segunda-feira, 3 de março de 2014

"Ditos Diários" VIII

Sábado, 23:23

Deixa eu te dizer uma coisa absurda, quero te conhecer. Penacho multicolorido bailando na tua cabeça, saia preta brilhante, blusa branca semitransparente, sapatos de mocassim fazendo faíscas ao dançar, cabelos cacheados pretos levemente presos, levemente soltos. Abro e fecho os olhos, possuído pela loucura da dança, tomado em movimentos tantos, que me levam e trazem para mundos vários, e nesses flashes, reflexos e rupturas de universos, te vejo, te encontro, teus olhos nos meus, sorrindo sabe-se lá pra quem, pra mim? olhando para o infinito em que me encontro... A música tão forte, transpira ritmos nos ossos, transporta gingas nas veias, e eu e você nos olhamos, apenas, nos vemos, nos esquecemos de tudo ao redor, a não ser a dança e o outro. E passam-se horas que nunca deveriam ter chegado ao fim, que aquela conversa estava boa demais, todos os papos de tuas pálpebras, todas as graças de teus sorissos, as histórias dos teus olhos... Mas findou-se, afinal, os sons... e irrompeu-se o silêncio ponte ou precipício... suspenso, equilibrando-se para não cair... e ninguém sabe o que aconteceu, como, o que veio primeiro, o que aconteceu depois, mas nos falamos, apenas para nos conhecer... a conversa estava tão boa, que não deveria terminar, morena, vamos conversar mais? ei, menino, que passou a dança inteira me olhando, você é um doido ou apenas gostou do que viu/sentiu? e caminhamos, nos desvencilhando de pessoas e passos, buscando um lugar só para mais conversar, com olhos, palavras, sensações ou... ruas escuras a frente, árvores fantasmagóricas acima, calçadas de terra e eras, luzes distantes e amarelas, chegamos àquele lugar imenso, pista de bicicletas de terra, tão grande que longe das fronteiras... e no meio, um simples e impossível sofá amarelo, reluzindo ante a possibilidade de nos receber para conversar... e sem saber o que mais dizer, sem saber por onde começar ou sequer porque começar, de repente já estávamos no meio da conversa e nos finalmentes, que dispensam apresentações e prefácios, pois esse papo já chegou até o pescoço, até o canto da orelha, passou pelas mãos e braços, perdeu-se nas pernas, nos pés tocando-se e encontrou-se nas bocas e nos olhos fechados e videntes, nas histórias que a pele só conta quando enfeitiçada... 

Por aí - Bárbara Eugênia - balançando

Um comentário:

Samis disse...

que coisa
na vida a gente pede, e acontece.

=)