domingo, 22 de abril de 2018

Sobre rochas


A vida não tem sentido
Logo dou o sentido que posso
Que convém
Que sangro

Carregando a existência como um barco
Às vezes flutuando, às vezes afundando
Encalho
Supero
Há dia de sol e céu
Há noite de vendaval
Há que suportar o que vier
E desfrutar o mais que der
Transmutar
Da carne para a planta
para o mineral
Retornar ao continente 
no final
Amontanhar-separa chegar
ao inverso de dentro 
e por pra fora

Praia do Meio
06h07

Poesia à Deriva


Como um mais um é três
Sei que a vida vale a insana
Mesmo que o pão engorde
E que prana não seja grana

A gente tá à deriva na vida

Mais perdida que partida de amor
Tem dias que passam vazios
Mas tem instantes que justificam

Como nascer o dia
nos arrecifes do coração
quebrando ondas 
sentindo conchas 
com as plantas dos pés
e com gratidão

Como brincar de música 
com sopro de acordeão
Ouvir pianos à beira-mar
Estar onde se pode estar
e bastar

A vida vaga cada dia
Ora sonhada, ora desiludida
Tudo que podemos fazer
fizemos
O que mais houver,
É gosto
Sentir prazer, morrer aos poucos
Não esquecer,
mas pensar pouco

Porque estamos aqui
para brincar
Cada uma do jeito que lhe aprouver
Se por ventura mais alguém vier
A vida vai saber amar

Em última instância
Tudo é sagrado, afinal
Não existe bem nem mal
Mas a dança da alternância

Praia do Meio,
6h13