terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Ar vou rir


Pulam, dançam, saltam, correm, sobe poeira, esvoaçam cabelos, mãos dadas, grande roda rodopiante, grande fogo flamejante, ritual pagão de celebrações vãs, idas, vindas, tantas que todas... tua mão na minha, guiando meus passos tortos, teu olhar no meu, abrindo os caminhos, vem, moço, vem pra perto, que a roda chega ao fundo da gente, que minha dança é meu segredo, que minhas mãos são um mapa do tesouro, diz enquanto canta, canta sem saber feitiços de fazer mundos de todos naquele círculo humano, fecha os olhos sem perder-se do caminho, segura na minha mão em um laço infinito. Vou, contigo meus sentidos ganham uma vida desconhecida, meus pés, meus cabelos, torno-me uma profusão de fogos vivos ganhando o ar, dançar é a única forma de viver, o tempo se torna um movimento, assim como o chão e o céu, já não sinto meu corpo aparte dos outros, já não sinto que meu peso importa, pois a roda nos sustenta, e é tão ligeira que nos desfaz... ei, vem aqui, te convido atrevido, quero uma roda só você e eu... em baixo daquela árvore donde eu brotei... pisa com teus pés descalços nessa grama em que eu vivi, sente o cheiro desse verde vivo de que eu me fiz, conhece minhas origens, percorre minhas raízes, vamos subir nesses galhos adentrando cada um dos meus mistérios, que são todos seus brinquedos, seus contentamentos, como a primeira vez em que eu cai, a primeira vez que vi o sol nascer, ou a sensação de que eu podia me erguer sozinho até o alto, que podia chegar lá em cima e fazer uma casa. Você me puxa para uma dança aconchegada, lenta, ainda que o canto da grande roda anime todos os pássaros. Nosso som silêncio acompanha o vento que traz das estrelas o ritmo e o tom, percebendo da noite a melodia e das folhas a harmonia... acarinhando teu pescoço, acarinhando o meu, nos contamos, nos dizemos, nos percebemos... e nos deitamos na grama e chegamos à constelação mais próxima... 


Beirut - Napolen on the Bellerophon - ventando

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