A intolerância oprime o ar e o respirar...
Intolerância é não reconhecer as possibilidade de existência do outro...
Intolerância é não conseguir olhar para si, verdadeiramente... olhar superficialmente
E querer extender esse conceito superficial e vazio (falso) de si aos outros, ou, pelo menos
Àqueles a quem se acha no "direito" (do mais forte), no poder, na autoridade, de fazê-lo...
Quanto mais poder se tem, maior é a intolerância, pois a diversidade (de pensamentos, de mundos, de possibilidades) é antagônica à ambição autoritária de extender à humanidade, ao universo (ou à parcela de humanidade e universo que o cerca)
Sua própria visão de mundo e de existência...
Especialmente porque é desta visão de mundo intolerante que o intolerante precisa...
É esta visão de mundo que sustenta seu poder, sua autoridade...
Pois fora disso, seu poder e autoridade simplesmente não existem... não são nada...
E quem tem uma visão superficial de si e reconhece/identifica sua identidade e estrutura psíquica nessa visão intolerante, se despedaçaria sem ela... Sem ela, o que seria? O que restaria?
Se tornaria nada ele mesmo, ao menos segundo sua própria concepção destruída de mundo...
Sem esta visão de mundo, como poderia ser ele intolerante? O que vem primeiro, a intolerância ou a visão de mundo intolerante?...
Ou a lógica maniqueísta nunca fez sentindo e na verdade o que veio primeiro foram os dois... simultaneamente?! Ou pior, nenhum dois dois, mas terceiros e quartos e quintos escondidos sob o véu do maniqueísmo e da própria intolerância... (pois a intolerância não é nata, não é intrínseca a nenhum ser, ela é fruto de uma imersão em um mundo e visão de mundo intolerante...)
Nessa concepção maniqueísta o primeiro é o "culpado" e o último o "inocente", alguém é responsabilizado e alguém é eximido... Mas ambos são culpados e inocentes... Culpados porque perpetuam e inocentes porque não sabem disso...
Ou se sabem, não acreditam, ou se acreditam, ignoram, ou se não ignoram, se enganam, ou se não se enganam, mentem... e assim sucessivamente, infinitos são os mecanismos da mentira...
A intolerância é isto, simplesmente... um ímpeto de destruir, calar, oprimir, aprisionar, conformar ou reduzir à obediência tudo aquilo que é diferente de si, ou seja, não é igualmente intolerante...
Ou que compete em intolerância... pois a intolerância precisa ser a mais intolerante em seu universo, em seu mundo particular... não aceita intolerâncias diferentes... só podem existir suas próprias intolerâncias... ou as intolerâncias semelhantes...
Uma música sobre tolerância ou intolerância...
Maps - Yeah Yeah Yeahs
domingo, 26 de fevereiro de 2012
Cada detalhe...
Fotografias:
Olhos fechados, cabelos esvoaçantes, pernas dobradas, voltadas para trás, pequenos e delicados pés à luz da janela, a coluna delicadamente curvada em lua, deitada de bruços, braços e ombros macios ante o meu tocar, as mãos agarradas ao lençol, nuca faiscando pelos e nervos ante beijos, lábios enriçados pelo contato das peles... blusinha levemente caída no ombro, tecido suave e fininho, recobrindo o perfumado corpo nevado...
Cada centímetro desses olhares são imortais imagens na minha memória... que lentes nenhuma, senão a retina, poderiam flagrar... Nenhuma outra forma de recordar senão na lembrança, nenhuma outra descrição possível senão a amplitudade dos mínimos detalhes... Imagens preto e branco, luz e escuridão, vento de ventilador e brisa, borboletas de retalhos e apanhador de sonhos, almofadas vermelhas e tapete mágico, estante azul e espelhos deleitosos, fonte de águas respingantes, sapinho de resina escondido nos arbustinhos de plástico, chão gelado e água gelada, ao alcance da mão e das bocas sedentas, olhos que vêem além do ver, pele que sente mais do que si mesma, palavras de amor mais que amor mais que palavras...
Cada centímetro desses olhares são imortais imagens na minha memória... que lentes nenhuma, senão a retina, poderiam flagrar... Nenhuma outra forma de recordar senão na lembrança, nenhuma outra descrição possível senão a amplitudade dos mínimos detalhes... Imagens preto e branco, luz e escuridão, vento de ventilador e brisa, borboletas de retalhos e apanhador de sonhos, almofadas vermelhas e tapete mágico, estante azul e espelhos deleitosos, fonte de águas respingantes, sapinho de resina escondido nos arbustinhos de plástico, chão gelado e água gelada, ao alcance da mão e das bocas sedentas, olhos que vêem além do ver, pele que sente mais do que si mesma, palavras de amor mais que amor mais que palavras...
segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012
A Morte Absoluta
Morrer.
Morrer de corpo e de alma.
Completamente.
Morrer sem deixar o triste despojo da carne,
A exangue máscara de cera,
Cercada de flores,
Que apodrecerão - felizes! - num dia,
Banhada de lágrimas
Nascidas menos da saudade do que do espanto da morte.
Morrer sem deixar porventura uma alma errante...
A caminho do céu?
Mas que céu pode satisfazer teu sonho de céu?
Morrer sem deixar um sulco, um risco, uma sombra,
A lembrança de uma sombra
Em nenhum coração, em nenhum pensamento,
Em nenhuma epiderme.
Morrer tão completamente
Que um dia ao lerem o teu nome num papel
Perguntem: "Quem foi?..."
Morrer mais completamente ainda,
- Sem deixar sequer esse nome.
Manuel Bandeira
Para quem não considera a Vida uma bola de ferro e não tem a vaidade da eternidade...
Morrer de corpo e de alma.
Completamente.
Morrer sem deixar o triste despojo da carne,
A exangue máscara de cera,
Cercada de flores,
Que apodrecerão - felizes! - num dia,
Banhada de lágrimas
Nascidas menos da saudade do que do espanto da morte.
Morrer sem deixar porventura uma alma errante...
A caminho do céu?
Mas que céu pode satisfazer teu sonho de céu?
Morrer sem deixar um sulco, um risco, uma sombra,
A lembrança de uma sombra
Em nenhum coração, em nenhum pensamento,
Em nenhuma epiderme.
Morrer tão completamente
Que um dia ao lerem o teu nome num papel
Perguntem: "Quem foi?..."
Morrer mais completamente ainda,
- Sem deixar sequer esse nome.
Manuel Bandeira
Para quem não considera a Vida uma bola de ferro e não tem a vaidade da eternidade...
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