quinta-feira, 28 de julho de 2016

Coração de Estrelas


Eu brinco que um dia um cometa vermelho passará novamente em minha órbita. Diferente das tantas estrelas cadentes que riscam meu céu da boca, dos olhos, dos sentidos, que ofuscam a vida de encantos por instantes fugazes e logo desaparecem. Eu me divirto imaginando não algo inteiramente inédito, mas uma possibilidade de alguma forma inspirada em idos vividos que me marcaram inolvidavelmente. Um alguém, uma relação tão intensa que cada pensamento-sentimento esteja carregado de paixão, cada lembrança arrepie os pelos, cada sensação desperte amor intenso e encantamento profundo, admiração sincera e alegria louca, tesão inspiramor e tarado e diálogos sem fim, sabores, calores, perto, junto, profundos. 

Mas como eu sou uma moça prática e pragmática e andada pelos desfiladeiros da vida, essas ficções literárias me divertem, mas não me impregnam, danço e me animo com o estar aqui e agora... Segura de que o fluxo da vida é soberano, a autonomia é frutificante e o cuidar de si e de tudo que cerca já é amor demais!

Fairytale - Milky Chance - desejos e fadas...

domingo, 24 de julho de 2016

corpo ao mar



Corta, solta, lança ao mar, devolve, esquece, abandona, desiste, desfaz, desaparece: O esforço desproporcional de manter-se numa rota que não é um caminho, uma direção que não é um destino, uma atração a um buraco negro.

Com-ciente dos sentidos e sentimentos, sensações e movimentos, utilidades e inutilidades, opto pela conexão mais intensa com o fluxo, me levo ao que me leva e a mim se leva, me enlevo com o que me encanta e comigo se encanta, me dispo do que me arrasta, me liberto do que me desgasta. 

Tudo que foi, valeu. A pena é leve, flutua. Grata pela Vida que se faz, surpreendente, enlouquece e desafia a pisar no chão novamente, a seguir andando, meditando e transando tudo que acontece, se tece e apetece. 

Amadureço, me aqueço, me aceso. Prescindo. Não preciso. Sou mais riso do que agonizo. Aceito. Briso o peito, arejo, deixo entrar o ar, renovar, novos ventos virão, mares quentes e frios, luas e trovões, ilhas e vazios. 

Simples - Banda Fôrra - remando...

domingo, 10 de julho de 2016

Com vôo ser


Encontro-me
no nascer
Perco-me no se pôr
Encontro-me

Perco-me´m
Você

Encontro-me 
no ser
Perco-me 
no estar
Encontro
calor
Perco 
ar

Encontro-me
no enlevo
Perco-me
bem leve

Encontro
caminhos
Perco
medos

Encontro-me
louca
Perco-me
na tua boca

Encontro-me
no teu seio
Perco-me
no teu sexo

Run - Air - trilha de Lila Diz

Sol´tá

Não me leve a sério
Mesmo que eu sempre fale seriamente 
[com aquele brilho nos olhos que pisca e sublima
e indica a piada que se esconde atrás da esquina]

Ignore o possível
Mesmo ouvindo atentamente
O roçar dos meus lábios no teu pescoço
E o rosnar dos meus dentes sobre a camada mais tênue
da tua pele
dos teus pelos
íntimos

Não acredite em nada
Exceto o inevitável
O que urge crer, criar, cravar as unhas 
na concretude emergencial do ser

Minto, em geral,
Fingindo que não explodo permanentemente 
Que não desejo tudo, universo
Que consigo conter-me, resumir-me a mim

O segredo é que eu Nada
Em Tudo nado
Em ti Mergulho
No Aqui respiro
E Agora vivo

Brinco, brincas
Comigo, consigo
Risos, brisas, brasas
Asas, fadas, chamas
Rebolas, decolas, danças
Margens, mares, mundos

Não leve a sério nada
Jogue, tudo é jogo
Presença, atenção, apostos
para ação na hora certa
no lugar certo
certeira
Vida

Tudo é e não é
Tudo pode ser e não ser
Depende de você
(Se) jogar...

Vivo na Maré - Dom La Nena - cirandando 

sábado, 9 de julho de 2016

Despir...tô


Desperto agora. Recobro a sensação mais cotidiana das coisas. Você me causa esse efeito onírico. Bom demais pra ser, impossível, improvável, inviável, provavelmente mentira, provavelmente não. Logo te deixo, logo desperto, me toma essa pré-compreensão de que foi isso, um sonho, foi bom, acabou. Sempre que te deixo... foi intenso, foi inevitável, foi a última ve´Como poderia acontecer novamente? O mesmo raio no mesmo peito? Ou um novo desastre sobrenatural nesse campo aberto para acontecimentos absurdos? Reflito espelhos inquietos, reflexos involuntários, como o ato de pegar algo que cai... me seguro nessa queda... sinto-me aéreo, etéreo, ébrio... dá-me uma ânsia de dentes, marcas, garras... esforço-me para manter qualquer tênue controle dos desejos, (re)presas, prestes a partir... ir... (te) sentir... (te) em mim... Esse agora que partilho contigo... E esse depois que tudo desfaz em nuvem... em chuva... em ponto. Cada encontro um. Cada novo, de novo. E só. A sós.

Silver Cruiser - Röyksoop - tremo e danço

terça-feira, 5 de julho de 2016

Paz´e´Chão



Reflexões, teorias e vivências sobre compreensões afetivas, contatos e relações

Eu poderia me apaixonar por você. Tenho clareza de que o que sinto tem esse potencial. Contudo, hoje tenho uma relação com meus sentimentos de muita consciência e um mínimo de autodeterminação ou ao menos buscado tal estado de ser/estar.

Estabeleci, ao longo dos anos e das teorias e práticas de gestão emocional e sentimental, compreensões e distinções entre os diferentes estados de ser e sentir que contribuem para um convívio mais harmônico e saudável com os diferentes calores e frios que nos habitam.

Hoje procuro distinguir melhor a atração ou distância física, o bem ou mal estar na presença/ausência, a afinidade ou não na conversa, o desejo ou repulsão, o tesão ou o aleatório, as ilusões e intenções, o carinho afetivo/efetivo ou a simples simpatia, a sensação de abandono ou indiferença, a vontade de ver e rever, a abstração fabular de ilusões, o significativo estabelecer de laços, vínculos, considerações e autoresponsabilidades, a dissimulação, a percepção atenta do que de fato acontece, de que tipo de relação se estabelece a partir de ambos os movimentos, meus e teus, até onde eu vou, até onde você vai, onde chegamos e podemos/queremos chegar ou aparentemente/supostamente de fato chegamos.

Tento perceber e compreender profundamente cada um desses elementos. De modo a interpretar os sentidos e gestos, caminhos e emoções, vontades e ânsias e encaminhar os devidos cuidados e gestões, ações e reações, proximidades e distâncias, insistências ou desistências.

Busco me situar nas fases lunares e solares do contato e da relação humana. Entender as diferenças ou distinções entre contato e relação. O que são? O simples aproximar, tocar, de leve, tocar um pouco mais, ainda que por pouco, um chegar inicial, potencial, primeiro sentirentender os desejos, conhecimentos mútuos, trocas e partilhas, movimentos de cuidado e atenção ou a falta ou não manifestação disso tudo... Aprofundado o contato, uma meia dúzia de raízes se firmaram entre os quereres ou estares? Ou o ímpeto inicial de descoberta e exploração desfez-se e virou fumaça?

Em dado momento tem-se a sensação/percepção/compreensão de que já não mais um simples contato, mais uma relação? Relação no sentido/propósito de um convívio mais constante, uma vontade mútua mais dedicada, um cuidado e atenção mais substancial, uma afetividade mais efetiva, um tesão aprimorado, delicado, detalhado, intensificado, o cotidiano partilhado, a rotina acompanhada, o desenrolar dos fatos e ideias e sonhos de alguma forma dividido e dialogado.

Viver e seguir sentindo e jogando, se jogando e se sentindo, se cuidando e se possibilitando, potencializando e respeitando, sonhando e reconhecendo, desiludindo e transcendendo, materializando e realizando, chegando e/ou partindo, querendo ou desistindo, alcançando ou cansando, criando, inventando, esquecendo, curando, loucurando, tesando, dançando, encantando, se encantando, amando, apaixonando, sentindo sempre o chão e o céu, a calma e a chama. 

Elusive - Lianne La Havas - ecoando em mim...

sexta-feira, 1 de julho de 2016

Sê cura


Eu já superei minha loucura por você
Passei por cima dela
Ela agarrou-me por baixo
Demos cambalhotas
Giramos ladeira abaixo
Ela terminou por cima
Imobilizando-me com os seios
Apertados entre os braços


Seus mamilos delicados
Abalaram minha decisão
Meus olhos indefesos
Te comiam sem perdão
Essa loucura safada
Me queria aferrado
Ocupou os meus desejos
E se deitou no meu quarto


Lutamos pela nossa morte
Uma morte de orgasmo
Uma vontade sem prisão
Rindo da ironia
Desta nossa posição
Das graças sacanas da vida
Das tentações suprimidas
Por meses antes da perdição

Essa loucura arisca
Que pensei ter abandonado
Escondeu-se nos meus olhos
Projeções dos teus espasmos
Joga-me na cara tuas formas
Tua dança sem pudor
Traz-me à boca os gostos
Do ventre do teu calor

Agora brinca comigo, rapina
Encanta-me e me agonia
Com dificuldades várias
Segredos, sagrados, sedentos
Que me excitam a calma
E me comem por dentro
 

Afinal, essa loucura me toma
Me dura, me toca, me chama
Me lambe, me aperta, me dana
E eu a quero, verdade, quero muito
Sem medo nem posse, insana.


Ao tremor do Momento/Movimento - Banda Fôrra