quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Autogestão do Tesão: chamas, tentações, responsabilidades e autocuidados


Fogo, chama, lava, magma, incêndio, explosão, erupção, corpos, choques, toques, marés de vai e vem, movimentos, atrações, gravidades, seres e magias...



Tesão...




Algumas pessoas despertam, outras não. Alguns sonhos acendem, outros não. Por algumas pessoas emoções e sensações gritam, por outras não. Certas situações cultivam, outras não. Arrebatamentos visuais, energéticos, cardíacos, olfativos, oníricos, auditivos, táteis, genitais, sinestésicos... 



"Resisto a tudo, menos à Tentação"? Sim, talvez, não, jamais... não vale a pena... leve demais, qualquer brisa sopra longe, desaparece, esquece... vai e não me leva, fico, canso, perco, desisto... segura, aperta, força, cuida, calma, respira... 



Tenho dentro de mim um vulcão... Um encontro da Terra com o Fogo e os Ares aquecidos do coração da Terra. E este canal de conexão com o calor vital do Universo me afeta de formas poderosas. Às vezes querendo consumir-me inteira, outras vezes me impulsionando para as direções e movimentos que preciso seguir.



Tenho dificuldade de lidar e cuidar dessa energia intensa e cáustica, mordaz e transmutadora que muitas vezes me quebra janelas e portas, paredes e tetos cardíacos. Como aprender a gerir e canalizar essa força para o que sinto ser necessário? Como evitar a dispersão dessa beleza vibrante em direções sem reciprocidade?



Porque o Tesão quando é recíproco, seja por pessoas ou por momentos em que nos sentimos no lugar certo na hora certa, quando o Tesão está de fato conectado, é capaz de nos transportar para outras dimensões e nos dotar de sabedorias e experiências transcendentes. Mas quando o Tesão se manifesta espontânea e deslocadamente, jogando-se em rochedos ou vazios, pulando simplesmente sem olhar o tamanho da queda, entregando-se ao vácuo, ao frio externo, à ausência ou indiferença... quando tal acontece, causa um enfraquecimento de si severo, pois que um grande calor interno simplesmente se esvai a troco de nada, sem o mínimo de partilha, de cuidado mútuo... 



Não é viável. Não é desejável. Não contribui e nos subtrai em muitos casos e cacos. Porque é bonito nos permitirmos sentir e querer tantas belezas e sensações que nos provoca a Vida. Mas quando nossa beleza interior se deteriora por isso, quando nossa autoestima/autoimagem se vêem diante de indiferenças e frios alheios, sentindo-se desimportante e insignificante, sentindo-se ignorada e esquecida, desprezada e rejeitada, o Tesão se corrói e nos destrói. Esfria e esvazia. Fragiliza e imobiliza. 



E esse movimento de baixa, de introspecção emergencial de reparação, de encavernamento, também é importante e necessário. Mas podemos torná-lo menos frequente, guardá-lo para momentos especiais em que queiramos desbravar caminhos mais profundos de nós mesmas... Não precisamos nos ver caídas e jogadas nessas fossas abissais interiores por simples descuido...



Desta forma, tomemos consciência e autonomia sobre o processo, guiando o Tesão para os caminhos mais criativos e cuidadosos, tornando esta labareda mais intensa e bonita, mais acolhedora e querida. 



Praticar a calma, a quietude, o fogo baixo, cálido, suave, que queima de forma poderosa quando deseja, quando precisa, mas em busca do equilíbrio dinâmico necessário, cuidando dos tempos e das distâncias, das aproximações e das perdas. 



Guardiã do Fogo Sagrado, não deixar que ele queime tanto que arrisque apagar por ter consumido todo seu próprio combustível. Queimar de forma madura, em busca e criando seus próprios combustíveis e bebendo das combustões partilhadas pelo caminho. Mas de forma responsável, autocuidadosa, e outrocuidadosa, capaz de iluminar a escuridão, sem esquecer que a treva é maior e que se perder faz parte, mas saber enxergar no escuro e retornar para o próprio fogo também é parte da arte. 


Na melancolia de Vendredi sur Mer - Les Filles Désir

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Respirar

Aprendendo a andar
Aprendendo a nadar
Aprendendo a voar
Aprendendo a ser
Aprendendo a morrer
Aprendendo a amar
Aprendendo a nascer
Aprendendo...

145 marcas de combate
14 décadas de Vida Própria
10 anos por ano
Vivendo cada segundo
Extrapolando o tempo
Viajando por dimensões várias
Expandindo o ser e o estar
Conectando o aqui, o agora e o além
Muitas tribos, clãs e famílias
Conexões Infinitas
Inúmeras casas e mudanças
Incalculáveis mortes
4 mapas astrais
Incontáveis afetos astrais
Tantos labirintos e percursos
Infinitas casas e enfim nômade
Libertando-se sempre
Descobrindo as prisões persistentes
Múltipla e em expansão tenda cardíaca
Vida Demais que não me Cabe

Ao ritmo de Ja Ja - Elega al Che

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Despetalada


Me quer não me quer
Em minhas idas e vindas
Tantos fluxos interrompidos
Desperdícios
Precipícios
Atrações 
e rejeições
Entre o possível
e o inútil
Nesses processos 
vãos
de tão pequena 
germinação
e ainda menores
colheitas
diante de toda 
minha chuva
de afetos e atenções
enxurradas talvez
entre inundações
e desertos
Diante de tantos nãos
ditos e não ditos
entre refúgios e
artifícios
enigmas e 
preguiças
nesse redemoinho 
de fogos
e águas frias
e geleiras mesmo
e vazios
levando em conta
minha frágil e nômade
tenda
cardíaca
que mais dia menos dia
despenca
ante tanto perrengue 
tanta pancada
e incêndio
considerando tudo
e um pouco mais
e nada
e apesar disso
e certamente por causa
reaviva em mim
aquele sistema de outrora
prefiro ficar
comigo e onde puder
de fato estar
onde sentir assim
óbvio
que faz sentido
dedicar
estou escassa
estou cansada
estou até mesmo
um tanto desamparada
sem casa e minhas asas
já quase não mais querem 
bater sem conseguir pousar
quero parar
quero esquecer
quero ficar

aqui 
comigo
e com quem
quiser
e vier
por conta própria
e risco

Erreur 404 - L´Imperatrice - apenas sente

Três ondas um mar



Cacaueira, lar de doçura, me leva, me acolhe. 
Três seres em êxtase, simplesmente entregues, 
feitas delícias em gestos, feitas frutas em flor
feitas raízes enlaçadas, feito asas enternecidas
Três ondas em um só mar, indo e vindo, unidas
Tantos tremores em pernas e braços, 
em cheiros e gostos, em levedos e abraços
tamanhos ardores e calores e afetos
maiores que todas as dores, maiores 
por todo amor

Tanta pele feita planície e colina
Em movimentos de ave e alegria
Tanto sentido feito caudaloso fluxo
paisagens afetivas ciclos da Vida
Balança meu coração, acalenta e cuida
Sinto parte, sinto arte, sinto mar

Gratitude e plenitude
E amoreza e naturaleza
Em sintonia estamos juntas
Em corpo e espírito onde quer que seja

Bebo teus seres, me dissolvo na dança
Respiro teus seres, me entrego no canto
Sinto teus seres, me encanto e quedo 
ébria brilhante e muito mais amada

Balançadas por Four Great Winds por Peia Machi

Cuidados Paz´cientes


O que significa cuidar?
Cuidar de si? Cuidar da outra? Cuidar para transformar o ambiente que nos cerca? Cuidar para evitar as violências que nos espreitam? Cuidar do cuidado? Cuidar da nossa capacidade de cuidar?

Faço-me essas perguntas há alguns muitos anos e as tenho feito bastante recentemente. Porque Cuidar é a ética sulizadora da minha vida. E Cuidar é a base mesmo da minha possibilidade de existir. Cuidar de mim, cuidar de ti, cuidarmos nós de tudo que em nós se manifesta.

Cuidar... 

Que requer? 

Cuidar da dor, do amor, da paz, da necessidade, do afeto, do gesto, da fome, do medo, da sede, do sono, do dia, da lua, da Vida, dos seres, de si, das sombras, das cavernas, das águas, das mágoas, dos traumas, das esperas, das quimeras, dos prazeres, dos deveres, das aventuras, das irmandades, das famílias, das alegrias, das sintonias, das rupturas, das quebras, das quedas, das fendas, das sendas, das feridas, das partidas, das perdas, das pedras, das queridas, das árvores e das aves, 
cuidar do amor e do infinito
cuidar do cuidado
da capacidade de cuidar

Danit - Naturaleza - vibrando

Corporeidade Poética


Tua razão não te define
Seu corpo é mais adentro
Pássaros distantes
Poesia no cimento
Você caminha sobre a Terra
Ela te aceita e te acaricia
Nos gestos do mar, no 
abraço do vento

Tua dor não é fronteira
Teu coração é mais intenso
Tua pele é mais prazer
Teu amor é capaz de ser
Nascimento e ressurreição
Floresta, fauna, rio, canção

Tua realidade não te aprisiona
Teu Universo é mais além
Feito de seiva e sangue e cor
de sonhos, alegrias, lunações 
Ele tem mais belezas
do que enxergas
É mais pleno do que imaginas

Em tua geografia tem colinas
tem vales, tem riachos
tem matas e templos
teatros e cavernas
de basaltos e ágatas
tem carícia e cuidado
tem quem te ame e te queira
e por onde andas tu semeias
mais amor do que podes colher
abundância tropical amazônica 
teus olhos me fazem ver
tuas mãos me levam até
teu corpo me faz dançar

Exilada, estrangeira
Sinta-se em casa aqui comigo
com tuas amigas e irmãs na vida
em tantas casas e corações
teu ser já pulsa poesia
Tanto te amo e te dedico
Tanto amor e companhia

Dance comigo Respira, de Natalia Doco

Imagem e poesia dedicada à Aiyra Angatu