sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Há´bundância



Abundância
Multiplicidade
Cumplicidade com o movimento
Dançando no ritmo da maré
Conforme o vento
Sempre atenta
Ativamente sendo
Tudo que é
E o que há para ser
Sente
A vida fluir
Simplesmente
Respira
Tranquila e perseverando
A trilha
Ora desce, ora sobe, ora cansa
Mas a calma restaura
O ar que queima
Também eleva o ânimo
A dor que teima
Também abre caminhos
O que se perde
Faz mais leve
O que se leva
É o que nos levanta vôo
Vou
Até onde puder chegar
Semeando
A Vida que em mim brota.

A Nave Vai - Céu - para voar

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Manifesto das Relações Sinceras



Na busca incessante por relações emancipadoras, que contribuam com as pessoas envolvidas em suas realizações pessoais, individuais e coletivas, que estimulem suas autonomias e autoconhecimentos, que acolham e aqueçam, na medida das intenções e interesses, desejos e vontades, gravidades e espaços pessoais, na busca dos respeitos e reconhecimentos mais profundos pela outra pessoa, sem invadir, sem impor, sem enganar a outra e a si mesma, reflete-se e caminha-se na prática da Sinceridade.

O que significa a sinceridade e qual a importância/necessidade dela, seu lugar e dinâmica nos incessantes processos das relações humana?

Primeiro vale ressaltar que sinceridade não necessariamente, ou até de forma nenhuma, se relaciona com a Verdade, no sentido de algo único e absoluto, preciso e inquestionável. Entendo que como a própria vida, tudo, em especial nossas seres, sentimentos e movimentos são dinâmicos, impermanentes, passíveis e mesmo impregnados de contradições, complexidades obscuras, loucuras, inconscientes, problemáticas, insurgências e possibilidades. Diante de tamanha imprecisão, em se tratar de Sinceridade, creio não caber falar-se de Verdades, mas de expressões profundas, cuidadosas e atenciosas, íntimas, corajosas a expor nossas vulnerabilidades e erros, confusões e mudanças.

O conceito e a prática da Sinceridade, sintopenso, relaciona-se intensamente com nosso autoconhecimento, auto-observação e autoaceitação de nossos movimentos, processos, medos, desejos, sonhos, traumas, dúvidas, fraquezas, ânsias, vontades, feridas, entre outros elementos/sentimentos/acontecimentos íntimos, internos, conscientes e inconscientes, visíveis e invisíveis, compreensíveis e incompreensíveis (ao menos por hora). Uma busca incessante de perceber-se e ser-se o mais fielmente possível às nossas mais intensas e profundas aspirações, características circunstanciais, necessidades e sentimentos, sonhos e causas.

A partir desta autoSinceridade, passamos para a questão da mediação/comunicação entre esse íntimo/interior/eu/pessoal e quem e o quê nos cerca. Como expressar também da forma mais fiel tudo o que descobrimos sobre nós, que assumimos e escolhemos, queremos e buscamos? Vale ressaltar que o processo da mediação/comunicação passa também pelo conhecimento profundo, atento e cuidadoso da outra pessoa, que tem, igualmente, suas inúmeras características circunstanciais, históricos, modos de ser e estar, dificuldades e limitações, necessidades e sentimentos.

Existem infinitas formas de expressar qualquer coisa, do sentimento mais simples de vontade de algo, uma comida, uma ação, um resultado, até uma angústia complexa resultante de inúmeros fatores, gestos e repercussões. Nosso corpo, olhos, mãos, cheiros, roupas, cabelos, palavras, mídias – textos, imagens, sons, músicas, artes, etc, entre tantas linguagens que já inventamos e ainda iremos inventar. Cada pessoa relaciona-se e estabelece conexões diferentes a partir de diferentes linguagens. Algumas escutam melhor quando se canta/cantam, outras assimilam melhor quando veem, outras dizem mais quando dançam ou escrevem.

Uma expressão que julgamos a melhor para “dizer” o que queremos pode não ser a melhor para tal pessoa nos “entender”. Precisamos buscar outras formas, assim como a outra pessoa também precisa/poderia se dispor a ir além das próprias barreiras, transcendendo-as no caminho desse “encontro” de Sinceridades.

E mais do que tudo, Sinceridade demanda Coragem. Coragem é algo como aceitar nossos medos, nossas limitações, nossas fraquezas e ir assim mesmo, assumindo-se como seres em transformação, crescimento e realização, sujeitas de complexidades e profundidades sem fim, inacabadas e sendo sempre mais. Aceitar e entendersentir que tudo é mudança, e consequentemente nada é fixo e impossível de superar, nenhum medo, fraqueza ou erro. E diante disso, sentir-se capaz de ir além, de expor-se, de mostrar-se assim, frágil, mas forte, com medos, mas ciente deles e disposto a encará-los e superá-los, falível, mas capaz de aprender e fazer diferente.

Dizer o que queremos/precisamos dizer. Expressar o que somos/queremos ser. Transformar o que sonhamos e desejamos. Aceitar quem fomos e quem estamos sendo. Aceitar/ouvir/cuidar atentamente d/a/s pessoa/s com quem nos relacionamos ou queremos/viermos a nos relacionar. Se gosto, dizer gosto. Se não gosto, dizer não gosto. Buscando a melhor forma de expressar/comunicar e entendendo que podemos não chegar a esta melhor forma, mas tentar e tentar novamente. Sempre. E mais.

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Energias Vitais - modos de Ser e Estar



Mudanças. Perspectivas. Modos de Ver, Ser e Estar no Mundo, lidar consigo e com o mundo, com os movimentos e pontos de vista vários, reações e ações, emoções e comoções, dramas e comédias, lágrimas e dádivas, retornos e transtornos, vazios e frios, calores e odores. Esta Vida, complexa, inquieta, inconstante, desafiante, em ciclos variáveis, ora perceptíveis, ora imprecisos, insistentes, esta Vida, cuja realização se dá por nosso mover-se nela, sê-la, insPirá-la e transPirá-la, expressar, cuidar, direcionar, crescer, cultivar, gerir nossa energia vital, essa chama intensa que nos define Vivos.

Viver demanda um modo. Vivemos como? Por quê? De que forma e para onde? Ainda que estas respostas sejam variáveis, em constante transformação e aprimoramento, redescobrindo e confrontando-as com as realidades concretas com que nos deparamos, validando-as ou não na medida em esse modo de viver nos pareça melhor ou pior para garantir nossa máxima, plena, intensa e integral realização vital, ainda assim, precisamos criar/inventar/encontrar/descobrir/testar/experimentar essas respostas, atualizando-as constantemente, a todo instante.

Hoje, em meus séculos de vida, minhas tantas idas, partidas, chegadas e derrotas, conquistas e despedidas, feridas e memórias, cheguei a uma Práxis de Vida que chamo de Gestão Autônoma das Energias Vitais e Emocionais.

Entendo, como dito, que a Vida se manifesta em nós nesta possibilidade de viver e neste ímpeto de viver que entendo ser nossa Energia Vital. Queremos viver, algo nos faz viver, algo queima dentro da gente, nos move, nos põe em direções várias, nos desafia a ir além. Contudo, esta energia tem limitações e possibilidades que precisam ser geridas. Não podemos fazer tudo que queremos ao mesmo tempo, não conseguimos sentir tudo já, não damos conta da infinitude da Vida que em nós se materializa nesta individualidade. Uma individualidade é, por definição, uma parte, um recorte, uma centelha desse Universo. Por mais que, no final das contas, sejamos Tudo e façamos parte de Tudo, a condição de indivíduas nos desafia a viver essa circunstância, lidar com ela, aprender com essa limitação, expandir e transgredir até essa limitação, transcendendo, nos (re)conectando com o Todo e com Tudo de inúmeras formas.

Mas, entendendo que nossa condição nos coloca limitações, faço a seguinte metáfora. Me imagino, esse ser/corpo que estou sendo, como uma Casa. E a Energia Vital, que também chamarei de Calor, é essa chama que mantém a Casa aquecida, capaz de realizar-se, pois energizada, forte, potente (capaz de realizar seus potenciais). Porém, essa realização demanda que empreguemos nossa energia externamente, no entorno, da Vida que nos cerca. E cada gesto, ação, direção que tomamos, é como uma janela que se abre e para onde flui certas quantidades de Energia Vital. E diversas experiências e retornos de outras energias vitais, de outras pessoas, permitem também a entrada e alimentação de nossa Energia Vital. Daí a necessidade de entendermos e mediarmos esses fluxos de entrada e saída, de troca, de ciclos, de cultivos, de desgastes, de perdas.

Se investimos demasiado Calor em algo que, por diversas razões, não nos retorna Calor, podemos correr o risco de esfriar nosso interior, nos enfraquecer, fragilizar, debilitar. Mas se direcionamos nosso Calor para destinos que, seja por relações interpessoais que nos retornem Calor, seja por produzir emoções geradoras de Calor, então podemos manter um equilíbrio de nossa Energia Vital, crescendo-a, fortalecendo-a, permitindo-nos mais energia para mais ações/sensações/emoções/realizações.

Importante refletir sobre as emoções. Nesta metáfora da Casa e da Energia Vital-Calor, as emoções/sensações são elementos que podem produzir ou dispersar nosso Calor. De um lado estão as emoções/sensações expansoras, criadoras, geradoras, movimentadoras e animadoras de Calor, a Alegria, a Satisfação, o Prazer, o Amor, o Acolhimento, o Reconhecimento por outras seres, a Conexão, o Aprofundamento, a Diversão, o Carinho. E do outro lado, estão as emoções/sensações que nos retraem, fragilizam, aquietam, desanimam, recolhem. A Tristeza, Melancolia, o Isolamento, a Solidão, a Desconexão, a Superficialidade, o Desafeto, o Ódio, o Rancor, a Frustração, o Medo, a Dor.

Não se trata de um lado certo e outro errado. Não se pode apenas crescer nossa energia vital, sem gerar prejuízos e destruições desnecessários pelo excesso, nem tampouco retrairmos, diminuir ou enfraquecer nosso calor, chegando a uma estagnação, imobilidade, depressão. É preciso vivenciar ambos os movimentos, cuidando deles, cuidando de si, de modo a garantir a melhor relação possível entre nossos Calores e Frios, de modo a realizarmos calorosamente tudo que quisermos, nossos sonhos, loucuras, possibilidades de expressão, de desejo, de inovação e transformação, como também termos o tempo e a tranquilidade, mais fria, de refletir sobre tudo isso, avaliar, aprofundar nossas consciências de tudo que estamos sendo, tudo que nos cerca, onde estamos e para onde vamos, nos conhecermos e nos cuidarmos.

Diante destas compreensões e em busca desta gestão, existem inúmeros mecanismos e métodos, técnicas e místicas que nos permitem navegar esse navio, essas velas, esses mares e ventos todos. Pessoais, mas também exemplares, cada um descobrindo e inventando os seus, mas também partilhando e inspirando as demais pessoas em seus processos.

Em minha caminhada pela Vida, tenho descoberto e aplicado vários. Para ampliar e potencializar ao máximo e da melhor maneira nossos calores, buscando-os fazer-lhes abundantes, acolhedores, cuidadosos, atenciosos, intensos, mas considerando as possibilidades, vontades e condições da outra pessoa e/ou de tudo que cerca, venho buscando fazer de todo contato/relação que estabeleço, quer dure 5 minutos ou 5 anos, quer seja constante ou aleatório, que todo contato/relação seja o mais profundo, emancipador, atento, escutador, partilhador, inspirador, engrandecedor e significativo para todas as partes. Buscando cultivar e praticar esta abundância, gratuidade, escuta ativa e comunicação significativa, não-violenta, esse movimento libertador, incentivando e inspirando a autonomia de todas as envolvidas.

Para lidar com os movimentos frios, os invernos e desertos gelados, as mágoas, as dores e desfiladeiros, os isolamentos e restrições afetivas, gestuais, sexuais, busco olhar com atenção para esses movimentos, aprendendo com eles, mas também conectando-os com as demais dimensões da vida que estiverem mais floridas, mais quentes, de modo a me aquecer internamente, independente de fontes externas de calor. Algumas circunstâncias são mais duras e demandam ações mais energéticas de cuidado que envolvem o Esquecimento Provocado, o Ódio Cauterizador, o AutoRetiro, a Reversão de Fluxos Desgastantes, o CicatriPerdão, entre outras ações/reações.

E em todos esses processos, sempre cultivar a Resiliência, nos fazer/praticar resilientes. Nossa capacidade de restaurar nossa melhor condição possível de ser e estar, nosso movimento mais fluído, conectado com a Vida, nossa Energia Vital mais intensa e radiante. Diante das adversidades, vivê-las, lidar com elas, sofrê-las, até, mas o mínimo possível. 

Dona Menina - Phill Veras - tempo para estancar...