terça-feira, 3 de julho de 2012

Beijar-a-flor


Se viver não tem sentido,
Só me resta te sentir
Se viver é o vazio
Vou vadiar no teu sorrir
Se viver é um poço frio
Bora derreter logo esse pavio
Se viver é uma música sem fim
Minha agulha vai rasgar o teu vinil...

Redemoinho...



Música
Voz
Garganta...
Aqueles lábios no ouvido
Estalando o lóbulo,
arrepiando o sentido
Algo doce, algo amargo
Um descontrole suado
Essa melodia do afago
Do sussuro, do gemido
Os tons suaves e finos
Demorada canção
De noite adentro
Madrugada e novo sol
A delícia cantiga
De cangote e chamego
O ninar no seu pelo
No seu leito, no seu seio
As curvas melódicas
Da cintura vocal
As notas harmônicas
Dos compassos quadris
Essa música nossa
Essa canção una
Que vicia
Vicia...
E não faz mal...

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Pura contemplação... O espetáculo da vida e da morte...



Por que vivemos? Por que viver?

Por que nossos corpos nascem, consomem energia, crescem, se desenvolvem, sentem, refletem, transformam, criam, queimam, se consomem, se destroem, desfazem, desaparecem? Por quê? Para quê? Para quê esse ciclo sem fim e sem propósito?

Por que carregar esse corpo por instantes, dias, anos, vidas?... Para fazer coisas? Para sentir coisas? Conhecer coisas? Pra quê? E daí que sabemos algo... no final das contas, de que serviu? E daí que sentimos algo... de que serviu?... Pura contemplação, pura vivência... viver por viver... Viver só para continuar vivendo... viver para morrer... viver para ocupar o tempo até morrer...

Os animais vivem até morrer... Parte de seu tempo e energia eles gastam para conseguir o necessário para viver, sono, comida, abrigo, bebida. O resto do tempo e da energia eles gastam com qualquer coisa, brincadeira, violência, não fazer nada... Nascem e morrem assim, sem pensar nisso, só nascem e morrem, por gerações sem fim...

Nós fazemos o mesmo... Gastamos tempo e energia para nos mantermos vivos, conseguir comida, abrigo, calor. O resto do tempo, gastamos a toa. Sem propósito, só para ocupar esse tempo vazio. Vazio. Assim, inventamos brincadeiras, jogos, esportes, passa-tempos, mata-tempos, complicamos as coisas para nos tomarem mais tempo (pensem nos quebra-cabeças), enrolamos as coisas, para nos mantermos ocupados... só para ocupar o tempo que temos livre...

Mas existem dois problemas. Cada vez mais precisamos de menos tempo para nos manter vivos. A tecnologia, as invenções, a criatividade permitiriam que cada ser humano precisasse despender muito pouco de seu tempo para sobreviver e ainda assim teríamos incrível abundância. Assim, o que fazer com esse tempo?

Contudo, como vive-se de foram desigual, tudo que a humanidade criou para poupar tempo concentrou esse tempo nas mãos de alguns e esses precisam manter todos os demais ocupados, ocupados, ocupados, para que não percebam que eles poderiam ter todo o tempo livre para fazer o que quisessem. Desta forma, aqueles poucos preservam o tempo deles... (pra quê?)... E os outros muitos ficam muito ocupados para pensar no por que de estarem tão ocupados, de não poderem descansar, brincar, ficar sem fazer nada, fazer qualquer coisa que quisessem... Mas, que diferença... Afinal, vive-se só por viver...

E o outro problema é que pensamos. E formulamos perguntas. E podemos perguntar – pra que isso tudo? Pra que viver para morrer? Viver por viver? Viver no vazio? Viver para comer, transar, rir, odiar, sofrer, amar, deixar, perder, ganhar, fazer, construir, destruir, matar, cultivar, cuidar, machucar, nascer... Viver para fazer qualquer coisa... tanto faz... não existem melhores ou piores... todas são apenas formas de ocupar tempo... Por quê?...

Pura contemplação, pura ação, puro vazio... Anjos... Pura existência... Escravos... da vida... que nos quer para ela... que nos quer por querer... por nada, nenhuma razão especial... somente quer, nos quer fazer viver... viver, viver...