segunda-feira, 24 de março de 2014

Diante


Te amo. Todo mar do mundo para esse voar, flutuando mãos unidas diante do céu infinito entre abraços pôr-do-sol. Dançando corpos unidos diante da voz dEla voz que inspira amor carinho e paz. Soninho ombros nus aquecida por minhas pernas e edredom e carinhos sem fim sem fim do comecinho das costas até o alto da nuca, do início dos pés até o rodopio dos cabelos, teu dormir diante dos meus olhos. Pernas longas esticadas flexíveis nas minhas mãos, na minha vida, na minha alucinação de ti em partituras amorosas e quentes. Segredos compartilhados sentidos e vividos que nos tornam tão próximos tão confidentes entregues nesse impossível absurdo desconhecido desconhecida que te conheço que me conhece com toda entrega que existe. Veneno e cura, alegria e querer, ai meu deus, todos os deuses observam e dão graças, todas as mágicas se uniram e nos uniram, e minha vida se transforma ao me compartilhar pra ti e tudo se transforma em olhos brilhantes e cheiros e dentes e lábios mais intensos que o sol. Repentinamente corpos vibram e pulam e flutuam e agitam atmosferas e planetas com uma tremenda gravidade que atrai tudo que é bonito. Te ouvir me faz amor, e eu não quero saber se é cedo ou tarde para dizer amor. As palavras são uma orgia de letras insanas que ousam significar mundos e explosões indescritíveis. Explodindo palavras para expressar o que corpo, os olhos e o gesto do ser gritam! E pula da minha garganta em órbita celeste toda poesia de amor para encantar e embelezar a ti e ao teu redor. Ainda há tanto para contar. Minha vida inteira há para te apertar junto do meu corpo. Minha vida inteira aqui e agora, inteiramente, todo e tudo que sou e sigo sendo, para te apertar junto do meu corpo, suspirando, transpirando, transcendendo... Extasiante, euforizante, apaixonante...

Dos Pés - Bárbara Eugênia e Tatá Aeroplano -ondulando e amareando

segunda-feira, 17 de março de 2014

improviso


Brincando com o desconhecido
resolvi deixar o medo de lado
me arrependi da primeira vez que não fui até você
diante de ti novamente, coração atropelando mente
largo o freio, seguro sua mão
que o que eu quero é me jogar
na possibilidade desse sorriso encaracolado
e nada importa o que quer que aconteça
tudo que for está dando certo
está dançando no ritmo impossível da música que toca
entre os nossos imprevisíveis olhos encontrados
entre esse invisível laço, a impossível chance
de nos querermos tanto assim ao mesmo tempo
sem nem nos conhecermos
pelo simples existir um diante du´outro

Brincando com o desconhecido

partindo nesse caminho de brisa e abraço
saboreando as histórias todas por contar
ouvindo as inevitáveis partilhas sem pensar
deixando acontecer esse mistério nosso
esse corpo pele presença fogo
esse delírio acordado perto chega
vem comigo quero te mostrar quem estou
sendo mais muito mais contigo

Barely Legal - Strokes - ritmo da escrita desse texto

domingo, 16 de março de 2014

Amar ir


Sabor amargo. Calma. Gole suave, sem desespero, sem ânsia, sem necessidade de mais. Xícara negra, ausência de cores, atento e quieto, movimentando-se em repouso, sorvendo a efusão de plantas que desconhecem o doce, que desconhecem o excesso, o apego, o desespero. É prazeroso? É bom. Faz sentir bem, abrindo o paladar que conhece a sedução, para perceber o próprio, que não tenta trazer, que não conquista, que simplesmente tem o sabor que tem, amargo, sem tentar fazer-se outro, sem fingir-se doce, sem iludir, sem entorpecer. Ser, simplesmente, emanando o sabor que a vida tem, percebendo os vários lugares do sentir, as diversas profundidades do querer, os inúmeros caminhos do estar só e com o outro... como beber chá sem açúcar...

To Baby - Vetiver - para saborear...

terça-feira, 11 de março de 2014

Há mor

O amor fez meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor fez minha idade, minha genealogia, meu endereço. O amor escreveu meus cartões de visita. O amor veio e assinou em todos os papéis onde eu escrevera meu nome.
 

O amor teceu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor desnudou metros e metros de pele em brasa. O amor ampliou a medida de meus tempos, a distância de meus passos, o tamanho de meus sonhos. O amor mudou minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.

O amor receita meus remédios, minhas curas, minhas dietas. Receitou mais euforias, maresias e partilha de energias. Receitou também muita loucura e manter-me molhado, para não desidratar.

O amor pôs na estante todos os meus livros de poesia. Narrou em meus livros de prosa as citações em verso. Inventou no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.

Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: anéis, instrumentos musicais, temperos, marca páginas, estiletes. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios e saltitantes, o rock pulado no banheiro, o edredom que cobre minhas pernas que mais parecem uma caldeira.

O amor se fez em frutas postas sobre a mesa. Inundou a água dos copos e das gargantas. Melou o pão de propósito de doce de leite. Bebeu as lágrimas dos olhos de tanto rir.

O amor refez minha infância, de dedos ágeis para brincar, cabelo curto de riso, pés descalços para correr. O amor desfez o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Plantou as conversas, junto ao balanço do parque, com os/as amigo/as que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre o amor, sobre o sexo dos anjos.

O amor rebelou-se contra o Estado e a cidade. Fertilizou a água viva dos mangues, contradisse a maré. Lambeu os mangues crespos e de folhas puras, mordiscou o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pela jangada branca, pelas velas e remos. Bebeu o cheiro de caldo de cana e o cheiro de maresia. Engoliu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso.

O amor revelou até os dias ainda não anunciados nas estrelas. Perdurou os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão desenhavam. Desgrenhou o futuro grande poeta, o futuro grande vadio. Viveu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.

O amor transou minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Gozou meu silêncio, minha dor no peito, meu medo da morte.


Versão do poema Os Três Mal Amados, de João Cabral de Melo Neto.

Andes


Te sinto tanta... te sinto muito... Ainda que tão caminhos desencontrados, nosso sentir encontra... tu me ensinas a estar perto, a andar aos poucos, a viver cada pequeno gesto... tu me ensinas e eu aprendo, aprendo com cuidado, aprendo com delicadeza, porque mereces a suavidade que teu olhar transmite, repleta de mistério e castanho...

Você não se mostra. Esconde-se nas cordilheiras acalentadoras do abraço. Você provoca saudade. E segue tão própria de si mesma. Eu desconfio. Você me desfia. Brincas comigo, faz-me de divertimento ou guardas o melhor para mais tarde? Sou seu novelo de lã e tu pele macia. 

Pequenas mortes teus lábios... o mundo encerra-se ao encontro deles, pois precisa nascer de novo... 
Pequena euforia teu jeito... eu encontro um lugar sagrado onde me deito...

menina do sorriso


Olho-te como se olha para o céu estrelado, cintilando, sentindo-se infinito, sentindo-se diminuto...olho-te como se olha para o vento dançando com o mundo, com todas as folhas e todas as flores e lançando todos os perfumes lascivamente no ar... 

Olho-te como quem dança contigo, porque teu dançar é tão lindo de ser e estar, de ver e sentir, de acompanhar e dançar junto, perto ou longe, que meus olhos dançam ao te ver, um dançar florescente, fumegante, chamuscante...

Olho-te... até chegar em ti, tanto, tão perto que posso fechar os olhos e te ver assim...

Vejo em teu olhar - Móveis Coloniais de Acaju - para dançar com os olhos

quinta-feira, 6 de março de 2014

Só-s


Sinto falta. De mim. Falta de estar só. Falta de ser-me todo, de ser todo meu, de ser comigo em tudo. Satisfaço essa falta em mim. Sendo, reentrando, reentrâncias. Nunca só, porque estar só não é mais um isolamento. Sempre só, porque estar só não é sentir falta de alguém. A cama é grande. Chamam-na "de casal". Não mais. Não se deitam casais ali, não existem mais casais. A cama é ampla, é espaçosa, porque existe para receber, para acolher, para encontrar, descobrir. E ir. Partir. A partida não significa um fim. Também não existem fins. O fim também é uma certeza e nada é certo. Esta cama hoje só conhece a incerteza, a possibilidade, a tentativa, o acerto e o erro. Estou ainda me acostumando. É uma questão de costume. Tornou-se verdadeiro, tornou-se inevitável. Agora precisa sedimentar-se no cotidiano. Ainda é algo novo, estranho, por mais que não consiga ser de outra maneira. Ainda percebo que é diferente do que era. Até não perceber mais, até ser simplesmente... o que é. Eu e o outro, a outra. Eu e todos, todas. Que estiverem perto... ou longe. Que quiserem contribuir e compartilhar. Viver junto, sem desfazer-se de si. Somando com tudo e todos ao redor, sem subtrair-se.

Divorce Papers - Arcade Fire - Trilha sonora de Her - para alegrar-se

segunda-feira, 3 de março de 2014

"Ditos Diários" VIII

Sábado, 23:23

Deixa eu te dizer uma coisa absurda, quero te conhecer. Penacho multicolorido bailando na tua cabeça, saia preta brilhante, blusa branca semitransparente, sapatos de mocassim fazendo faíscas ao dançar, cabelos cacheados pretos levemente presos, levemente soltos. Abro e fecho os olhos, possuído pela loucura da dança, tomado em movimentos tantos, que me levam e trazem para mundos vários, e nesses flashes, reflexos e rupturas de universos, te vejo, te encontro, teus olhos nos meus, sorrindo sabe-se lá pra quem, pra mim? olhando para o infinito em que me encontro... A música tão forte, transpira ritmos nos ossos, transporta gingas nas veias, e eu e você nos olhamos, apenas, nos vemos, nos esquecemos de tudo ao redor, a não ser a dança e o outro. E passam-se horas que nunca deveriam ter chegado ao fim, que aquela conversa estava boa demais, todos os papos de tuas pálpebras, todas as graças de teus sorissos, as histórias dos teus olhos... Mas findou-se, afinal, os sons... e irrompeu-se o silêncio ponte ou precipício... suspenso, equilibrando-se para não cair... e ninguém sabe o que aconteceu, como, o que veio primeiro, o que aconteceu depois, mas nos falamos, apenas para nos conhecer... a conversa estava tão boa, que não deveria terminar, morena, vamos conversar mais? ei, menino, que passou a dança inteira me olhando, você é um doido ou apenas gostou do que viu/sentiu? e caminhamos, nos desvencilhando de pessoas e passos, buscando um lugar só para mais conversar, com olhos, palavras, sensações ou... ruas escuras a frente, árvores fantasmagóricas acima, calçadas de terra e eras, luzes distantes e amarelas, chegamos àquele lugar imenso, pista de bicicletas de terra, tão grande que longe das fronteiras... e no meio, um simples e impossível sofá amarelo, reluzindo ante a possibilidade de nos receber para conversar... e sem saber o que mais dizer, sem saber por onde começar ou sequer porque começar, de repente já estávamos no meio da conversa e nos finalmentes, que dispensam apresentações e prefácios, pois esse papo já chegou até o pescoço, até o canto da orelha, passou pelas mãos e braços, perdeu-se nas pernas, nos pés tocando-se e encontrou-se nas bocas e nos olhos fechados e videntes, nas histórias que a pele só conta quando enfeitiçada... 

Por aí - Bárbara Eugênia - balançando