A etimologia da palavra Nostalgia origina-se do grego nóstos, retorno, e álgos, sofrimento. Ou o sofrimento pelo desejo de retorno, como descreve Kundera na obra A Ignorância.
A todo instante vivemos os três tempos, o aqui, o antes e o depois. A cada instante, escolhemos experienciar nossa vida, seja fazendo um suco, caminhando pela rua, escrevendo um texto, vendendo ou comprando objetos, produzindo coisas. E tudo que fazemos de alguma forma se relaciona com que vivemos, com o que sentimos, com o que antes desejamos antes e só naquele instante concretizamos, com as marcas que ficaram na pele da nossa memória, as sensações que se impregnaram pelos nervos, nas dores e prazeres e batidas desses ingredientes que bebemos ao respirar nossa vida. E constantemente nos surgem novas ideias, planos, desejos que não poderemos satisfazer no momento, mas que ficarão guardados no íntimo a espera de uma terra-futuro fértil para nascerem, realizarem-se.
Temos que lidar com este desafio, como equilibrarmos os três tempos na nossa vida, quanta energia despenderemos com cada um, ou como lidaremos quando um deles emerge e se impõe eventualmente diante de nós.
A História pra mim é um elemento primordial, fundador. Sempre há um antes que influencia, explica ou sugere o que temos e vivemos no agora. Imergir na história para se compreender, tanto pessoalmente quanto coletivamente, sempre foi fundamental para mim. Da história da América Latina, passando pela do Brasil, mais recentemente a do Rio Grande do Norte e sempre, constantemente, minha própria história. Historiador de mim, tenho hábitos de registro e reflexões retrospectivas, de agendas diárias que sinalizam as ações e sentimentos cotidianos, há historiografias anuais em busca dos acontecimentos determinantes em cada época, aqueles que mudaram as direções da minha vida, que abriram portas por onde entrei e sem as quais não seria este que escreve, ou que quebraram formas de ser e estar e permitiram novas possibilidades.
Mas o antes não se manifesta apenas como este exemplar universo de contos e sabedorias que nos ensinam, que nos fazem compreender quem estamos sendo, que nos permite a partir do que já foi sonhar com o que pode ser. O antes também pode representar o que perdemos, o que partiu, o que acabou e ainda não conseguimos digerir totalmente. Ainda que cientes de que o antes jamais se torna agora, que tudo que passou se reconfigurou, morreu e renasceu em diferentes modos e corpos, ainda que ciente de tudo isso, ainda nos surgem certas nostalgias, esses sonhos de que o hoje ou amanhã seja ao menos parecido, profundamente inspirado, e, especialmente, envolva aquela mesma pessoa que nem mesmo é aquela de outrora, mas outra, diferente. E ciente também de que tal sentimento é uma incompreensão das espirais de mudança da vida, é um bater a cabeça nas paredes do tempo, ainda assim podemos cair nessa sala mal iluminada, cheia de imagens, vozes, sensações e desejos estranhos, sem sentido no agora.
Aprendendo a desatar os nós que persistem na linha do tempo...
Laiá Laiá - Cícero - para fermentar
domingo, 28 de fevereiro de 2016
terça-feira, 16 de fevereiro de 2016
Florescências de amor
Às vezes um eu te amo poderia ser mais simples, quase banal, na acepção do termo de algo que podemos dizer sem temor algum, como um como vai, mas dito com absoluta sinceridade, claro, pois é algo apesar de tudo forte, digno de um certo respeito, ainda que pudesse ser quase banal. Porque há tanta gente que amamos e não achamos apropriado dizer-lhes tal, pois poderiam estranhar, achar que estamos dizendo outra coisa, quase uma ameaça de problemas a porta, de pesos caindo balões, de sóis escaldantes derretendo sorvetes, quando no íntimo estamos apenas confessando um punhado de flores espontâneas que nasce na gente quando encontramos/sentimos essa/s pessoa/s que amamos. Ela/s tem esse jeito de florescência que borbulha várias sementes na gente e quando nem esperamos nos damos conta de que estamos todas floridas, sorridas e queridas por causa dessa/s pessoa/s.
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