quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Manifesto das Relações Sinceras



Na busca incessante por relações emancipadoras, que contribuam com as pessoas envolvidas em suas realizações pessoais, individuais e coletivas, que estimulem suas autonomias e autoconhecimentos, que acolham e aqueçam, na medida das intenções e interesses, desejos e vontades, gravidades e espaços pessoais, na busca dos respeitos e reconhecimentos mais profundos pela outra pessoa, sem invadir, sem impor, sem enganar a outra e a si mesma, reflete-se e caminha-se na prática da Sinceridade.

O que significa a sinceridade e qual a importância/necessidade dela, seu lugar e dinâmica nos incessantes processos das relações humana?

Primeiro vale ressaltar que sinceridade não necessariamente, ou até de forma nenhuma, se relaciona com a Verdade, no sentido de algo único e absoluto, preciso e inquestionável. Entendo que como a própria vida, tudo, em especial nossas seres, sentimentos e movimentos são dinâmicos, impermanentes, passíveis e mesmo impregnados de contradições, complexidades obscuras, loucuras, inconscientes, problemáticas, insurgências e possibilidades. Diante de tamanha imprecisão, em se tratar de Sinceridade, creio não caber falar-se de Verdades, mas de expressões profundas, cuidadosas e atenciosas, íntimas, corajosas a expor nossas vulnerabilidades e erros, confusões e mudanças.

O conceito e a prática da Sinceridade, sintopenso, relaciona-se intensamente com nosso autoconhecimento, auto-observação e autoaceitação de nossos movimentos, processos, medos, desejos, sonhos, traumas, dúvidas, fraquezas, ânsias, vontades, feridas, entre outros elementos/sentimentos/acontecimentos íntimos, internos, conscientes e inconscientes, visíveis e invisíveis, compreensíveis e incompreensíveis (ao menos por hora). Uma busca incessante de perceber-se e ser-se o mais fielmente possível às nossas mais intensas e profundas aspirações, características circunstanciais, necessidades e sentimentos, sonhos e causas.

A partir desta autoSinceridade, passamos para a questão da mediação/comunicação entre esse íntimo/interior/eu/pessoal e quem e o quê nos cerca. Como expressar também da forma mais fiel tudo o que descobrimos sobre nós, que assumimos e escolhemos, queremos e buscamos? Vale ressaltar que o processo da mediação/comunicação passa também pelo conhecimento profundo, atento e cuidadoso da outra pessoa, que tem, igualmente, suas inúmeras características circunstanciais, históricos, modos de ser e estar, dificuldades e limitações, necessidades e sentimentos.

Existem infinitas formas de expressar qualquer coisa, do sentimento mais simples de vontade de algo, uma comida, uma ação, um resultado, até uma angústia complexa resultante de inúmeros fatores, gestos e repercussões. Nosso corpo, olhos, mãos, cheiros, roupas, cabelos, palavras, mídias – textos, imagens, sons, músicas, artes, etc, entre tantas linguagens que já inventamos e ainda iremos inventar. Cada pessoa relaciona-se e estabelece conexões diferentes a partir de diferentes linguagens. Algumas escutam melhor quando se canta/cantam, outras assimilam melhor quando veem, outras dizem mais quando dançam ou escrevem.

Uma expressão que julgamos a melhor para “dizer” o que queremos pode não ser a melhor para tal pessoa nos “entender”. Precisamos buscar outras formas, assim como a outra pessoa também precisa/poderia se dispor a ir além das próprias barreiras, transcendendo-as no caminho desse “encontro” de Sinceridades.

E mais do que tudo, Sinceridade demanda Coragem. Coragem é algo como aceitar nossos medos, nossas limitações, nossas fraquezas e ir assim mesmo, assumindo-se como seres em transformação, crescimento e realização, sujeitas de complexidades e profundidades sem fim, inacabadas e sendo sempre mais. Aceitar e entendersentir que tudo é mudança, e consequentemente nada é fixo e impossível de superar, nenhum medo, fraqueza ou erro. E diante disso, sentir-se capaz de ir além, de expor-se, de mostrar-se assim, frágil, mas forte, com medos, mas ciente deles e disposto a encará-los e superá-los, falível, mas capaz de aprender e fazer diferente.

Dizer o que queremos/precisamos dizer. Expressar o que somos/queremos ser. Transformar o que sonhamos e desejamos. Aceitar quem fomos e quem estamos sendo. Aceitar/ouvir/cuidar atentamente d/a/s pessoa/s com quem nos relacionamos ou queremos/viermos a nos relacionar. Se gosto, dizer gosto. Se não gosto, dizer não gosto. Buscando a melhor forma de expressar/comunicar e entendendo que podemos não chegar a esta melhor forma, mas tentar e tentar novamente. Sempre. E mais.

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