domingo, 22 de setembro de 2013

Foi...


Um fantasma, uma sombra... nada do que seria se fosse... Melhor nem estar, se de fato não está... não há relação, há preenchimento de vazios, que não significam nada a não ser um mal estar pela estranheza do fato... Afinal, nada há para fazer... cada dia mais enraíza-me a consciência de não poder, não ir, não ser pra mim... você não quer... não quer... e eu prefiro assim sair... agora afirmo sua ausência... confirmo... 

Chuvarada - Leo Cavalcanti - a música

sábado, 21 de setembro de 2013

Sonho de uma noite de inverno...


Chegou naquela casa não sabe bem como. Quando deu por conta, estava deitado na rede ao lado da cama em que ela se deitava. Era tarde. A casa estava vazia. Talvez ela precisasse de companhia, uma do tipo psicólogo-massagista que cura "todos os males"... Ele não precisou dizer muitas palavras. Psicólogo que se garante abre os karmas e os chakras com a simples presença verdadeira e algumas interrogações estratégicas. É bom ouvir histórias, principalmente as mais difíceis... Dá a sensação de que é parte da vida do outro, que ao partilhar aqueles segredos, cria-se um pacto de confiança e reciprocidade... É louco ser calmante de alma, ser aquele que aguenta as dores mais profundas que precisam ser ditas para aliviar. Dói, mas é bom. A ironia é que há meses ele é doido por ela. Não sabe como, mas um dia vê-la mudou tudo. Subitamente percebeu uma energia, uma beleza, um ser que o mudou. Mas, diante das circunstâncias, nada aconteceu e assim passou o tempo. Uma ligação naquela noite e estava ali. Ela contava as angústias de não se sentir bem consigo, de estar no lugar errado, de sentir que precisa lutar contra tudo, da distância dos mais próximos, da vontade de morrer ou de fugir. Após duas horas de profundezas reveladas de forma tão sincera e íntima, ele segura sua mão... e os segundos se arrastam naquele toque... Ela olha pra ele e aquele olhar carrega dez mil emoções... - Vem pra cá - sentencia. Sai da rede e a envolve com os braços... ou é envolvido por ela, ou os dois... Faz parte da cura (de ambos)... Enquanto ouvia em silêncio ele percorreu muito de si naquelas palavras dela... e foi uma energia tão forte que o fez lembrar/sentir o que significa estar junto... Sentaram-se, um diante do outro... e a medida que o tempo existia, a distância entre eles desistia... e o encontro que faltava se deu naquele instante - um beijo como um mar, como um orgasmo, como uma história sem fim, que percorre todas as eras, todas as veias, todas as camadas da pele, da alma, do sentir, do ser mais...

É - Tulipa Ruiz - uma música

novo

 
É hora! 
Se concentrar ainda é difícil... 
de manhã eu alcanço o nirvana....
Limpando dentro e fora
Jogando fora o que já não cabe
Reerguendo a vida ao nível do mar
Desinundando os calabouços
Florescendo do medo
Não declarado pela consciência
De existir tão somente em si
Sem alcançar nada mais

Navegar de fato
No mar tão só
Tão sem 
limites, companhias, fim

Música - Chasing Paviments - Adele

Anotações de uma noite sem dormir


Pensamento I - Se eu morasse numa casa com cama, comida e roupa lavada, talvez eu facilmente me entregasse à depressão em momentos como esse ou dos últimos tempos. Me deixaria dominar pelas cobertas, pelo tempo passando ligeiro sem nada acontecer, pelo friozinho do ventilador que convida a permanecer quieto... Eu acabaria dando muito mais atenção aos meus espíritos interiores pessimistas, com seus poderosos argumentos soprados no ouvido de que não vale a pena levantar, de que eu posso vegetar mais um pouquinho/muito, de que tudo que tenho pra fazer seria melhor esquecer...

Mas ter que viver por conta própria, saber que ninguém fará nada por você nem as coisas se farão sozinhas, coisas como varrer o quarto, lavar o banheiro, cozinhar, cuidar de si, impulsionar-se a conseguir sair desses redemoinhos cinzentos que por vezes nos toma... fazem com que se imponha a necessidade da autonomia, da autogestão, da prática da liberdade de ser responsável pela própria existência...

Não só isso... Ter caminhos a trilhar, vislumbrar sonhos e saber que aquilo que sonhos e começamos a construir morrerá se os abandonarmos fortalece nossa coragem e determinação e ajuda a se levantar... Existem motivos para levantar... vale a pena... 

Pensamento II - Olhando para as pessoas ao redor, vez por outra me admira como a maioria nada me desperta, não me animam, não me inspiram nada... Como se elas não propusessem nada de significativo com suas presenças, nenhuma emoção, ideia ou sonho... Nem dá vontade de conhecê-las, pois elas não encantam, parece que só passam pela vida, sem marcá-la... Mas então pensei como seria um mundo em que todas as pessoas nos despertassem fortes emoções, nos apaixonassem com seus espíritos e corpos vivos e contagiantes, nos incendiassem com a simples presença.... E senti que esse seria um mundo louco e exaustivo (ou extasiante!), em que viveríamos até nos esgotarmos com tantas presenças e vontades e potências... Será? Se todo ser humano tivesse libertado seu infinito potencial transformador e criativo, como seria a nossa convivência? 

29/08/13

Two Doors Cinema Club - What You Know - uma música pra animar...

Último olhar (?)


Te via, de longe, andando, gesticulando, balançando, dançando ao falar, ao brincar de política, de mundo libertar, de cabeça pirar, de fogo inspirar, vida respirar. Te olhava, lá longe, alguém... que eu não sabia o nome, a história, os sonhos. Sendo assim, te inventava, dava nome, profissão, ideais, dava manias, histórias de viagens, gostos e sabores, como um personagem que me encanta, mas quase ficção, não está aqui. E agora, alegre ironia, tu chegou quase de lugar nenhum e pendurou tua rede entre meu sorriso de te ver assim tão perto, tão comigo, tão em mim.

Música - Sem (des) Esperar - Leo Cavalcanti

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

afago


Chega, deita no ombro... os dedos dela/e logo sobem aos cabelos para um passeio... poder depositar o peso de sua vida naquele instante de cuidado de amor cura todas as pedras do dia. Caminha, encontra outra pessoa de amor sincero que, desta vez, deita em seu colo num banquinho de praça bendita para chorar, sem fôlego para explicações, apenas a companhia derradeira... horas de lágrimas e carícias nas sobrancelhas, na testa, no nariz, seguem, reconfortando-a/o profundamente pelo afeto profundo, dispensando demasiadas palavras, apenas silêncio e respiração encontrando calma... Levanta-se, abraça-o/a longamente, beija-o/a longamente e se vai... Voltando pra casa, deitada/o na rede balança-se a/o companheira/o de tantas partilhas sorridas e sofridas... acomoda-se ao seu lado e perde-se em seu pescoço de beijos suaves e leves e livres... e sente que amor existe...

Música - Canto d´alma - Daíra Saboia

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

vô-lar


Céu azul cianeto, folhas caindo feito sorte, tempo de penumbra de olhos... um embrulho no estômago... de ausência-s... ausência de todos, de toda espécie, tipo, forma... Pela calçada descaminha - Por que incomoda que quem se ama ame mais além de nós? - Passa por baixo da árvore de frutinhas pretas sem nome que pintam o chão de estrelas negras sob fundo acinzentado. Tenta repetir aquele mantra para realinhar descarrilhadamente os ânimos... pensa nas drogas que precisa para d´espairecer, no sabor-sensação daquela empada doce despedaçando-se com a mordida, na autoalienação de si e do lugar que habita provocada para transpassar momentos em que não dá para aguentar o caos em que nos deixamos ficar... Fixar na imagem por trás da janela da alma que teima em olhar pra frente a ideia de que naquele dia marcado poderá resolver tudo e voltar a respirar feito gente... - Tanto que fazemos para compartilhar e quantas vezes ninguém se incomoda de estar, de presenciar... O impacto da presença do outro o inquieta, como uma tempestade de gotas tão pesadas que cega... Anda como o clima da cidade natal, que do azul aberto de repente não mais que de repente derrama-se em cinzaréu que varre a alegria do espaço e se vai, como se nunca tivesse existido... Deita no banco azul de esconderijo para ouvir o sonho acordar...

Música - Fuga Nº 3 da Rua Nestor - Cícero

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Estalo



Não preciso antes saber para fazer... fazendo, descubro como é, qual a melhor maneira. Só tem um jeito de descobrir, vivendo... ficar conjecturando não adianta de nada... Estarei preparado quando for testado... e se precisar, tento de novo... A mudança se revela no ato, não na ideia... esperar só adianta para descansar... e descansar uma hora cansa... Arriscando para valer a vida, prefiro a dor da perda do que a ausência de presente...

Script - Tulipa Ruiz - uma música

Vago


"Ela jurou 'talvez' voltar"...

E verdade não existe, né... tudo é mentira, até que se prove o contrário. Eu não "só acredito vendo", mas só acredito no que quero... e, "pensando no que é melhor pra mim", eu prefiro não acreditar em nada, a menos que me divirta... e diversão não tem sido a palavra da vez... 

Continuo desbravando o indivíduo, apostando os dias e as conversas, transcendendo coletivos... Ando com uma saúde boa... saudáveis tosses reincidentes, vigorosos espirros e garganta arranhada, falta de ar de pulmão e espírito, que é pra não exceder ânimos... Um estado limiar de amor/dor entre tudo e nada. 

Te encontrar uma angústia de um toque antigo que não sei pra que é. Não me parece carinho, me parece um resquício. E ante qualquer movimento, some como o reflexo na água agitada... 

Agora eu quero que acabe (o ano). Virar por fim a página, começar tudo novo de novo. Agora eu sei que a vida não é tão imersiva como pareceu um dia. Cada vez o indivíduo se lapida e fica menos e mínimo... Até desaparecer... 

A experiência do desaparecimento é atordoante, atordoente, atordoendo... mas o nada reconfigura e prepara para mais... no nada sempre cabe tudo e assim vai...

Uma música - A Escalada das Montanhas de Mim Mesmo - Vanguart