terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

esfumaçando


O chá está esfriando. Ninguém tocou no brownie em cima da mesa. A luz da tarde vai caindo, enquanto o vento derruba folhas que nunca terminam de cair. Balançando-se na cadeira antiga, medita sobre os caminhos, sobre os momentos vividos, sobre o tempo marcado na pele, na boca, no fundo dos olhos. Frustração é inevitável? pensa. Ou caminho para uma condição de estar sendo livre realmente, aceitando a todo momento toda mudança, toda partida antes mesmo que ela ocorra, ou vivo nesse balanço de vai e vem, vai e volta, vai e não vem, fica lá, deixa estar... Torna-se difícil até mesmo mensurar o que sentimos... tão forte e tão solto, tão intenso e tão efêmero, tão poderoso e sem mais nada, nada... Está quente, sem brisa... balança-se para refrescar... o movimento supera o calor estagnado... os cabelos dançam na frente dos seus olhos... leva a xícara a boca, enfim, e bebe longamente, respirando profundo cada fragmento de aroma, cada partícula ínfima de sabor cheiroso, ciente de que assim que beber, fará parte dele, não estará mais lá para um novo gole, mas será seu sangue... que amanhã se fará novo... E a saudade é inevitável? Sentiremos saudade sempre? Ou não mais saudade, mas lembranças agradáveis, acolhedoras, do que foi, do real, do concreto... não uma saudade do que ainda vai ser, de uma falta abstrata imaginariamente produzida... Concentra-se insistentemente no agora... repleto do que sente, repleto de abundância, alterna-se entre o destemor e e a sensação de perda antecipada... para quando a perda de fato vier, já foi... perder antes mesmo de perder... sentir-se sem ainda que diante de nós... e assim vivemos a presença que está e não está, o que é e que não é, ao mesmo tempo... e sente o sabor do chá dissipando-se na boca, indo embora, tornando-se lembrança ou nada...


Piledriver Waltz - Alex Turner - para esquentar...

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