que alguém riu porque disse "a última vez que tive tempo livre foi em 2007". O apocalipse bem que poderia chegar logo... aí sim o tempo nasceria novamente, todo o tempo do mundo. O mundo tem muito tempo, ele sim. Inveja... qualquer coisa pra ele e milhões de anos passaram... Ele não... fugir é quase impossível... seria preciso fingir um suicídio para se livrar de tudo e poder, enfim, andar pela praia como se nada esperasse para ser feito... simplesmente livre. A liberdade é irmã do ócio e filha da angústia, sobrinha da ansiedade. Puta ansiedade quando está ociosamente livre, puta angústia quando não se tem tempo para nada. O Zen nos ensina como encontrar o equilíbrio, passar por todas essas bobagens da vida como se estivesse no alto de uma montanha onde reina a paz. É, é lindo de se imaginar... O último presente que ganhei, e diga-se de passagem, um dos mais úteis, e requisitado por mim, foi um relógio despertador. De preferência, e foi o caso, daqueles com dois sininhos no alto que tocam desembestados quando desperta! Barulho infernal! Para ver se acorda cedo da insônia e meter-se na correria de fazer algo de útil. Mas não se lembrou que com ele vinha de brinde aquele barulhinho de relógio, tic-tac-tic-tac infinito. Lembra a infância, aquele imenso relógio de madeira na casa da avó que badalava fantasmagórico à meia noite doze badaladas metálicas e fazia o mesmo tic-tac-tic-tac. Me parece também o relógio do apocalipse, como se o tempo do mundo naquela ampulheta gigante estivesse cada vez mais próximo... me lembra ainda um vídeo do greenpeace que não deixa de ser apocalíptico, mostrando como as florestas tropicais estão sendo motoserradas enquanto a insônica come nossos nervos e como os oceanos estão sendo pescados predatoriamente e o mundo se tornando uma imensa bomba nuclear. 2012 está aí, viva! Enfim, de um lado para o outro, tentando encontrar sentidos e significados para as coisas, ele segue postergando aquela data. Oh, data esquisita, que não sabe se um dia chega ou se de uma hora pra outra, sem ninguém esperar, vai lá e boom! É, aquela data de ir-se, só não sabe se desse mundo ou dessa cidade, país, etc... Sequestrá-las durante a noite, fazer umas malas bem rápidas, e mandar brasa n'uma arrumação estranha de cigano pós-contemporâneo. E talvez viajar um pouco no tempo. Encontrar aquelas partes da terra que estão séculos na frente e aquelas que estão séculos atrás... e vice-versa... investigar. Interessante deve ser viver cada dia tendo que descobrir como descolar o dia seguinte. A liberdade é inimiga da estabilidade. Estabilidade pede muitos sacrifícios e o primeiro é a liberdade... atualmente, a religião da burguesia é a estabilidade... se tornaram socialistas sem saber, todos loucos pelo sonho do emprego pleno, estável, vitalício. O que é mais parecido com mais-do-mesmo o resto da vida? Minhocas e 7 palmos de chão. Putz, melhor morrer, né? E é isso que eles querem... como? O mundo é uma trilha enorme a se percorrer... porque a humanidade não peregrina até descobrir a razão e a emoção da existência? Era uma boa... foda seria o trânsito, com 6 bi de nômades... acho que o mundo parava de rodar, com tanta gente rodando... MAS, logo logo essa gente toda diminuia de quantidade... andando por aí, ter filhos demais não seria uma boa política, acho... É... o calendário zen tá ali na janela. Um dia ele se abre e eu me jogo.

Uma Música - I don't wanna fall in love - She Wants Revenge