sábado, 15 de fevereiro de 2014

"Ditos Diários" VII

Sexta-feira, 16:36

Deixe-me tirar estes teus óculos escuros, que a escuridão dos teus olhos me faz tão bem. Nessa praça ao cair da tarde pequenos seres mágicos fazem joguetes e acendem imagens invisíveis coloridas em outras cores além das que conhecemos e quando duas pessoas se olham nos olhos, eles ficam tão encantados que as envolvem com esse espetáculo sublime, transportando para nossas íris seus poderes sobrenaturais. Quando duas pessoas se olham nos olhos, mas de todos os olhos, porque o corpo inteiro é um olhar, é um direcionar para algo ou alguém, quando duas pessoas se encontram desta forma, sorrindo também com tudo, sorrindo para além mesmo de seus corpos, quando essas duas pessoas se descobrem perto, quase tão perto quanto de si mesmas, ou simplesmente perdem o referencial da pertura ou da lonjura, elas participam da criação do mundo, realizando uma energia tão poderosa que alcança todos os seres sencientes, ocasionando gozos inexplicáveis, transpassando dimensões temporais, destruindo tudo que separa para unir-se enfim tudo que se quer... O medo da tristeza e da solidão ou do apego e do excesso, nossas fraquezas, nossos fundos, nossos sensíveis, as formigas sobem pela grama e cortam em pedacinhos, nessa praça ao cair da tarde. As abelhas pousam e bebem as pontinhas desses desagrados, desses mal-estares, levando-os consigo e devolvendo-nos a doçura amarela do pôr-do-sol. Sinto o vento que emana de teus pulmões, querida. Não quero nada além de estar contigo, nesse cair da tarde de dias e dias e centenas de anos. Percebes como as folhas formam mandalas com suas veias verde-claro latejantes de vida e paixão? Há tanto amor em toda essa vida, há tanto querer mais na relva que dança para te animar, querida. De pernas cruzadas, um diante do outro, descalços, dedinhos dos pés tocando-se, dedinhos das mãos dedilhando-se. Olhos fechados olhando-se. Lábios dos dois simplesmente conversando na linguagem da pele. Cair de tarde de brisa e temperatura humana, morna, fresca, sua.

Palidez (un Aviso) - Rauelsson - desabrochando

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