sexta-feira, 25 de agosto de 2023

RetoMar

Retomar a Si
Reencontrar-se, reapaixonar-se por si
Descobrir-se novamente, reinventando a partir das pegadas e histórias
Não se trata de esquecer ou perder o que se foi,
Mas reconhecer e avançar, seguir, ir em frente, 
Não deixar que a mágoa tome conta do passado,
Tudo que vivi é sagrado, mesmo aquilo que doeu,
Mesmo que os últimos anos estejam tomados por períodos longos de dor
É preciso aceitar, transmutar, fertilizar o solo com essas cinzas
Quem eu sou e quem eu quero ser?
O que quero ser capaz de fazer?
O que posso fazer agora para avançar nessa direção? 
Descobrir, praticar, esperançar, 
Enfrentar novamente os medos
Cultivar a humildade de quem achava que era mais forte que seus medos
e se enganou e se apavorou e se deixou tomar por eles
Superar a arrogância de quem se sentia tão senhora de si
que se perdeu tragicamente
Mas está começando a se achar novamente


Casa Caracol, 19h43, começando a sair do poço profundo do sexto inverno tenebroso, ano do Escorpião (maio a setembro.2023)



sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

Lua Nova Vida Nova

Lua Nova
Céu estrelado
Posso reconhecer Gêmeos no Céu 
E o Cão Maior e seu focinho tão brilhante, Sirius
Sinto-me mais leve, depois de um dia longo
Dormi pessimamente noite passada, perdida em corredores repetidos numa mente exausta de ansiar pelo vazio 
Cansada de perguntar impossibilidades e derramar lágrimas 
Por causas sem sentido... 
Ao amanhecer, sem forças, caminho em direção ao Serviço... desagradável, mas necessário, de Servir... 
E já aí, a Vida dá-me mais um tapa na cara, irrita-me profundamente, cospe-me, provoca-me, dizendo-me o que fazer, 
Arruinando aquela manhã em remoeções estressantes e raivosas
Após, tento reconciliar-me com a Vida e ela me grita
"Para de olhar para mim e vai viver!" 
Me esquece, não vem em minha direção, nem mesmo se dê conta de minha presença, apenas Vive... Respira, cultiva pensamentos mais alegres e divertidos, faz o que te apraz, não volta mais... 

Agora, depois de caminhadas, fluxos, curas, resoluções, partilhas, criações e confissões mais que aconteceram neste tão longo dia... Sinto, percebo, observo - algo profundo aconteceu, uma chave enfim virou, e aquela fonte de desgosto e dor parece ter secado finalmente... A terra pode estar úmida ainda, possa ser que ainda molhe um cadinho, mas não mais nascerá nada dali... Que ela se torne um plácido deserto para cultivar a plena solidão de quem está enfim, mais uma vez, ciente de estar consigo e isso ser belo, pleno, suficiente... 

Não, Vida, não irei mais atrás de ti. Tenho mais o que fazer, tanto para fazer, já estou plena de Vida, não preciso buscar fora... Não preciso ir atrás.

Morada do Beija-Flor
Comunidade Campina, Vale do Capão, 
11 de fevereiro às 22h27

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

Labirintos de Afetos e Memórias Disassociativas

Tudo que vivemos nos afeta. Há afetações ligeiras e que passam desapercebidas e há afetações que se infiltram na geografia do ser como águas que procuram os lugares mais profundos e subterrâneos, acumulando-se em poços e câmaras. Há afetações que movem, outras que paralisam, algumas que causam prazer, outras dor, algumas que estimulam, outras deprimem. 

O que chamo de Afeto são as afetações que geram envolvimento, como as raízes  envolvidas em um solo vivo, gerando  conexões, estabelecendo inúmeras trocas, diálogos, relações profundas, fortalecendo tanto a planta quanto todas a diversidade de vida no meio. Eventualmente vivemos afetos profundos, intensos, que permeiam as inúmeras dimensões do ser, que são múltiplos, repletos de significados, variados em experiências, capazes de chegar a camadas mais difíceis de acessar de nossos interiores. E recorrentemente chega o tempo em que a origem desse afeto transforma-se, afasta-se, ausenta-se. Quando isso acontece e essa planta, antes tão nutrida, subitamente morre, é difícil conseguirmos nos ver livres de todos os efeitos que ela nos causa, mesmo finda a fonte ou ponte do afeto. 

Passamos a lidar com abstinências, faltas, fantasmas, ânsias de retorno ao estado anterior, ainda que tal não seja possível ou, às vezes, desejável. Todas as camadas percorridas pelas raízes, cada sensação, experiência, sentido, sentimento, elemento da vida que ficou conectada por essas ramificações, começam a demandar o que já não há mais. Tantas associações agora sem destino ou maneira de continuar existindo, mas, por não saber como desfazer-se, persistem, latejando dores, angústias, ânsias e desgostos.

Em muitos casos a fonte da afetação ausenta-se no sentido pleno, fisicamente. Não há mais nenhum contato. Nestes casos, a distância e o tempo, aos poucos encarregam-se de apodrecer todas essas raízes, para renovar o solo e torná-lo fértil novamente para novas vidas-afetos. Mas em outros casos, a fonte da afetação continua presente, ainda que não mais disposta a exercer o afeto. Nesses casos, a renovação é mais desafiadora, posto que o ser corre mais o risco de manter-se na ilusão de retorno, ante a presença, e fere-se constantemente, pela frustração da não reciprocidade evidente na presença-ausente. 

Como continuar convivendo com alguém que outrora nos provocou tanto afeto e agora já não nos oferece o que antes tanto nos impactou? Como tornar esses contatos menos dolorosos, fazer com que eles não ativem as ilusões e pulsões tristes da vontade de retorno, do ressentimento, do desgaste? 

Recentemente me ocorreu a possibilidade do fenômeno dos afetos desassociados. Um mecanismo subjetivo de filtro/bloqueio, em que se obriga, conscientemente, que as experiências com a pessoa que antes lhe provocara afetos, não possam gerar novas associações-marcas. Canalizar essas afetações para um lugar no inconsciente dedicado ao descontínuo, um espaço que aceite cada gesto e momento de forma isolada e aleatória, que não aceite as tendências de criar redes, conexões, construções. Um lugar atenuador de emoções, que obriga a redução drástica de cada efeito, que fragmenta e isola toda energia que chega, tornando-a o mais superficial e inofensiva possível. Uma espécie de anestesia da experiência, que quando ativada, impede qualquer intensidade, que corta qualquer tentativa de raiz e que não permite a ligação daquele instante com as antigas raízes em processo de decomposição. De modo que aquela trama complexa e profunda de outrora consiga, no seu tempo, desfazer-se, sem que esses processo seja constantemente interrompido e/ou perturbado pela presença-ausente da pessoa que antes tanto fizera parte e que hoje está apenas nas margens, às vezes nem isso, mas ainda ali, no campo dos sentidos. 

Imagino este lugar no inconsciente, a forma desse mecanismo de proteção para permitir a autorregeneração, como um labirinto, um lugar deliberadamente confuso, um tanto obscuro, cheio de reflexos e caminhos tortuosos, onde cada momento vivido é alocado de forma aleatória e fragmentada, de maneira que nunca consiga chegar no lugar onde as raízes antigas estão desfazendo-se. Um lugar onde nós mesmas não consigamos nem queiramos chegar, onde essas experiências podem ser prontamente esquecidas, perdidas e lá sumirem nesse vazio e escuridão, posto que não há mais a se fazer com elas... 

Uma maneira de suportar e superar a ausência-presente, o vazio com o qual, paradoxalmente, precisa-se conviver...

Uma maneira de não enlouquecer nos loops de pensamentos e sentimentos repetitivos, viciados, que não levam a lugar nenhum, pois que não há mais destino a seguir... Uma maneira de estancar a dor, a perda, o lento desfazer de raízes que antes nutriam e provocavam tanto bem e subitamente morreram... 

07 de fevereiro de 2021
20h, na Morada do Beija Flor, Comunidade Campina
Ao som do álbum Conatus, de Joep Beving 

sábado, 16 de novembro de 2019

Passagem


Um rio coberto de brumas separa o Antes do Depois
Quantas mortes foram necessárias para chegar no Aqui?
Quantas mortes mais até o próximo Agora?
Aquela vida citadina parece longínqua
Será que fui eu mesma que ali viveu?
A sensação é que sempre estive aqui
Mas todo dia me choca a realidade diante
dos olhos que se apresenta tão bela
mais bela do que aquela encarnação
enclausurada nos mausoléus
cobertos de fuligem

No som mágico desta trilha


quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

Respiro


Te sinto
e a Alegria salta sobre mim
morde minha pele e arrepia 
Sinto no estômago uma doce
Euforia que me anima e aquece
O Carinho se aproxima e toma meu
corpo em busca do teu corpo para
um tanto mais nos unir
Ligeiramente, descendo pela nuca
até os quadris, o Desejo me guia
num exercício de descoberta
e cultivo de nosso prazer
O prazer divino da conexão
de energias/movimentos
sinceros e entregues
Meus pés ficam trêmulos 
querendo beijar e roçar 
os teus tornozelos
Todos os teus cheiros
dançam com meus sentidos
fazem cambalhotas dentro de mim
e elevam meu amor  
às camadas mais quentes
da atmosfera afetiva
Sinto-me tão acolhida
em nossas buscas afins
caminhando contigo
para caminhos partilhados
Sinto-me agraciada
pela oportunidade
de partilhar contigo
um pouco desta jornada.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

Entrega

Nunca me sinto mais presenteada
Do que quando você recebe algo de mim –
Quando você compreende a alegria que sinto ao lhe dar algo.
E você sabe que estou dando aquilo não
para fazer você ficar me devendo,
Mas porque quero viver o amor
que sinto por você.
Receber algo com boa vontade
pode ser a maior entrega.
Eu nunca conseguiria separar as duas coisas.
Quando você me da algo,
Eu lhe dou meu receber.
Quando você recebe algo de min
Eu me sinto tão presenteada.

Canção ‘Given to’, composta por Ruth Bebermeyer em 1978
Descoberto no livro Comunicação Não-Violenta, p. 23, Marshall B. Rosenberg


domingo, 3 de fevereiro de 2019

Autoestima

Ama
Libera o fluxo de amor
Sente o amor que brota inevitavelmente dentro de ti
Abre as janelas da fonte de amor
Deixa soprar os ventos que expandem o amor
Esse amor dentro de ti, dentro de si
Somos vulcões de amor 
lançando fagulhas e calores amorosos 
a todo instante

Não julga
Em estado de amor
observa a si mesma
Aceita cada parcela, 
sente cada movimento
toma consciência dos teus 
processos e limitações
tensiona e amplia tuas fronteiras
transforma-te por meio deste amor
ama, ama, ama absurdamente
Ama a si, ama a ti, ama apenas
Ama em tudo, a todo instante
Caminhando, ama,
Cozinhando, ama,
Dormindo, ama,
Lendo, ama,
Em companhia, ama,
Sozinha, ama,
Na multidão, ama,
No deserto, ama
A todo instante, apenas ama

Ama como quem respira
Em fluxos interiores e exteriores
Percorrendo o amor cada célula
restaurando, reparando os conflitos
superando as dores, cicatrizando as feridas
ama todos os elementos que te compõe
o fogo do Sol, o fogo do espírito
a água da Vida, a água do sangue,
a terra do Planeta, a terra da carne
o vento da Atmosfera, o vento do respiro
Ama cada ser que neste universo se manifestou
em todas as suas facetas
Ame, pois são você, são tuas parentes, 
são outras possibilidades de ti mesma

Ame a si e assim fazendo, ame tudo, 
pois tudo somos...

Não importa os padrões, as imposições, as violências
de sociedades suicidas...
Ame apenas, independente do que te julgam, 
do valor que te atribuem
Não importa os preços ou as etiquecas
Ame apenas, para além das barreiras
e das ilusões de separação
Ame a União, a integração do Arco-Íris
A infinitude multicolorida
De todo amor que existe. 

All Related - Nessi Gomes 

quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Ursa Maior


Nem a Grande Muralha da China seria
suficiente para impedir as vastas hordas
selvagens e sôfregas e escandalosas
e ardentemente erráticas 
deste amor proscrito e secreto
indiscreto que inunda
nossos corpos de chuvas
suadas e trêmulas
e absurdas

Nem a Grande Barreira de Corais
poderia conter tamanho resplendor  
em infinitas manifestações de cor
de sabor de gestos e ardores mil
nesta civilização sutil
de sentimentos e quereres
e cardumes de êxtases 
em danças profundas
e entregas marítimas

Talvez apenas na amplidão 
que existe na constelação
da Ursa Maior 
possamos encontrar um lar
suficientemente grande
para nossas tempestades
solares e explosões noturnas
onde nos sentimos 
libertas das limitações
terrenas e nos permitimos
viver todo amor do cosmos

 

 

Gotas de instantes


I

Olhos fechados, brilhos variados
Roxo, azul, formas aladas
Tenho mistérios
no escuro dos olhos

II

Pintei nos cabelos
minhas verdades antigas
cores sinceras
leia-me os cachos

III

Cuidar de si em ti
ouvir o tempo quieto
aguardar o incerto
confiar no sim

IV

Ver la cidade
Adrenalina, beira morte
emoções vibram e guiam
na garupa sobre rodas

V

Carrega nas costas
tuas escolhas sobreviventes
o que não se perdeu
é mais do que suficiente

VI

Sinto-me crua
sem meus 7 anéis
e seus segredos poderes
que me protegem

VII

Órgão mural 
de pelos e toques
submerjo tintas
e conto histórias

VIII

Amo tua vibração sonora
que canta paisagens de afetos
e semeia sensações e gestos
no meu ouvido 

IX

A arte de amar
a arte de ser
sublime poder
praticar 

X

A água aguarda
na garrafa contida
ali está escrita
a essência da vida

Ao som da chuva

sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

Desa(mar)


Não deu tempo. A vida é assim. Às vezes demasiada fugaz. Qual a diferença da vida para o sonho? De repente acordamos e o sonho acabou... foi apenas um sonho? Foi real? O que importa? Descartável... insignificante. Do alto da montanha, o vento leva e se desfaz. O sorvete derreteu, a maré baixou, os pássaros migraram para o norte. A brisa fria arrepia a pele acostumada com o frio. A Natureza ensina a passagem dos ciclos. Solstício de Verão com algumas geadas. O brilho do sol se apaga nos olhos, o universo é o negro infinito, afinal. Sentimentos nos afastam, medos, estranhamentos, incompreensões, vontades de controle, os ventos que tocam as bocas incomodam. Não importa. Repentinamente a cura, a dor, a paz, o fim, as folhas, as cinzas. A aventura tem quedas e cavernas. Quem tem coragem de entrar? Quem pode resistir? Viver é liberdade, ainda que hajam tantos arames farpados e correntes pela vida. Escravidão é o medo, o impedimento, é o que nos segura, não nos deixa viver, nos retém, nos limita, nos afasta do Amor que brota, que surge espontaneamente, que cresce no peito... escravidão é não amar, fugir do amor, ter medo... 

Gratidão Vida pela oportunidade de vivê-la. 

Não há dor que não passa - Assuma - Castello Branco

segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Presença


Tua presença me contempla
Acolhe-me, conecta-me inteira
Envolve-me em uma nuvem de alegria serena
Meu ser percorre tua paisagem espiritual, 
teus caminhos corporais
tuas profundidades existenciais
Cada centímetro da minha pele quer comungar
com cada centímetro da sua pele
Nossos corpos um só templo
para meditações transcendentais 
para imersões viscerais
para zazens amorosos e sensuais
para estudos e revelações 
sabedorias partilhadas e unidas

Sinto em mim um profundo sentimento
de Gratidão
pela oportunidade de sentir-te comigo
por sentir-me parte de ti
por olhar-te nos olhos e ver-te profundamente, encantada
e sentir-me profundamente vista, percebida, conectada

Sinto em mim um arrebatador sentimento
de Amor
entregue sem medo, em prontidão, aqui e agora
confiante no mistério do absurdo dos encontros mágicos
Olhando, ouvindo e cantando em teu coração 
E convidando-te para estar e brincar no meu coração

Sinto em mim um deslumbrante sentimento
de Beleza
Pela existência criativa, pelas possibilidades inspiradoras,
pelas curvas e linhas de todos os sorrisos de teu corpo
pelo brilho que emanas, pelo brilho que me causas
pelo prazer integral que todo meu corpo sente contigo

Amor cósmico, suave intensidade, poderosa ser de amor
dedico-te disciplina, concentração e paciência
para aprender e praticar a arte de te amar
de contigo estar em profunda atenção ao teu ser
em busca de nos comunicarmos e cuidarmos
de compartilharmos nossas necessidades e sonhos
e da melhor forma cultivarmos os instantes e eternidades
que juntas vivermos

Transbordando ao som de Raio - Cuñac (Mose Remix)

terça-feira, 11 de dezembro de 2018

Companheirismo (?)


Presença?
Atenção?
Dedicação?
Adequação?
Preocupação?
Ocupação?
Cuidado?
Carinho?
Atividade?
Pronta Entrega?
Pronto Atendimento?

O que é companheirismo? Um desejo? Uma sensação? Uma prática? Uma missão? Uma obrigação? Uma necessidade? Um luxo? Um privilégio? Um ideal? Uma possibilidade?

Áries - Preciso de você, agora, vem!

Touro - Tem certeza? Agora neste instante? Calma, vou já, preciso terminar algumas coisas, não sou assim tão rápida...

Gêmeos - Me explica o que tu precisas, de onde vem essa necessidade, por que você quer fazer deste jeito? Por que não de outro? Por que essa pressa? Próxima semana não seria melhor? Vamos conversar antes de resolver?

Câncer - Ei, saudades de você, vem aqui, me dá carinho, tô me sentindo triste, preciso de amor, vem me abraçar, me aquece...

Leão - Acho importante sua necessidade, mas também tenho necessidades. Vamos combinar direitinho como afinar as nossas? Vai dar certo, estou segura disso, mas precisa ser de uma forma que todas fiquem bem. 

Virgem - Me manda o cronograma, exatamente o que você precisa para a gente agendar direitinho o melhor dia de fazer cada coisa. Por escrito. 

Libra - Gosto tanto de você, vamos ficar um pouco juntas antes, durante... depois também seria incrível. Vamos nos amar? Você está tão bonita assim, intensa e transformando sua vida...

Escorpião - Não é assim que funciona. Não suporto ninguém me exigindo nada. Eu adoro ajudar, me entregar, mas com harmonia nos tempos, com cuidado. Não adianta cobrar. O que eu dou, é seu. O resto é meu. 

Sagitário - Pode ser próxima semana? Porque essa semana já tem várias coisas marcadas, várias urgências, emergências, demandas, necessidades... preciso cuidar de mim, não estou bem, preciso de ar, de água... de mar... preciso ir...

Capricórnio - Tá, tudo bem, já que é tão urgente, a gente dá um jeito. Como podemos fazer? 

Aquário - Não dá mais pra fazer? Ok, não tem problema. Não posso resolver todos os problemas nem atender a todas as necessidades. Não dou conta nem das minhas na hora "ideal", quem dirá da das outras pessoas. 

O que é companheirismo afinal? Muitas definições ou vontades possíveis...

Companheirismo seria o cotidiano de afeto e cuidado? Os gestos diários de atenção, de preocupação, de retorno, a presença ativa, a frequência afetiva intensa? A disponibilidade para acolher e apoiar na medida das possibilidades?

Ou companheirismo é uma dedicação exclusiva? Uma disponibilidade total a qualquer hora, em qualquer momento, independente do motivo, independente da urgência, chamou, chegou? Seria saber como agir como a outra pessoa gostaria que agíssemos? Ou como ela mesma agiria na mesma situação? 

O que seria companheirismo? A soma de tudo? Ou múltiplas equações possíveis? 

Certamente que não há uma definição absoluta... mas a busca constante de cada ser em atender suas necessidades desse elemento que podemos chamar, às vezes, talvez, de companheirismo...

Na cura de Territory - The Blaze 
Imagem de Mariana Caldas

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Ser Mágica do Bosque Sagrado


Segue em frente, dizia uma voz misteriosa que me parecia emanar das árvores velhas daquela floresta ancestral. Mas o 'em frente' que essa voz me incitava era basicamente uma parede de arbustos um tanto espinhentos. Um pouco desconcertada, resolvi confiar e descobrir para onde esse caminho um tanto complicado e delicado poderia me levar. Desembainhei Ferroarda Ilaminada, meu sabre mouro encantado, capaz de esquentar ante a presença de ameaças, e comecei a abrir a trilha por entre aqueles cipós e galhos ressequidos e duros. Curva para a esquerda agora, segue por esta colina, subindo, atravessa esse desfiladeiro saltando com este cipó e as indicações absurdas continuavam, me levando sabe-se lá pra onde, por horas a fio. A água de meu cantil já estava quase no fim quando escuto um som reconfortante de riacho. Ainda bem, pensei, vou reabastecer meu cantil. Preciso de comida também, e continuei com os últimos golpes até um descanso necessário. Quando a lâmina abriu o primeiro olhar para a água, me deparo não com um riacho, como pensara, mas com uma lagoinha com uma cachoeira ao fundo. E banhando-se sob águas que brilhavam ante a luz que já se punha, havia uma mulher ou um ser mágico, não saberia dizer, de pele negra, nativa, cabelos ondulados e profundos, seu corpo inteiramente molhado e nu, olhando-me como se me esperasse. Caminhei até a margem da lagoa e novamente a voz das árvores me disse Dispa-se. E puxando apenas alguns laços em minhas vestes, elas se desfizeram e caíram na areia. Entrei na água, deliciosamente morna, e nadei em direção àquela pessoa que atraia meus sentidos e meus mistérios. O som da cachoeira tornou-se mais melódico, como se ondinas, elementais da água, ali cantassem. Em instantes meu rosto estava a centímetros do dela, seus seios quase tocando meus mamilos. Ela então me fez sentar na areia neste ponto da lagoa em que tinha a água pela cintura, e enlaçou meu corpo com suas pernas, sentando-se sobre meu colo já inquietado por sua presença. Envolveu-me com seus braços, pude sentir os mamilos dela roçarem meu peito, acelerando ainda mais meu coração. Estou aqui com você, não tenha medo, quero te fazer bem, muito bem, ela sussurrou no meu ouvido e delicadamente encostou seus lábios grossos e fortes em meu pescoço. A medida que ela beijava minha pele, meus músculos paravam de doer e as inúmeras feridas que a trilha me causara se curavam instantaneamente. Ela continuou beijando minha pele, enquanto seu quadril posicionava-se em mim, permitindo-me adentrar seu interior tão acolhedor. Ela segurou meus braços e colocou minhas mãos em sua cintura e me olhou nos olhos penetrando-me com sua presença poderosa. E senti um impulso tomar meu coração, beijando aquela boca encantada e curadora em gratidão e celebração daquela magia, daquele poder, daquela beleza, daquele ser que estava ali comigo por milagre, por mistério da floresta que me levara até ali. E nossos corpos iniciaram uma dança cósmica que galgava profundidades e montanhas de sensações de imenso prazer e espanto. Sentia que meu corpo poderia desmanchar-se a qualquer momento e ao mesmo tempo meus músculos nunca se sentiram tão vigorosos e desejantes daquele corpo que sobre mim dançava. Eu a amava, ainda que nunca a tivesse visto antes, ou ao menos era o que eu pensava. Mas talvez ela já me conhecesse tanto, de tanto tempo, ela já me observava e sussurrava no meu ouvido tantas mensagens e conselhos. Talvez eu já a conhecesse de cada flor e cada paisagem e cada toque vegetal e mineral que eu já sentira. Eu já a beijara nas ondas do mar, já a tocada escalando um monte, já a penetrara ao adentrar cavernas. Porque aquela mulher não era simplesmente um ser, era uma energia pura, uma manifestação da Vida, um movimento que me envolvia e tomava, inebriando e resgatando, trazendo-me de volta para o âmago da Beleza. Seu corpo exigiu de mim explosões, exaustões, exasperações, dentes e fluidos. E quando eu achei que ia desmaiar, ela me levou e nos deitamos na areia, abraçadas, pernas e braços entrecruzados, observando o infinito das estrelas em nossos olhos. 

TransTornada


Sua potência intensa se funde comigo
Inundo-me de teus prazeres, quero ir além
Alcançar o desespero, percorrer constelações
por todo teu corpo inscritas, suas galáxias
seus mundos me fluem 

Suas colchas de histórias, sua vida de memórias
suas marcas de combate, cada iniciação que vivestes
compartilha comigo, peço, pois amo e cresço
e tanto desejo poder compartilhar 
e contribuir com teu
crescimento

Amo
Celebrar teu ser
Estar contigo e me entregar
Não temer as maiores alturas que somos 
capazes de alcançar
Não temer a translucidez dos desejos
e dos corações
e dos corpos nus 
e das almas nuas
Praticar o amor-coragem
Este sentimento-montanha
Esta emoção-dragão
Que voa até as estrelas e dorme nas profundezas
Praticar contigo a magnitude de ser quem posso ser
Em contemplação e conexão com a grandeza que podes ser

Te desejo enquanto vulcão que me lava
Te cuido enquanto rio que se transforma
Te cheiro enquanto selva que me conecta
Te descubro enquanto labirinto que geme
Desenho no coração tuas linhas e sons
Tatuo na memória cada belo instante contigo

Tomando Banho contigo, de Elza Soares

quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Autogestão do Tesão: chamas, tentações, responsabilidades e autocuidados


Fogo, chama, lava, magma, incêndio, explosão, erupção, corpos, choques, toques, marés de vai e vem, movimentos, atrações, gravidades, seres e magias...



Tesão...




Algumas pessoas despertam, outras não. Alguns sonhos acendem, outros não. Por algumas pessoas emoções e sensações gritam, por outras não. Certas situações cultivam, outras não. Arrebatamentos visuais, energéticos, cardíacos, olfativos, oníricos, auditivos, táteis, genitais, sinestésicos... 



"Resisto a tudo, menos à Tentação"? Sim, talvez, não, jamais... não vale a pena... leve demais, qualquer brisa sopra longe, desaparece, esquece... vai e não me leva, fico, canso, perco, desisto... segura, aperta, força, cuida, calma, respira... 



Tenho dentro de mim um vulcão... Um encontro da Terra com o Fogo e os Ares aquecidos do coração da Terra. E este canal de conexão com o calor vital do Universo me afeta de formas poderosas. Às vezes querendo consumir-me inteira, outras vezes me impulsionando para as direções e movimentos que preciso seguir.



Tenho dificuldade de lidar e cuidar dessa energia intensa e cáustica, mordaz e transmutadora que muitas vezes me quebra janelas e portas, paredes e tetos cardíacos. Como aprender a gerir e canalizar essa força para o que sinto ser necessário? Como evitar a dispersão dessa beleza vibrante em direções sem reciprocidade?



Porque o Tesão quando é recíproco, seja por pessoas ou por momentos em que nos sentimos no lugar certo na hora certa, quando o Tesão está de fato conectado, é capaz de nos transportar para outras dimensões e nos dotar de sabedorias e experiências transcendentes. Mas quando o Tesão se manifesta espontânea e deslocadamente, jogando-se em rochedos ou vazios, pulando simplesmente sem olhar o tamanho da queda, entregando-se ao vácuo, ao frio externo, à ausência ou indiferença... quando tal acontece, causa um enfraquecimento de si severo, pois que um grande calor interno simplesmente se esvai a troco de nada, sem o mínimo de partilha, de cuidado mútuo... 



Não é viável. Não é desejável. Não contribui e nos subtrai em muitos casos e cacos. Porque é bonito nos permitirmos sentir e querer tantas belezas e sensações que nos provoca a Vida. Mas quando nossa beleza interior se deteriora por isso, quando nossa autoestima/autoimagem se vêem diante de indiferenças e frios alheios, sentindo-se desimportante e insignificante, sentindo-se ignorada e esquecida, desprezada e rejeitada, o Tesão se corrói e nos destrói. Esfria e esvazia. Fragiliza e imobiliza. 



E esse movimento de baixa, de introspecção emergencial de reparação, de encavernamento, também é importante e necessário. Mas podemos torná-lo menos frequente, guardá-lo para momentos especiais em que queiramos desbravar caminhos mais profundos de nós mesmas... Não precisamos nos ver caídas e jogadas nessas fossas abissais interiores por simples descuido...



Desta forma, tomemos consciência e autonomia sobre o processo, guiando o Tesão para os caminhos mais criativos e cuidadosos, tornando esta labareda mais intensa e bonita, mais acolhedora e querida. 



Praticar a calma, a quietude, o fogo baixo, cálido, suave, que queima de forma poderosa quando deseja, quando precisa, mas em busca do equilíbrio dinâmico necessário, cuidando dos tempos e das distâncias, das aproximações e das perdas. 



Guardiã do Fogo Sagrado, não deixar que ele queime tanto que arrisque apagar por ter consumido todo seu próprio combustível. Queimar de forma madura, em busca e criando seus próprios combustíveis e bebendo das combustões partilhadas pelo caminho. Mas de forma responsável, autocuidadosa, e outrocuidadosa, capaz de iluminar a escuridão, sem esquecer que a treva é maior e que se perder faz parte, mas saber enxergar no escuro e retornar para o próprio fogo também é parte da arte. 


Na melancolia de Vendredi sur Mer - Les Filles Désir

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Respirar

Aprendendo a andar
Aprendendo a nadar
Aprendendo a voar
Aprendendo a ser
Aprendendo a morrer
Aprendendo a amar
Aprendendo a nascer
Aprendendo...

145 marcas de combate
14 décadas de Vida Própria
10 anos por ano
Vivendo cada segundo
Extrapolando o tempo
Viajando por dimensões várias
Expandindo o ser e o estar
Conectando o aqui, o agora e o além
Muitas tribos, clãs e famílias
Conexões Infinitas
Inúmeras casas e mudanças
Incalculáveis mortes
4 mapas astrais
Incontáveis afetos astrais
Tantos labirintos e percursos
Infinitas casas e enfim nômade
Libertando-se sempre
Descobrindo as prisões persistentes
Múltipla e em expansão tenda cardíaca
Vida Demais que não me Cabe

Ao ritmo de Ja Ja - Elega al Che

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Despetalada


Me quer não me quer
Em minhas idas e vindas
Tantos fluxos interrompidos
Desperdícios
Precipícios
Atrações 
e rejeições
Entre o possível
e o inútil
Nesses processos 
vãos
de tão pequena 
germinação
e ainda menores
colheitas
diante de toda 
minha chuva
de afetos e atenções
enxurradas talvez
entre inundações
e desertos
Diante de tantos nãos
ditos e não ditos
entre refúgios e
artifícios
enigmas e 
preguiças
nesse redemoinho 
de fogos
e águas frias
e geleiras mesmo
e vazios
levando em conta
minha frágil e nômade
tenda
cardíaca
que mais dia menos dia
despenca
ante tanto perrengue 
tanta pancada
e incêndio
considerando tudo
e um pouco mais
e nada
e apesar disso
e certamente por causa
reaviva em mim
aquele sistema de outrora
prefiro ficar
comigo e onde puder
de fato estar
onde sentir assim
óbvio
que faz sentido
dedicar
estou escassa
estou cansada
estou até mesmo
um tanto desamparada
sem casa e minhas asas
já quase não mais querem 
bater sem conseguir pousar
quero parar
quero esquecer
quero ficar

aqui 
comigo
e com quem
quiser
e vier
por conta própria
e risco

Erreur 404 - L´Imperatrice - apenas sente

Três ondas um mar



Cacaueira, lar de doçura, me leva, me acolhe. 
Três seres em êxtase, simplesmente entregues, 
feitas delícias em gestos, feitas frutas em flor
feitas raízes enlaçadas, feito asas enternecidas
Três ondas em um só mar, indo e vindo, unidas
Tantos tremores em pernas e braços, 
em cheiros e gostos, em levedos e abraços
tamanhos ardores e calores e afetos
maiores que todas as dores, maiores 
por todo amor

Tanta pele feita planície e colina
Em movimentos de ave e alegria
Tanto sentido feito caudaloso fluxo
paisagens afetivas ciclos da Vida
Balança meu coração, acalenta e cuida
Sinto parte, sinto arte, sinto mar

Gratitude e plenitude
E amoreza e naturaleza
Em sintonia estamos juntas
Em corpo e espírito onde quer que seja

Bebo teus seres, me dissolvo na dança
Respiro teus seres, me entrego no canto
Sinto teus seres, me encanto e quedo 
ébria brilhante e muito mais amada

Balançadas por Four Great Winds por Peia Machi

Cuidados Paz´cientes


O que significa cuidar?
Cuidar de si? Cuidar da outra? Cuidar para transformar o ambiente que nos cerca? Cuidar para evitar as violências que nos espreitam? Cuidar do cuidado? Cuidar da nossa capacidade de cuidar?

Faço-me essas perguntas há alguns muitos anos e as tenho feito bastante recentemente. Porque Cuidar é a ética sulizadora da minha vida. E Cuidar é a base mesmo da minha possibilidade de existir. Cuidar de mim, cuidar de ti, cuidarmos nós de tudo que em nós se manifesta.

Cuidar... 

Que requer? 

Cuidar da dor, do amor, da paz, da necessidade, do afeto, do gesto, da fome, do medo, da sede, do sono, do dia, da lua, da Vida, dos seres, de si, das sombras, das cavernas, das águas, das mágoas, dos traumas, das esperas, das quimeras, dos prazeres, dos deveres, das aventuras, das irmandades, das famílias, das alegrias, das sintonias, das rupturas, das quebras, das quedas, das fendas, das sendas, das feridas, das partidas, das perdas, das pedras, das queridas, das árvores e das aves, 
cuidar do amor e do infinito
cuidar do cuidado
da capacidade de cuidar

Danit - Naturaleza - vibrando

Corporeidade Poética


Tua razão não te define
Seu corpo é mais adentro
Pássaros distantes
Poesia no cimento
Você caminha sobre a Terra
Ela te aceita e te acaricia
Nos gestos do mar, no 
abraço do vento

Tua dor não é fronteira
Teu coração é mais intenso
Tua pele é mais prazer
Teu amor é capaz de ser
Nascimento e ressurreição
Floresta, fauna, rio, canção

Tua realidade não te aprisiona
Teu Universo é mais além
Feito de seiva e sangue e cor
de sonhos, alegrias, lunações 
Ele tem mais belezas
do que enxergas
É mais pleno do que imaginas

Em tua geografia tem colinas
tem vales, tem riachos
tem matas e templos
teatros e cavernas
de basaltos e ágatas
tem carícia e cuidado
tem quem te ame e te queira
e por onde andas tu semeias
mais amor do que podes colher
abundância tropical amazônica 
teus olhos me fazem ver
tuas mãos me levam até
teu corpo me faz dançar

Exilada, estrangeira
Sinta-se em casa aqui comigo
com tuas amigas e irmãs na vida
em tantas casas e corações
teu ser já pulsa poesia
Tanto te amo e te dedico
Tanto amor e companhia

Dance comigo Respira, de Natalia Doco

Imagem e poesia dedicada à Aiyra Angatu