quinta-feira, 20 de maio de 2010

E você?


Quero ser
Guerreiro da linha de frente
No coletivo das minhas idéias
Idéias que não são só minhas
Mas de tantos comigo e com outros
A oposisão a violência
A paz ativa da consciência
A energia que estimula as inércias
E seja uma pequena chama no seco
Guerreiro anti-hierárquico
Um impulso sem oficiais
Todos no mesmo horizonte
Que é tão diverso e tão nosso
E próprio de cada um...

Somos todos tão diferentes
E nossa semelhança é esta
É sermos um do outro a defesa
Das nossas liberdades
Não permitindo jamais
As violências

Toda exploração é morte
Toda propriedade que explora é roubo
Toda 'liberdade' isolada é falsa
Toda razão que não pense no todo
é cega.

terça-feira, 18 de maio de 2010

mar...ginápolis

Nadar um pouco até a porto-estação mais próxima. A água anda um pouco mais quente do que era antigamente, mas continua confortável, se pegarmos aquelas correntes friinhas que vem das profundezas e evitarmos os horários em que o sol borbulha de tão quente. Na estação basta esperar que a embarcação metálica chegará, cedo ou tarde. Consciente dessa imprevisibilidade, resta à alma sã ocupar-se de qualquer outra coisa, ouvir uma canção do mar soprando no ouvido salgado ou então pensar nos altos e baixos das marés. Ancora ligeiramente no porto para a subida dos passageiros e segue em seu caminho, vagando pelas inúmeras e pré-determinadas ilhas, para onde cada um seguia. Esse conjunto incontável de ilhas, rodeadas por essas águas turvas e cinzentas constantemente percorridas por incontáveis navios, chegando ao cúmulo de causar embarcamentos (barcos enfileirados esperando a possibilidade de passarem, dado o enorme tráfego), formava um gigantesco e superpopuloso arquipélago, cada um em suas ilhas, aparentemente conectados pelas águas, mas tão isolados em suas areias particulares que não se podia chamar a formação geológica e social de comunidade. Uma ilha para trabalhar, outra para se entreter, outra para comprar (muitas vezes entreterimento e compra são uma só coisa) e assim sucessivamente, fragmentando a vida em incontáveis partes inassociáveis, reproduzindo ou induzindo um estado semelhante nos indivíduos, fragmentação e fragilidade espiritual. Esses salobros indivíduos, de espírito pouco fértil, reproduzem mais do que criam, absortos em suas rotinas deterministas e espetaculares espetáculos, que enchem-lhes os olhos de imagens e idéias prontas e industrializadas, adequadas para suas percepções já tão bem moldadas pelas instituições das ilhas. Entre as ilhas, os individuos pouco se comunicam, havendo apenas uma bem articulada comunicação corporat´ilha, necessária para as eficazes transações comerciais entre os indivíduos jurídicos, entidades não-corpóreas, mas que possuem tanto ou mais direitos que as pessoas comuns. Cada um vive em sua própria ilha, ou pelo menos este é o sonho, a ilha-própria. Partilhar a moradia com outras famílias, de maneira comunal é estigmatizado como o cúmulo da miséria, incompatível com o padrão material almejado por todos. Também para se locomoverem todos as pessoas comuns, popularmente chamados de 'peixinhos', querem uma embarcação própria, para não serem forçados a nenhum tipo de convívio além do necessário uns com os outros. O nome dessas embarcações tão almejadas é aquário. Alguns peixes revoltados que se recusam a ter ou desejar tal sonho de consumo pejorativamente as chamam de latas de sardinha, acusando estas máquinas de lançarem terríveis substâncias nas águas, degragando todo o ambiente, mas os respeitáveis peixinhos não dão atenção a eles nem as suas queixas. O que todos sonham é serem tubarões, aqueles que são donos das grandes corporat´ilhas e que, consequentemente, controlam tudo o mais, posto que tudo e todos nesse arquipélago se relacionam por meio de relações comerciais de compra e venda, sendo os vendedores os tubarões e os compradores os peixinhos. (exceto quando os peixinhos vendem sua força de trabalho para os tubarões). Todos se dizem felizes, mas a violência aquática afoga cada vez mais peixinhos e, na verdade, todos estão com água poluida até o pescoço.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Sem´ediador


O que você está lendo? Qual sua banda preferida? Você viu como aquele menino lá da sala se veste estranho? Ficou sabendo daquele escândalo? Vamos dar uma volta no shopping? Viu o último jogo do campeonato? Eu prefiro esse filme! Nossa, onde você comprou essa roupa? Viu o último episódio na televisão? Aquele ator de cinema é tão bonito! Vamos pro show lá na Arena Foliã?... Olha só o que meu celular novo pode fazer! Você ainda não viu o meu carro zero!

O que há entre eu e você? O que nos liga? Objetos? Pessoas alheias? Instituições e espetáculos exteriores? Como nos relacionaríamos sem todas essas "coisas"? O que sabemos sobre os interiores? O que expomos sobre nossos seres? Quando conseguimos nos ligar diretamente às pessoas, sem mediadores, coisas que sejam 'pontes' artificiais? Quando as relações são verdadeiras? O que é verdadeiro em nossas vidas? O que somos além de consumidores? O que resta em nós? (Como se sobrasse muito pouco depois do consumo...) Por que o dinheiro é o mediador da humanidade? Por que é uma coisa? Por que a principal e mais frequente relação firmada entre as pessoas é a de compra e venda? Estamos a venda? Quem nos comprou? Quando nos vendemos ou nos venderam? Quem estipulou esse preço? Temos um preço? Meus sentimentos são uma fonte de lucro? Minhas inseguranças, uma forma de aquecer o mercado? Minha incerteza a fórmula certa para conseguir novos consumidores? Minha ignorância a melhor ferramenta da riqueza? Eu quero ser rico? O que é riqueza? O que eu quero? Minha realização baseia-se em conquistar salários ou rendas? Qual o conforto que prefiro? O artificial gás gelado do ar-condicionado ou a brisa fresca do mar? O que eu conheço sobre as pessoas? O que elas conhecem sobre si mesmas? Gostos de consumo? A marca preferida e o melhor restaurante? Quais os meus valores? A liberdade para quem pode pagar? A fraternidade dos meus interesses? A igualdade padronizada pela indústria? O individualismo depressivo de estar sozinho? A paz privada das cercas elétricas? A tranquilidade dos remédios tranquilizantes? A saúde alopática da "loja de drogas" (drugstore)? O sucesso do carro fervendo no calor do asfalto, queimando a atmosfera e odiosamente preso no engarrafamente de milhões de carros? A estabilidade rotineira de ser sempre o mesmo? A frustração por sonhos esquecidos? O vazio da aminésia interior? A miséria generalizada da minha vontade de comprar o que quer que seja? A minha satisfação individual por me considerarem igual a eles, melhor até? A minha vaidade ditada pela moda? O meu egocentrismo de só ouvir a mim mesmo? E nem mesmo saber o que eu digo...?

O que resta de nós sem todos os mediadores? Todas as formas artificiais de fazer parte da sociedade? Quando descobriremos nossos sentimentos? O que nossa emoção nos conta sobre nós mesmos? Quem nós somos se tirarmos nossas máscaras familiares, acadêmicas, profissionais? Quem cria meu eu se não for eu?