quinta-feira, 26 de novembro de 2015

#AmigoSecreto


Todas as pessoas que eu amei, amo e vier a amar, ou simplesmente me relacionei, me relaciono ou vier a me relacionar: 

Eu fui socializado como homem, eu fui ensinado pelo machismo, o patriarcado e demais ideologias dominantes milhares de coisas que às vezes nem tenha consciência ou percepção. Por mais que eu te ame, te queira bem, queira te fazer bem, queira te cuidar, queira contribuir com sua vida, sua autonomia, sua liberdade, seu crescimento, sua emancipação, seu embelezamento do ser e estar, por mais que eu questione, problematize, desconstrua e transforme em mim essa carga histórica, cultural e psicológica do machismo, patriarcado e demais ideologias dominantes, mesmo assim, com tudo isso, alguma coisa ruim pode acontecer, eu posso cometer algum erro, fazer algum gesto sem me dar conta, e te magoar de alguma forma, te causar um sofrimento que eu não queria e vamos ambos sofrer com isso por muito tempo, pra não dizer enquanto nossas memórias existirem. 

Sendo assim, diante dessa compreensão súbita, me entristeço de antemão, percebo com muito pesar e infelicidade este peso trágico, histórico, horrível que carrego por ter nascido homem (por mais que hoje e cada dia mais tenha repulsa, desagrado, não me identifique em nada e seja qualquer coisa menos um homem, sou uma pessoa, sou um ser em movimento, sou o nada, sei lá) pois sei que provavelmente irei te magoar, te causar algum sofrimento e peço perdão desde já. Não foi minha intenção, fico muito triste por tudo e tenho a profunda necessidade de transformar tudo isso, essa realidade cruel e violenta, esse mundo escroto e maldito, para que um dia, quem sabe, possamos viver num mundo onde todas sejamos pessoas, sem relações de poder, opressão e violência.

Imagem: Mariana Caldas

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Amor em Toda Ação: Notas sobre Relações de Amor Profundo


O amor é como a água. Abundante, sustenta e floresce a vida, fluido, em movimento, transborda, transpira, transforma, chove, cai, molha, arde, inunda, sacia, alegra, embeleza...


O que significa se relacionar? Como estabelecemos nosso estar no mundo entre todos os seres vivos? O que queremos com essas relações? Por que estabelecemos estas relações?

Eu brinco que eu tenho uma personalidade antisocial altamente sociável. Isso porque gosto muito de estar só, de fazer minhas coisas, pensar sobre a vida, rir só, cuidar de mim, ouvir música, dançar, cuidar do jardim, criar, escrever, dormir, tomar banho, sentir-me comigo. Mas ao mesmo tempo tenho muito prazer em conviver com pessoas queridas, pessoas com quem aprendo, cresço, compartilho e para quem me doo, me dou e com elas me sinto bem. Minha casa e minha vida vivem cheias de gente. Adoro cozinhar junto, papear, cuidar do jardim, dormir fazendo cafuné, ver filme, fazer massagem, tomar banho junto, amo aprender com as outras pessoas, desde coisas simples que resolvem problemas bobos do dia-a-dia até histórias de vida e visões de mundo que me provocam e transformam profundamente, e adoro compartilhar qualquer coisa que eu saiba ou que seja importante para mim com todas as pessoas.

E eu amo muito. As pessoas, suas histórias, a vida, plantas, sabores, comida, arte, fazer as coisas com as minhas mãos, minha intuição, aprender e ensinar. Há muito tempo venho refletindo sobre o que significa viver o amor. Libertar o amor para todas as situações, não só as relações afetivas-conjugais-sexuais. Libertar o amor para todas as pessoas, não só aquelas que nos despertam atração e tesão. Libertar o amor para tudo que existe, não só os seres humanos e a cultura humana.

Isso significa nos transbordarmos sem medo, impregnando nossos gestos de carinho e cuidado em tudo que fazemos com quem quer que seja, pessoa próxima ou distante, conhecida ou desconhecida, humana ou não. Como seria tratar alguém sentada ao nosso lado e com quem começamos a conversar no ônibus com a mesma atenção e dedicação que temos para com alguém que nos acompanha há anos e que confiamos? O que significa respeitar alguém que acabamos de conhecer na rua com a mesma intensidade que respeitamos alguém que admiramos profundamente? O que significa cuidar de tudo que nos cerca com a mesma profundidade que gostamos de ser cuidados quando não estamos bem?

É isso que tenho tentando experimentar, praticar, aplicar, vivenciar intensamente. Fazer com que todo abraço seja sincero, demorado, entregue, caloroso. Que todo olhar busque de fato enxergar o que está diante de nós, percebendo profundamente, com atenção. Que todo ouvir realmente se permita ouvir, assimilar o que está sendo dito, refletir sobre o que a pessoa está me dizendo, compartilhando comigo, me expressando naquele exato momento e não sobre o que eu penso/julgo/critico sobre o que a pessoa me diz. Que todo gesto e toque tenha bem-querer, respeito, sincera preocupação com o espaço da outra pessoa, de modo a não invadi-lo, mas também sem medo de expressar afeto com a pele, numa massagem, num beijo, num acariciar os cabelos, num segurar as mãos ou cruzar as pernas.

Amor em toda ação requer um maior esforço, sim, do que estamos acostumados. Pois aprendemos com este mundo odioso a indiferença com o que nos cerca, o descaso pela vida, o desamor pelas pessoas e demais seres, o medo da outra e do diferente, o utilitarismo nas relações e as relações de poder, o machismo, o racismo, as outrofobias, os latifúndios e monoculturas afetivas, a mediocridade no viver mesmo, que nos aprisiona num viver mesquinho, pouco, vácuo, insensível, frio, árido, insípido, devastado, violentado e violento  até... E tudo isso drena e esgota nossas forças. 

Mas não é nenhum esforço sobrehumano. E quando vamos aos poucos nos libertando, problematizando e nos desfazendo de todas essas correntes, prisões, grilhões, bolas de ferro, focinheiras, ideologias dominantes, máscaras, mentiras, de repente amar se torna fácil, fluido, leve, simples. De repente nossa potência afetiva e emocional se fortalecem e superamos a atrofia a que fomos submetidas.

Afetar e nos deixarmos afetar. Afetuosidade vívida, ativa, brilhante, criativa, tranquila, humilde, despretensiosa, destemida, desfrutada. No cuidado das plantas, de todos os seres, da vida, da Terra, de si mesmo, da energia do universo, do tempo, do presente e das presenças.

Amar além, Amar em toda ação.

Me deixa amor - Lariza Xavier - para inspirar

domingo, 15 de novembro de 2015

Tudo ao ver você partir


Caracóis voam nos meus olhos
Felinos sobem pelos meus pelos
Libélulas ziguezagueiam as minhas pernas
Enquanto pássaros apertam o meu ar
Zebras embaralham minhas cores
Vagalumes aceleram meu pulsar
Vendavais de violetas me excitam
Tudo ao ver você chegar...

15/05/15
01:04

Evitar

Uma confiança intensa
como se diante do inevitável
Ou um querer que não aceita mais
ser guardado

Acontece que esse sentir parece tão simples e claro, 
brilhante e doce
que merece essa entrega, 
esse arriscar a ser
o que será.

15/05/15
00h57

Quero nada

"A qualquer momento você poderá ir embora, poderá sumir, não deixar rastros, se tornar ausência, se tornar nada".

Reaprendendo, relembrando, renovando.

Imagem: Mariana Caldas

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Presente



A liberdade é maravilhosa. Por ela, eu e você podemos nos confessar o que sentimos, sem restrições, podemos confiar uma na outra, sem medo de magoar – ainda que seja preciso sempre estar atentos ao bem-viver da outra pessoa – podemos nos apreciar verdadeiramente, sentindo a beleza que existe na imensidão uma da outra, nas tantas histórias que vivemos quando distantes, nos prazeres independentes que sentimos, nos sonhos que podem ser compartilhados, mas também podem ser próprios. 
 
A liberdade é leve. Ela brinca de carícia nos cabelos numa noite sem fim de músicas sugerindo paisagens e viagens imaginativas. Ela se diverte com um beijo bem gostoso dado no inusitado de que nos éramos quase desconhecidos. Ela brinca com tirar nossas roupas, alimentando-me a beleza do ser com teus seios delineados, charmosos, com minha nudez sem medo de estar contigo e de ser tocado, ser um brinquedo para tuas mãos e sensações. Ela adora nossa dança ao amanhecer, nosso apertar bocas e coxas, a liberdade ama pessoas que a vivem, que se permitem conhecer e querer sem condená-la. 
 
Você está gostando da noite? Tu me perguntas. E eu, que ainda não tinha te beijado a boca desde que há muito te deixara na rodoviária, me aproximei para te gostar, te gustar, te deliciar – e sentir que sim, a noite estava adorável, que contigo eu podia ser livre. 
 
E sentir teu gosto, vermelho, doce, alcoólico, fotográfico. Sob a luz vermelha do inferninho a gente brinca de estar junto, sem saber de nada além de que estamos ali. Nossas roupas não duram nunca. Esse lugar é destinado à nudez. A beleza que existe em ti colore nossa relação. Beleza de pele, beleza de olhos, beleza de histórias e gozos, de partilhas de segredos e proibidos. 
 
A liberdade é um presente. Por isso devemos vivê-la agora. Libertando e voando, querendo e cuidando, dando prazer e se dando prazer. Agradeço e celebro todas as pessoas que são livres por ampliarem a minha liberdade e voarem comigo. 
 
06/11/2015 - Alto Paraíso-GO, na mesinha do canto do cantinho Cravo e Canela, esperando a madrugada para voltar para mais perto de casa...