segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Dedilhando no ar


Foram horas de saudade preenchidas com choros musicais... Uma emoção afinada nas cordas do violão, melodia tímida, vagante, crescente, como alguém que olha admirado para uma grandeza, uma beleza, uma sensação de graça, de completude, de amplitude, de euforia... e meus dedos se agitavam, queriam fazer parte da música, queriam produzi-la, sê-la, tanto quanto a podiam sentir. Meu corpo tremia inteiro de emoção, encoberto pelas vibrações que reverberavam no casulo metálico do veículo. Como meu sentimento tinha se transfigurado naquela música? E o nome era justamente Preludio de Saudade.




(La Catedral - I parte - Preludio Saudade - Agustin Barrios)

(La Catedral - I, II e II partes - Agustin Barrios)

"Os outros passarão, nós passarinho" (liberdade poética)


Creio-me "ser" excessivamente. E talvez aí esteja indo pelo caminho errado, buscando ver de olhos fechados. Olharei agora com claridade o que em mim é inegável.

O que eu 'não' sou.


Eu não sou...
.............insensível (?)
.......................(excitando pensamentos)

Insensibilidade é uma morte que ainda não cometi completamente. Rezo mesmo nunca chegar lá, por mais que já tenha conhecido a porta estreita e asfixiante da fuga pela insensibilidade. Todas essas toscas saídas que fechei (abrindo-as) em mim, agora esforço-me para transformar em janelas, estantes para livros, quadros para pinturas, folhas para poesias, estremecimentos da espinha. Não sentir é não viver. E eu amo demais para não querer viver. E eu vivo demais porque estou a te amar.


Eu não sou...
....................paciente (?)

Confesso que confundiu-me reconhecer tal coisa, pois, aparentemente eu sou sim uma pessoa paciente. Mas me vi forçado a dizer. Ficar esperando é difícil e angustia-me. Para sobreviver, eu ocupo cada instante de mim com algo que me faça ignorar a espera e por isso nunca estou longe de um livro ou um bom pensamento que me distraia ou ainda uma lembrança extasiante. Tenho planos tão longínquos. Convicção séria de meu futuro, muitos anos pela frente! Mas não me preocupo com isso, vivo calmamente cada dia, atormentado pelo excesso de atividades que criei para não ficar esperando. Já escrevi "às vezes eu acho que a vida é uma espera". Eu não consigo esperar.


Eu não sou...
....................mentiroso (?)

Sempre tive esse defeito! (riso). Tenho a necessidade vital de confiar em mim mesmo e, para tanto, é preciso ser sincero. É preciso ser transparente, verdadeiro. Porém, posso dizer a verdade, mas não sem dificuldade. Certas coisas podemos simplesmente jogar, dizendo rapidamente e lidar com os resultados, sejam quais forem. Porém há na alma algums fatos e sentimentos que não podem ser ditos tais quais são em pensamentos, simplesmente porque não, são profundos demais e seus ecos não alcançam o fim da boca! Mas, ainda assim, precisam ser ditos (e alguns já o foram pela primeira vez). O que faço? Aprendi a dizer sem dizer. Digo e satisfaço minha necessidade, mas ao mesmo tempo, sei que foi dito de maneira obscura o suficiente para resguardar-me. É meu último refúgio. Quando eu te disser tudo de maneira totalmetne clara, por Deus, tenho até medo. (riso). Desculpo-me a mim mesmo afirmando que desta forma tudo fica mais interessante. O enigma que solto, as adivinhações, as imagens metafóricas alimentam a imaginação, constroem mundos de fantasia que, paralelos à verdade, acabam por revelar pedaços escondidos que eu sequer imaginei expor. Bem, não consigo mentir. (Eu te amo!)


Eu não sou...
.....................disciplinado (!)

Nossa! Será que serei um dia? Quando tinha dezessete anos quis ir para o exército por dois motivos, primeiro, queria aprender a defender-me com mais severidade, ou seja, despertar a violência (queria poder fazer algo concreto em situações de ameaça - e achei que lá poderia aprender) e também queria desprender-me de todas as frescuras materiais e adquirir disciplina! Graças a Deus fui salvo belo gongo! Consegui safar-me, porém continuo indisciplinado. Acordar, agir, fazer o necessário. Faço bastante, porém sei que várias vezes simplesmente não faço porque não quero. Falto sem grande pesar, não dedico-me inteiramente. Lógico que se o fizesse, não sobraria nada de mim para mim mesmo, mas... às vezes sinto que deveria. Porém, sempre tenho algo que me consola e me dá tranquilidade - coloquei data já para o momento final de minha indisciplina - quando sair da zona de conforto mor que é a casa materna e estiver andando com minhas pernas todos os passos, não terei outra escolha, terei que dormir, fazer e agir com disciplina. (Ou não!) Talvez seja ai mesmo a derrocada quando não dormirei mais nem farei nada além de ficar deitado, esparramado nos teus braços...


Eu não sou...
...................obediente (!)

(E ela rirá ao ler isso!) Dê a uma frase uma leve sensação de ordem e eu sentirei meu corpo enrigecer-se. Poderei até fazer, sabendo que o tom é de brincadeira, mas farei uma birrinha, também brincando. Ordens são agressões terríveis para minha alma. Eu não preciso de "por favor" ou formalidades em pedidos, apenas transmita na voz o benigno tom de pedido, de igualdade, de fraternidade. Ache-se superior e negar-me-ei. A menos, é claro, que seja impossível ou que seja mesmo mais interessante fazer, mas ainda, haverá resistência. Independência, autodeterminação, autonomia, decisão, responsabilidade, direito de escolha, livre arbítrio. Não consigo viver sem, não consigo ser marionete, não consigo "não escolher". Talvez porque me é totalmente irracional obedecer. Obedecer é não-pensar e eu já disse, ainda não aprendi a não-pensar. E quando aprender, não será para este fim! Só faço se fizer sentido ou se for um pedido! Escravo do sentido! O amor, por exemplo, dá sentido a tudo (quase). Enfim, ninguém tente me dar ordens.


Eu não sou...
......................frio (!)

Poderia conectar-me a uma caldeira e ser a lenha! Às vezes eu chego próximo da combustão espontânea. Mas, além desse aspecto físico (que não é brincadeira), eu tenho certo vício por calor humano, manifestado em forma de carinho. Sempre me faço a pergunta - Por que deixar minhas mãos paradas sobre meu corpo, quando poderia tê-las acariciando meu amor? Ou algo assim. É, carinho é uma centelha fundamental da "melhor coisa do mundo". E quando se está perto de alguém que se quer muito bem, qualquer distância parece simplesmente estúpida! As pessoas deviam estar mais próximas umas das outras. Muitas frustrações, depressões ou simples tristezas não existiriam se em momentos assim alguém que gostamos se aproximasse e nos fizesse carinho. Seria infantilidade? Bem, desde criança eu adquiri esse vício e espero mesmo nunca perdê-lo. Há coisas maravilhosas na infância que devemos preservar. A denominação "infantil" sempre soa negativa aos olhos dos mais velhos, mas isso porque eles perderam toda a magia de viver e ver a vida como vê uma criança - sem as mazelas e sujeiras espirituais. Gestos fáceis e sem prejuízos como dar as mãos, os cabelos, olhar nos olhos, um abraço! Salva uma alma. Das atitudes presentes nas relações humanas, o carinho é a mais divina e majestosa, sempre achei. Mais do que dialogar, refletir, planejar, sonhar, antes de tudo, encontremo-nos uns aos outros. Sinta que na gélida sociedade, existe calor humano. Que na vaguidão do coletivo, existem pessoas reais com quem podemos ser nós mesmos e fazer um mundo melhor, a medida que sintamos a humanidade que existe em cada um. Carinho.


Eu não sou...
...................infalível (!)

Digo isso porque, em alguns aspectos, achei mesmo que eu fosse. Porém, como sempre, era mera presunção minha. Eu tinha confianças demais e acreditava em coisas que mostraram-se inexistentes. Graças à providência, sobrevivi e estou vivendo. Pela segunda vez presenciei a demolição de parte significativa de minhas crenças (as individuais, não as coletivas) e me vi desamparado. Novamente fui reerguendo a minha forma de agir, com as inseguranças e medos daquele que se sente andando por um chão quebradiço e escorregadio, pantanoso. Mas, a medida que caminhava, minhas mãos se encontravam mais e mais com outras mãos que me permitiram (estão me permitindo) ser verdadeiramente e 'reescrever' as verdades que se mostraram frágeis. Sinto-me tão bem agarrado a essas mãos, entregue à essa pessoa. E meus erros vão desvendando meus mistérios, como pistas desagradáveis mas que me levam a mim mesmo. Reconhecer que errar (e não os errinhos bobos do dia a dia, mas erros que causam dores profundas), ou melhor, causar dor, às vezes é inevitável. Eu sinto muito pela dor que causei, muito mesmo. E ainda é cedo para saber todas as repercussões, principalmente as positivas, já que "tudo acontece da melhor maneira possível", porém, isso me deu uma humildade interior que não existia. Eu realmente tinha um julgamento muito severo baseado neste alto referencial que fazia de mim mesmo, esta moral supostamente inquebrável. Parece que descobri (um pouco mais) a humanidade. Mas no fim, "amar é tudo o que importa".


Eu não sou...
................invulnerável (!)

É também parte da "melhor coisa do mundo"! Essa característica é muito parecida com a primeira que escrevi, porque para alguém ser supostamente 'invulnerável', ela precisa obrigatoriamente ser 'insensível' e se tornar incapaz de sentimentos verdadeiros e profundos. Porque sentimentos são "fraquezas" sob o ponto de vista dos invulneráveis. Quando nós nos deixamos sentir, ficamos abertos inclusive para sentir dor. Bastante. Mas é algo que precisamos estar dispostos. A dor é crucial. Sem dor, não há felicidade ou amor ou prazer ou cor e vida, não há. E lógico que não existe ninguém que nunca sofreu, mas, há os que tendo sofrido uma ou algumas vezes, dedidem por se fecharem de tal forma que fiquem "protegidos" contra a dor. Mas assim eles ficam "protegidos" de tudo, de ir além da estática que são atualmente, atravessar as barreiras e aprender coisas novas, novas formas de ser e viver. Quanto mais vulneráveis estivermos, mais gravemente poderemos nos transformar e nos conhecer, mais intensamente se moldará nossa vida segundo nosso verdadeiro 'eu'. E vai doer. E nem mesmo acho que seja bom gostar da dor - acostumar-se a ela -, mas poder sentir na dor o bem que existe e sentir no peito o destemor. Porque só se não tivermos medo do desconhecido (no sentido de sentimento que paraliza, e não aquele medo que nos faz ter cuidado, mas sem impedir-nos de ousar), poderemos nos aproximar da luz que existe em nossas almas e no universo.

E por fim...


Eu não sou
................uma pessoa calada, que guarda só para si seus pensamentos.

Acho que não preciso explicar porque. Expressar é viver!

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

olhares


Sou bipolar no relâmpago dos segundos (e dos sentidos).


(já perceberam quantos "sou..." já escrevi?) - Eu sou mesmo muitas coisas ou fico fingindo muitos eus?

Não, eu não sei fingir - eu te amo.



(Estudo Nº V - Fernando Sor - nos meus dedos)

No fundo


Nas viagens cotidianas há um lugar cativo para mim. Sento-me lá, naquele canto de paredes cinzas, uma janela do lado esquerdo, um rasgo no banco igualmente cinza com detalhes amarelos. O canto da parede é arredondada, proporcionando uma sensação de aconchego. A fresta para o exterior deixa entrar uma brisa noturna e o banco da frente está repleto de rabiscos adolescentes. Atrás de mim não há ninguém, fico meio escondido de todos, isolado e compenetrado. Os trajetos noturnos de volta para o descanso são repletos de pensamentos... penso sobre o dia, ligo para ela e pergunto tudo que me ocorre, combatendo o silêncio que às vezes tenta apoderar-se de nós. Silêncio ao telefone não é agradável, pois o aparelho não possui calor humano que ocupe os sentidos. Quando enfim digo tudo sem ser perguntado e questiono os mínimos detalhes de seu dia, sinto apertar um pouco mais a minha vontade de estar com ela e deixo-a ir, voltar para o que estava fazendo, enquanto continuo trepidando naquela locomotiva quadricíclica. Nunca vi nada para tremer tanto! O fóssil tapete pela rua pode estar o mais liso possível e ainda assim aquele animal metálico esperneia e saltita. Por mais que eu tente ler, é uma tarefa desagradável e apreciar o caminho acaba sendo a única possibilidade. Há muito tempo ocorria de aparecer alguém para conversar. Lembro-me de uma menina que contava-me que era louca por explosivos, fazia geologia e já tinha ido no Atol das Rocas. A pedi insistentemente que me levasse da próxima vez - sempre quis conhecer aquelas ilhas proibidas. Ela foi no mesmo barco no qual eu sonho navegar e que, se tudo der certo, irei velejar até o arquipélago dos golfinhos - eu e meu amor. Chegamos também a planejar alguns atentados, espetáculos pirotécnicos ao modo do vingativo V. A cidade é mesmo pequena e ao mesmo tempo muito grande. O que eu conheço desse labirinto urbano? Quantas dezenas de bairros eu nunca pisei o pé? A maior porção dessa pólis eu visito muito raramente, do outro lado de uma passagem quebradiça de nome indígena. Toda vez que conheço uma nova rua sinto-me maravilhado com as novidades. Há bairros tão peculiares! Quem sabe, quando estiver motorizado, poderei percorrer cada centímetro desse chão. Toda vez que for visitar meu amor, irei por um caminho diferente, só pelo prazer de explorar. Outra curiosidade é conhecer aonde terminam as incontáveis linhas de transportes coletivos. Entrar nesses trilhos velozes e alcançar suas extremidades, sentir o que há na ponta dos dedos. Farei antes de ir para nunca mais voltar, tenho que prometer-me isso. Quando chego, finalmente, da ligeira viagem diária, caminho pelas ruas observando as lâmpadas incandescentes, lembrando dela.


(Waltz - do filme Antes do Pôr-do-sol)

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Livro

Brincadeira de acaso - respostas do destino

Pegue um livro qualquer (de preferência um bom livro), segure-o fechado nas mãos. Feche os olhos. Pense, procure alguma dúvida, alguma angústia ou simplesmente deseje uma resposta sinceramente, deixe que a providência descubra qual é a pergunta que nem mesmo você sabe. Agora, ainda de olhos fechados, passe seus dedos pelas páginas, sentindo a superfície áspera das folhas cerradas. Sinta o momento certo e abra o livro, aponte aleatoriamente um ponto no texto, no lado esquerdo ou direito do livro (é preciso deixar claro) e leia. Você lerá uma frase que terá um sentido sem igual, assustadoramente coerente com o seu anseio.

Se não se satisfizer, faça novamente, mentalize.

"Bom é quando faz bem"

Não foi tão ruim, foi?

E você, meu amor, é simplesmente encantadora! - encabulada - explode meu sorriso - me apaixono.

"Minha namorada" - fico feliz só em ouvir, imaginar...

E não confias em mim quando te chamo 'linda'? Como, se dentre todas as pessoas, eu deva ser o que mais aprecia e se embriaga em sua beleza (inabalável por coisas banais como cabelos molhados ou cara de sono)?...

E juntos registramos as cores noturnas do momento e em minha memória só tenho seu olhar e o jeito com que sua boca se comprime e suas bochechas sorriem e seus lábios brincam. Seu olhar doce me vendo bobo de amor ou então contrariada pela minha teimosia ou ainda fingindo desconfiança ante meus elogios e palavras.

Eu te amo.




"E você era a princesa que eu fiz coroar
E era tão linda de se admirar
Que andava nua pelo meu país..."

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Bom começo...


Enganei-me.
Ainda estou excessivamente racionalista.
Vou jogar minha cabeça contra uma árvore, perder a memória - e a capacidade de raciocinar -
e começar novamente.

Estou cansado de meus exercícios mentais, auto-reflexões, análises, conversas comigo, diabo-a-quatro. Preciso aprender a falar menos. E a não-pensar.

Pensar é não-ser, é forjar, representar. E por isso se diz - somos todos atores e atrizes.

Estava antes deleitando-me em joguinhos, cenas, situações construídas, brincadeiras. Acabou-se tudo. Há somente a transparência agora. As cortinas que encobriam as janelas foram retiradas e pode-se ver mais claramente o interior. Mas, eu quero mesmo é sair desse interior e viajar. Sair de mim, cansei-me. Se me sentia preso do lado de fora, talvez eu esteja mesmo é preso do lado de dentro.

Mas, no fim, são palavras vazias. O que não é vazio? O corpo?... O amor?... A "alma"?

Escrevo. Não deveria nem mesmo fazer isso. Pois tento dar um sentido, uma tradução ao que eu sinto através dessas palavras e toda tradução é um erro.

O que fazer então? Não expressar?
Não perguntar "o que fazer então"?
Parece um bom começo.

Sou um monge-zen-budista-bobo-do-inferno.

segredos

Os reflexos são belos,
Mas não são reais
Invenções, anelos
Imagem que se desfaz

Olhar o real com atenção
Senti-lo, senti-lo, senti-lo.
Vulnerável estou,
Aguçou-se a visão
Palavras correram pela boca
Para abrir a porta.

Você ouviu os meus segredos
Dos quais eu tinha medo
E agora? (pergunto p´ra mim)
Enfim...

(agora é viver)

"tudo acontece..."

Ensaio - Toranja

(...)
Tira a mão quente dos olhos
Tira o frio da frente
Já tenho tão pouca gente para me encontrar
Desata-me os olhos, desata-me a cara
Desata o teu corpo dentro do meu
Tira-me a voz que puseste no tempo
Que não está a querer desistir
De pisar os membros no chão
De arrancar os braços no tecto
Tira-me de mim, vá tira-me de mim
Transforma o fraco em coisa forte porque tudo se renova...!
Transforma o fraco em coisa forte porque tudo se renova...!
Transforma o fraco em coisa forte porque tudo se renova...!
Transforma o fraco em coisa forte porque tudo se renova...!


(ouça - Ensaio - Toranja)

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Autismo


Bolha
de música
e sorrisos frios
e beijos pequenos de refúgio
e doces olhares
para a única presente

Os círculos estão fechados
de gargalhadas em linguagem distante
Não estou aqui,
perdeu o rumo...
Apenas tua mão me liga ao mundo

Só sua voz eu ouço
neste alvoroço
e a tua pele
por onde eu ando
impede qe eu caia
muito longe
daqui...

Meu bem...
Há tanto bem
Sob aquele sol (castanho)
E o céu cinza (se pondo)
de árvores que brilham
Na nossa vida.





(vinte e cinco de julho)

Provar-te

'Felicidade é inimiga da inspiração'

Acho que todo escritor/a que se preze sabe disso. Expressão é fruto da ânsia, insatisfação, desejo impossível, tristeza, falta, angústia, ira, melancolia, conflito. Ao menos, a deleitosa expressão, aquela que nos faz sentir o prazer artístico, sentimento de profundidade, precisa dessas emoções causticantes para se manifestar. Dê felicidade ao coração e estará tudo arruinado.

Como então, buscar ao mesmo tempo, e teimosamente, a felicidade e o prazer da expressão? Afinal, por mais que os/as artistas gostem e queiram, autodestrutivamente, vivenciar com intensidade suas próprias misérias, exaltando silenciosamente a solidão soberana ou a depressão sombria, todos possuem o germe da felicidade, de tê-la como último fim. E, apesar de conseguirem rejeitá-la e sabotá-la repetidamente, tudo para manterem seus estados criativos, acabam cedendo, fragilmente, a um amor ou outro sentimento que os tornam plenos e os roubam de todas os combustíveis exasperados da inspiração.

Sabem muito bem a outra angústia que os/as tomam! O vazio poético! A sensação de que não há nada para escrever, nada para dizer, pintar, compor, uma satisfação odiosa que grunhe nas entranhas como uma asia interminável. Silêncio do espírito, insuportável! E então, conscientemente ou inconscientemente, começam a quebrar os tijolinhos da alegria para que dos pedaços vermelhos se possa cantar algo.

Eu tantas vezes já sofri desse mau, atravessando algumas vezes o deserto da mente que não sente desejo de pensar, do peito que está farto de sentir e pulsa tão lentamente que asfixia o sangue. Às vezes queria forçar-me a escrever e o resultado era tão artificial que enojava. É uma tristeza que, por ser igualmente artifical, não inspira.

Estaremos então condenados? A arte será assim possessiva e autoritária para exigir de seus filhos ou admiradores e executores que abdiquem da plenitude, vivam na incompreensão e necessidade apenas para a ela render frutos? Bem, não importa, é preciso resistir a isso. Se a arte for autêntica, que nenhuma corrente faça parte dela. E assim, que sejamos livres para sofrer e sermos felizes simultaneamente, servindo a ambos os propósitos.

E para tal objetivo, faz-nos imperativo que, sim, desistamos de uma coisa, ignorar. Esse mal que não percebemos obriga-nos a deixar mazelas e ruínas em nós que em nada se transformam. Esmiuçar o cascalho nos fará apreciar a praia com sensibilidade maior e sentir a emoção do mar quebrando-se. Existirá limites para a emoção? A fonte do espírito é limitada? A resposta é óbvia e não irei responder, mas infelizmente as (de)ilusões fazem a descrença e a desesperança e acabamos aceitando o contrário...

Serei sincero, não escrevo essas palavras por mim. Sinto-me n´um momento de experimentar, como disse, ao mesmo tempo a felicidade e a inspiração, conflitos e desejos e emoções e êxtases. Escrever tem sido um ato impossível de represar e o peso das palavras tem caído das nuvens e dos dedos em temporais de agosto. Contudo, quase que a mesma sensação que em mim tem o efeito positivo, parece estar sendo nublado em termos expressivos para outrem, aquela nuvem que acinzenta mas não chove. (OU não.)

Quero soprar no seu pescoço uma ventania que faça chover (arrepio), um aroma que agite as folhas e as flores e os reflexos do chão, um fio quente que envolva seu corpo, estralando seus ossos para tirar deles o sabor do prazer. Quero... inspirar-te, meu amor, para ler-te e provar-te.


- Enfim, que a vida seja uma grande dose de adrenalina, endorfina e poesia...

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Você


A porta já está aberta, só falta eu entrar.





De manhã minhas mãos tremiam,
À noite dormi facilmente,
mas acho que não dormi...
meu corpo estava espremido
em si...

Mas resolvi (enfim).............................(e não é de hoje)
respirar (em ti).................(em meus pulmões de sangue)
e andar (pra si).......................(acabem os descaminhos)
e não ter - fim.............................................(juntos)

Céu


Aqui (ou Memórias do Cárcere)

Cordel do Fogo Encantado


Vou
Vou pregar na parede
Um pedaço de céu
Que você me mandou

Vou buscar outra constelação
Entre a noite que vai
E o dia que vem

Eu canto... aqui, eu olho... daqui, eu ando... aqui
Eu vivo...

Canto... aqui, eu grito... aqui, eu sonho... aqui
Eu morro...
(morro)

Vou
Vou riscar no meu braço
Um pedaço de mar
Que você me deixou

E criar outra recordação
Do primeiro lugar
Que acordei pra te ver

Eu canto... aqui, eu olho... daqui, eu ando... aqui
Eu vivo

Canto... aqui, eu grito... aqui, eu sonho... aqui
Eu morro...
(morro)

azul negro


Estava limpando as minhas sugeiras
E nisso, perdi a chave.
Fiquei preso
do lado de fora
de mim.

(olho pela janela entreaberta
No espelho eu vejo restos
Não tenho forças para arrombar a porta
Tento desvendar a fechadura morta
Tento me despir do errado)

tinto

Beberei sua vingança
como uma criança.

Reflexos

Adoro reflexos
Espelhos, imagens distorc(v)idas
pela forma de v(s)er

Sou tão reflexo
De reflexos rápidos
Dinâmico-estático
Catártico
Falso mágico
Clandestino imaginário
Temporal incendiário
Água gelada ácida
Angústia plácida...

Quando?

Tes(ão)oura

Caça ao tesouro

Onde eu enterrei o meu instinto?

(Há pensamentos demais nos meus gestos... há cordões que fazem de mim meu próprio boneco)

Contraste

Você deve estar se perguntando por que eu não fiz

Ah, existem tantas respostas

e risos (e) imprecisos

E meus pensamentos giram
Ponteiros de um relógio às onze horas
e eles gritam e cochicham


Eu vim caminhando pela longa rua
Não havia formas velozes de chegar
A cama me esperava toda nua
Meu corpo tentava se concentrar...

Caótico e incompreensível
E você deve estar se perguntando
Eu não imagino quais sejam os seus limites
Qual será a 'vingança' dos seus planos

E qual é a forma e sentido do seu amor
Medo do que o possa quebrar
Aquela ascensão suave do sofá
Aquele silêncio gostoso do olhar

Colisões de impulsos e fugidas
Esperando algum momento desconhecido
Você não sabe o que isso significa
Mas tenha certeza, eu vou encontrar

Minha paciência se tornou pesada
Diante do olhar encostado na parede
Mas uma vez não assistimos nada
Porque maior era nossa sede

Mas enquanto tu querias saciar
Minha alma me afastava de lá
Fico tentando (noturno) desvendar
Agarrar-me a ti, (muito) estar

Queria sentir só uma fração
Do que há no seu coração
O mar de tua sensação
O sangue em turbilhão.

sábado, 22 de agosto de 2009

Med(s)onho


Como uma espuma expandindo no estômago,
Uma paralisia depressiva dos pensamentos
Uma crueldade aterradora interior
E as pessoas estão assim a (se) destruir...
E... foi só um relance, uma luz de pouco mais de uma centena de minutos
uma história... várias histórias... terror... miséria humana


Meu Deus

Como tudo está perdido, tudo, tudo...
estão todos desgraçados nesse poço sem saída

e as nossas imundices nos entopem as veias
e fechamos todas as portas para que ninguém veja
e exibimos na tevê as gritantes tolices
e deixamos morrer todas as próprias raízes
e observamos a destruição dos galhos e gargantas
e chamamos de normal as maiores crises
e queremos fugir das nossas fraquezas (idiotices)
e tentamos apagar o incêndio do desespero
jogando álcool e inceso nos buracos vazios
corroendo as camadas mais extensas da mucosa
apodrecendo cada gota do oceano imenso
matando um por um, em genocídio tão
em genocídio tão, em genocídio tão
qualquer palavra aqui será em vão
pandemônio, suicídio, destruição, infanticídio
violência... gra-tu-i-ta
.
.
e a humanidade desce assim para o abismo
escorregadio, poderia se dizer inevitável
e as unhas poderão tanto segurar-nos
como violentar-nos em ódio
e ódio e ódio
e ópio


Quantas milhões de (v)idas lá fora
rasgadas, sangrando, morrendo em vão
almas agonizantes, criaturas viciadas
nos seus sofrimentos que aprenderam a querer
e quantos bilhões de garrafas de refrigerante
saindo dos galpões para poderem beber
... de onde vem o preto deste gelado gole?
do sangue coagulado que você não vê
.
.
E o apocalipse seria fácil demais
E acreditar nele é uma saída fulgaz
e não acontecerá, porque é fácil demais
e teremos que terminar o que ousamos começar
morrermos todos, nascer novamente
e assim adiante nos gritos da mente
até a escuridão recuar pelo ralo
e ouvirmos o sentido que preenche o vácuo...
.
.
eu tenho medo
queria que pudéssemos sair
e só estar, juntos
sem medo
.
(requeim for a dream - música - Clint Mansell)
.
.
.
.
que casaco?

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Embriaguez


Pequenos 'grandes' prazeres da vida

Apontar lápis com estilete
Comer uma tangerina bem docinha
Sentir a areia da praia nos pés
Cobrir-se com edredon em dia de chuva
Comer pão de macaxeira com carne de sol e nata
Ler as últimas páginas de um embriagante livro
Finalmente desmaiar depois de um cansaço enorme
Sentir uma brisa fria n´um dia abafado
Ver o pôr-do-sol e invocar uma lembrança
Ter a ligeira ilusão de fazer parte
Chocolate, doce, sucos, chá mate do centro da cidade...
Assistir o filme predileto pela milésima vez
Não conseguir assistir filme nenhum quando estou com você
Dormir no chão da sala, sobre o 'colchão' d´um edredon, ventilador nos pés
Escrever as sensações de maneira tão espontânea quanto impossível
Um copo de água gelada
Ouvir a voz amada a qualquer instante contando-me qualquer coisa
Acordar cedo n´um dia despreocupado e poder voltar a dormir
Seu sorriso!
Tomar um banho gelado quando estamos pingando suor
Ver-te encabulada, te encabular
Ficar dependurado na janela na madrugada silenciosa
O vento forte do ventilador ao chegar de um dia quente
Sua boca!
Sofá!
Ouvir o barulinho da câmera analógica fotografando
Sentir suas unhas riscando minha pele
Ouvir uma música que percorre a alma e estremece o corpo
Sentir seus dedos brincando em meu cabelo
Sentir amor inundando as veias e impregnando as células
Espreguiçar-se preguiçosamente n´um dia de domingo
"Não dormir" com você
Caminhar no final da tarde conversando comigo mesmo
Abraçar-te carinhosamente todos os dias da vida
Pegar o ônibus e percorrer a interminável Bernardo Vieira sentindo aquela saudade apertando
Estar com você tão completamente que me apaixono (novamente).

morrer?

quarta-feira, 19 de agosto de 2009


Meu amor,
Como poderemos sobreviver

aos dias em que não podemos nos ver?


Como conseguir em algo se concentrar

Se a saudade toma os pensamentos e os joga no ar?


Como ir em direção aos compromissos
Se os passos só querem encontrar teu sorriso?


Como, ainda, poderei eu saborear

O que for, estando impedido pela distância de te beijar?


Como, meu amor, poderemos sobreviver
À saudade, ao desejo, à falta do carinho, de você...

Ser ou estar? Ou ser estando?

Caminhos

Há duas maneiras de se viver (minimamente falando). Existe o caminho da razão e o da emoção e eles se entrecruzam, é certo. No entanto, sempre um prevalece e isso depende da índole pessoal. E, afinal de contas, é difícil mesmo imaginar o tal equilíbrio entre os dois, antagônicos que acabam sendo. No máximo, se atrapalham, e é difícil crer que se completem. É preciso escolher ou então deixar-se levar. Escolher 'deixar-se levar' é ser levado sem escolher, oras!

Analisemos mais cuidadosamente. Uma vida pautada pela razão - evitam-se os riscos, pois são irracionais na maioria das vezes. A objetividade direciona-se pela segurança, estabilidade, certeza, concretude. Não é nada objetivo largar tudo e começar de novo ou então jogar-se do penhasco n´um amor imprevisível. Os caminhos são detalhadamente planejados para a obtenção dos melhores resultados, o maior desenvolvimento, seja ele como for, ainda que tenha um sabor meramente moderado, apropriado. Os supostos riscos não envolvem nenhuma perda e se exige de si que siga as regras previamente estabelecidas, os chamados 'princípios'.

Já a direção da emoção, nossa, esta é incontrolada, desmedida e quase cega. Tateia os caminhos sem nem mesmo querer ver aonde vai chegar. Basta-lhe a pura sensação. Os prejuízos soam-lhe perfeitamente agradáveis, mesmo que a dor não seja algo bom intrinsecamente, de maneira geral, é desejada. E esse desejo é impulsivo. Repudia a insensibilidade e a passividade, é preciso jogar-se sempre, na parede, no meio da rua, no mundo e no precipício. É preciso se jogar na aventura da vida. Nada de levantar paredes e sim desfrutar da beleza dos tijolos pelo chão. A beleza é emoção. A emoção é a mistura imprecisa e delirante de tudo que existe. Todas as portas serão derrubadas e os caminhos trilhados com uma perigosa ausência de medo. O medo é totalmente racional, apesar dele mesmo ser uma emoção, que, contudo, é vivido com gosto e despreocupação pelos emotivos e com cuidado e reserva pelos racionais. Percebe-se logo que se se vive pela emoção, a razão é total ou grandemente ignorada.

A razão, se tem beleza, é linear, sem variações, nem mesmo preto e branco, absolutamente monocromática. Por certo que os seus frutos são mais duradouros, porém a intensidade é demasiadamente inferior.

Bem, a princípio não existe escolha. Cada ser humano nasce com uma predisposição a uma forma ou outra de ser. No entanto, a partir de certa idade na qual se toma consciência de si mesmo, é possível perceber qual o caminho trilhado e, com certo custo, logicamente, fazer a 'reopção'.

Eu, por exemplo, nasci demasiadamente pesado para o lado da objetividade. Passei anos demais medindo e planejando excessivamente antes de cada atitude e nisso perdi o tempo de muitos acontecimentos, talvez, ou a aventura da infância, no mínimo. Bastante protegido e cuidado, fiquei isolado, intocado. E assim foi. Até aquele tal milagroso momento do "despertar". Acordei e não gostei do que via e vivia. Mudei com toda a radicalidade que encontrei em mim e passei a brincar de sufocar a razão para deixar a emoção dar seus pulos.

Mas esta impertinente mulherzinha que se assenta/va nos meus ombros para puxar-me as orelhas para o caminho que ela (a razão) deseja/va era muito complicada de calar e fui aprendendo com os anos a mágica arte de arriscar e a cada risco, a maioria deles de natureza amorosa, eu silenciava um pouco mais a teimosa. Hoje posso honradamente dizer que ela não está mais nos meus ombros. Lógico que não a expulsei de minha vida, porque então estaria já boiando morto nas águas do Atlântico. Mas ela agora está a uma distância mais respeitosa e acostumou-se com minhas ocasionais e recorrentes insânias. Aprendeu a observar com irritadiça indiferença meus desvairios.

Imaginemos o outro lado, o nascido sob a (des)proteção da emoção, bandeira tremulante e insensata. Essa pessoa certamente tem o mundo de experiências fabulosas que desde muito cedo ousou viver, beneficiada por circunstâncias que lhe permitiram vivê-las. No entanto, esse estilo de vida, com os anos, é excessivamente danoso à saúde e à sobrevivência. Bem, acredito eu que a maioria das pessoas que vivem de emoção dão pouca ou nenhuma importância a esses detalhes mundanos (saúde?) e não se lastimam tanto de viver alguns anos a menos, recompensados pela intensidade dos anos vividos. Eu fortemente compartilho desse sentimento, porém, reconheçamos que algum pode, por fim, mudar de idéia e desejar uma velhice longa e sábia a uma juventude e meia idade inflamada. É difícil de acreditar, é fato, mas conheço até um ou outro caso.

A pessoa talvez, tenha um trabalho mais difícil, o caminho inverso. Pesemos, o que é mais difícil, sair da costumeira segurança, proteção, certeza, para jogar-se no risco e na emoção ou abandonar o vício da emoção para conter-se na segurança, certeza e cotidiano comum? Inclino-me para a segunda opção, até porque aparentemente o resultado da primeira situação, a de jogar-se, é muito mais tentador do que a da segunda, segurar-se.

Mas, vejamos, o que é realmente o ideal? Tal bipolaridade acaba sendo destrutiva de toda forma e é destruição o que queremos? Alguns irão rir desfarçadamente (ou não) e dirão que sim. Mas, eles riem sem ter coragem de se suicidarem, insolentes! Destruição a passos lentos é uma covardia. Certamente que precisamos esfoliar muitas vezes as crostas cegas e antiguadas de nosso espírito, arrancar tradições doentias, traumas estúpidos e amarras inúteis. Essas coisas precisam ser destruídas, mas destruir-se essencialmente é criminoso, um atentado contra a sacralidade da vida, a oportunidade de viver. Destruir-se é de uma ingratidão para com a luz que nos fez viver tudo que vivemos que tenho até medo do que acontecerá depois para se aprender a valorizar nosso nascimento e existência.

Então! Acompanhemos meu raciocínio. A emoção é deveras a porta de toda a experiência. Não há sobre o que pensar se ainda não sentimos nada, ou há? Alguém que nada viu, cheirou, ouviu, provou ou sentiu pode ter pensamentos? Acredito que não e portanto, a emoção prescede a razão. Os guiados pela razão sofrem de uma inversão desgraçada na ordem das coisas que precisa ser corrigida ou se perderá a oportunidade de viver verdadeiramente. Mas, nascemos com essa outra dádiva, a reflexão, e viver ignorando tal característica me parece desolador e sem propósito.

Mas que expressão problemática - ter propósito! E como é viver "com propósito"? A única resposta que me chegou ao alcance através da vida e do pensamento é que o propósito de viver é simplesmente aprender. Vivendo pela razão nos impedimos de viver e não aprendemos. Vivendo pela emoção, nos impedimos de racionalizar e também não aprendemos e aí está o centro da questão.

A magia celeste se encontra quando de alguma forma inimaginada e impossível de se ensinar - é preciso descobrir por si mesmo - conseguimos deixar os braços abertos para as emoções, deleitando-se nas imprevisibilidades e impossibilidades da vida, mas ainda estando com os olhos abertos para entender e aprender com cada experiência, pensando em formas melhores de passar pelos desafios que surgirem imperiosos no caminho.

Logicamente que não se pode viver tudo e nisso a humanidade se angustia. Mas nem mesmo deveríamos querer viver tudo, pois senão, encontraríamos o fim e não há nada que seja mais contrária a nossa natureza do que "o fim". Há de se fazer escolhas, e essas poderão sempre nos proporcionar mil aventuras e prazeres emocionantes. Os que tentam viver tudo, incapazes de dizer não à própria vontade, acabam por não conhecer a 'verdade' da existência, pois nada se diferencia e nada ganha alguma importância maior que dê sentido à emoção. Pois sim, até mesmo a emoção precisa ou deveria precisar de sentido, mesmo que seja o sentido sem sentido.

E toquei em outro mistério da vida, 'a verdade'. Não gastaria uma palavra em uma definição, apenas direi que 'a verdade' é o início e o fim de todos nós, dela viemos e para ela retornaremos, e assim sucessivamente, de novo, de novo e de novo, "sem fim". Acho que alguns sentiram a analogia. Deixemos que cheguem a suas conclusões.

Sinto terminar momentaneamente a reflexão e digo por último que esse assunto me é bastante enigmático e repetidas vezes me faz passar horas do caminho pensando sobre ele, eu, tentando olhar-me diretamente dentro de mim, encontrando a medida de minhas ações e sentimentos para assim, encontrar a direção seguinte dos meus pés a cada passo. Experimento o êxtase da emoção quase incomedida e recomendo para muitos, mas que sejam capazes de parar em dados momentos e refletir com aquele afastamento filosófico sobre cada lembrança do vivido.

E, um único conselho - façam perguntas sempre, principalmente para si mesmos. A Dúvida é soberana sobre nossas vidas e não devemos negá-la ou simplesmente suportá-la, mas questioná-la incansavelmente, por maior que seja o insucesso.


segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Aquele passo...


preciso dos teus braços para dormir...

(ando sonhando durante o sonho...)

há uma saudade invernal

na minha cama de braços (o dia inteiro)

e eu só quero correr a noite para te ver!

domingo, 16 de agosto de 2009

Aquelas tardes...


ANTES



Não, qualquer companhia
agora não me daria
nenhum prazer.
Só na solidão resta
uma conta de vidro
de prazer...
O sol, ainda alto, está descendo
Uma música quebrada por horas toca
A atenção e carinho do amor desvaneceu
O silêncio está espesso e desgostoso
Sinto que dentro de mim há algo morto
Ando no meio da rua sem me importar com a morte
Caminho e escrevo
Uma brisa maravilhosamente forte
me enfrenta
Eu a bebo como água
com meus lábios secos
Minha sombra vai à frente
Não tenho saudades
de quem está ausente
e estar sozinho
não é deprimente
seria excesso dizer
que estou contente
estou também ausente
e a música me droga
preenche as horas
um antidepressivo ondulatório

A emoção é algo tão transitório
mas ainda não é o suficiente
talvez eu quisesse um presente
basta que estejas comigo
quando estiver presente.

Amor sem calor
Mas não estou com frio.

(ainda sinto falta)


(catorze de agosto)


DEPOIS


Eu quis te conhecer
E não me arrependi
Ao nosso amor só cabe o eterno estar
Sensações ruins foram pegadas
que o mar apagou
e o luar que no céu sumiu
no nosso amor se alojou

Dentes, febres e peles
um carinho doído e ardente
Ouvir mil vezes as palavras de bem
ouvidos e bocas brincando alegres
e estar só não existe assim
você não está longe de mim
e o tempo eu crio como areia molhada
de castelos e nuvens enfeitiçadas
para morarmos deitados na madrugada
sem sono, sem dano, minha namorada.


Atmosfera


Meu amor

Não te posso prometer
................................a eternidade
Descobri que ela não existe,
ao menos não essa longínqua dos dias futuros

A nossa eternidade é a do agora
do instante em que estamos juntos
do desejo de permanecermos colados
em nossas bocas como um
...............................beija-flor

Mas eu e você somos assim
a distância para nós é disforme,
até mesmo no tempo

A beleza está a poucos centímetros de nós
Repirando-nos
Nos respirando
..................e em nossos peitos ofegantes
palpita um amor
que é maior
a cada segundo

Você, que sorrio assim em minha vida,
de ressacas e noites mau-dormidas,
para meu encantamento enamorado,
fique
......fique comigo sempre, mais perto
que o possível
Sejamos impossíveis (irressistível)
D´um desejo incontrolável
de abrir tua pele e morar contigo nas tuas veias
na maciez da tua beleza

Mas sem violência (jamais)
que o carinho e a confiança superem tudo
e que os nossos silêncios
sejam os mais desnudos
(mas não mudos)
que com o roçar de lábios
(deliciosos)
possamos encontrar nos séculos
os segundos
e que a tentação vença
e agarre-nos com força
perdidos e loucos...

Meu coração é um balão-de-emoção
e você é ar quente onde
encontro a atmosfera.
.
.
(três de agosto)

27 de julho (há anos)


Ao invés de dormir
a madrugada perdida
ficamos a cochichar
....................na penumbra
coisas tão difíceis de arrancar
....................das entranhas

Pouco depois de te odiar
como posso estar aqui?
O que há em nós
que já me fez superar toda aquela
...................................(dor)?
És ao mesmo tempo a parede e o bálsamo?
E ainda o contrário de tudo?

Poderemos assim,
construir algo sobre as areias
molhadas do litoral?
Como pode?

Somos essa incongruência
......entranhamente única e apaixonada
.....................um terremoto de emoções.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

anseios


Há perdas tão desnecessárias...
Perder você seria uma delas
entre outras que nos acontecem
mas não vai acontecer.

Deixemos as perdas de lado, meu bem
por um tempo, por uns tempos,
deixemo-nas...
que elas passem sem nós
que elas nos percam
e não nós a elas...

Meu amor,
Não se preocupe com as gavetas
trancadas, as chaves enferrujadas,
as portas emperradas, as janelas
escancaradas dos quartos
Não se preocupe com as perdas guardadas
Deixe-me percorrer pé-ante-pé
o assoalho de madeira ancestral
arrastar meus dedos pelo corredor
vagar minhas mãos pelas paredes
no escuro, a procura, a textura
Fico no aconchego da lareira
mas não descanso de viajar(te)
quero ir até o terraço, rumo às varandas
conhecer o caminho da chaminé em chamas
remoer as estantes e as poltronas
até tornar-me igualmente cômodos
mobília de perdas passadas e vencidas
pintar-me e a nós de tintas impossíveis
pedir-lhe os tons de emoções incríveis
como um raio que descobre os ossos
surgindo dos pôr-do-sois só nossos
abraçados no balanço de braços
na árvore dos sonhos
dos nossos sonhos.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Castanho (amor)


O riso é uma fuga
O riso é um espelho

O riso é uma janela
um chamado, um desejo

ele é um mistério
um grande ou pequeno
deletério,

um sair do sério

um escudo ou um sonho

é uma injeção anestésica
ou colher de amnésia

um refúgio do medo

ou o próprio medo

é uma máscara
um baile inteiro
o riso é de pernas bambas

rindo no chão, de joelhos

é um desafio ou uma coragem
ele é falso, é miragem

ou é profundo e verdadeiro

ele é histeria febril

ele é felicidade cega

ele é calmante da alma
um remédio, uma seta
apontando uma forma

de caminhar sem dor

ou além da dor

O sorriso é o oposto
Sorrir é abrir-se, abrir
a alma e a vida
Sorriso de amor

de encantamento,
de ternura,
de carinho,
de paz e pureza
Sorriso de destemor

maior que o medo

maior que a dúvida

maior que a dor

Sorrir por amar

a vida, a água, o verde, a luz

a noite, a morte, a paz e a cruz

o outro, a si mesmo, a tudo, nada
Sorrir, principalmente

Por sentir no peito

A magia impossível e reluzente

O amor por você, sua alma, seu jeito

A paixão de emoção de sentimento

Amor com tudo, amor sem tempo
Amor no eterno e no momento

Amor no meu sorriso.









Ai, meu bem,
Como podes ser vulgar?
Se só pureza encontro no teu olhar

Até mesmo a malícia não é vulgar
Vulgar é o ordinário, o sem valor
E não há ninguém mais especial

O vulgar não tem importância

é descartável, é banal,

não se aprecia, se devora

sem sentir sabor ou prazer
sem apurar os mínimos detalhes
as curvas delicadas
as belezas desapercebidas
nuances da tua pele,
da tua voz, do teu ser
da emoção de estar contigo

Não, não és vulgar,

não és comum ou simplória
és labiríntica tempestade de caminhos
e desejos e poesia e carícias
és sabor de sem fim
és sala de espelhos

onde nos encontramos
sob
várias formas de lilás
um bem que faz

calor e paz

carrossel de lápis

e papel de carta

saudade peça de teatro

desejo sofá de areia salgada
carinho de fim de tarde
e hortelã e perfume...
(que arde)

Tu, meu amor
Te finges de vulgar
para disfarçar

qualquer coisa

para esconder - expondo -

um não sei o quê de engano

algo de noite e de dano
tentativa de profano

não sei, não sei
só fingindo, meu bem...

não é você.


Você é o sorriso (o beijo)
Eu sou o abraço (o carinho)
Nós somos o amor (juntos)

E a vida é o sabor nosso.















O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

Fernando Pessoa - Autopsicografia

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Céu do meio


Lendo e relendo tudo, sei que vou assustá-la
Nesse momento só quero encontrá-la
Ler e ver nos olhos dela a tempestade castanha
que existe naquele coração que eu amo

Ela não sabe os redemoinhos que enroscam
minhas entranhas, estranhas, manhas
Aceleradamente, transformo-me
Ela não quer me acompanhar na mudança?
O que deseja, então...?
Sou uma cabana de madeira de demolição
Meu bosque é de gelo e outono e canção
Minha cor é frugal, viver é meu mal
Eu me apaixono no escuro
nos quadros do teu mundo
Eu me sinto no meio da rua
olhando para a lua nua
Só o que ama olha para ela
A noite (in)quieta, dorme ou desperta
Mas a beleza secreta é somente dela

E eu,
Eu sou a criatura lupina
Que no céu só se enternece
por esta lua menina.







"Veja o sol
Dessa manhã tão cinza
A tempestade que chega
É da cor dos teus olhos
Castanhos..."