Sim. E não.
Que outra resposta pode ser dada? Sou homem? Sou mulher? Seria pedir demais que alguém ficasse reduzido à conceitos tão superficiais, insuficientes para abranger a complexidade da existência. Somos mais, somos tudo. Somos homens, mulheres, crianças, velhos, hermafroditas, loucos, psicóticos, solitários, extrovertidos, revolucionários, conservadores, retardados, progressivos, pós-contemporâneos, caralho de asa! E mais muito mais... E não somos nada disso, pois "isso" são apenas palavras, e não somos palavras. Se fóssemos, não teríamos carne e osso e emoções, mas páginas, píxels ou qualquer suporte simplista para perdurar idéias (cd, dvd, blue-ray, hd, papiro, diabo-a-quatro)....
.Somos tudo. Sou e você é. E tal conclusão pode levar à uma certa sensação de "nada"... Porque, se não podemos nos enclausurar n'uma certa quantidade limitada de conceitos, esteriótipos e formatações sociais que nos permita produzir algo chamado "identidade", acho que a maioria iria pirar, gargalhar ou simplesmente desconsiderar. A construção da identidade, da individualidade e da separação psico-social da unidade coletiva é um fenômeno essencial para a sociedade de classes, pois, se estamos uns pisando nos outros, eu não posso ser o mesmo que aquele em que piso, ou aquele que me pisa não pode ser eu mesmo, e vice-versa e assim sucessivamente. É uma questão de "lógica". E, sendo assim, nos denominamos homem OU mulher, profissão TAL, caráter ESSE, pensamentos AQUELES, sonhos ÚNICOS. E mais um monte de blahblah pré-moldado em alguma fábrica de conceitos prontos para viagem. Quentinhos, aconchegantes, saborosos, já no ponto para levarmos para casa, comermos, sermos abduzidos por eles e nos tornamos alguém inteiramente original, livre e com personalidade! Veja só, que magia! E, se, por alguma coincidência temos as mesmas preferências de uma infinitude de milhões de outras pessoas, isso não prova que sou igual a elas, mas que elas estão no caminho certo, pois pensam como eu. Porque o EU veio primeiro, segundo dizem... cada um a sua maneira. Mas, voltando ao assunto principal... não é difícil perceber que, desconsiderando esse invólucro tão fenomenal que chamamos corpo, esse objeto dotado de infinitas possiblidades de sentir prazer inimaginável e dor inigualável, desconsiderando isso, temos tantas características masculinas, femininas, infantis e senis, 'adultas' e 'jovens' quanto poderíamos desejar. Voltando ao primeiro assunto, para garantirmos a integridade de nossa "identidade", somos forçados a reprimir uma enormidade de faculdades criativas, relacionais, humanas, subjetivas, emocionais, transformadoras, belas, simplesmente para nos mantermos calmos e seguros diante de quem nós "somos". E todas essas características não são isoladas, atuando em diversos momentos individualmente em momentos específicos de nossas vidas, mas são um todo, complexo, fantástico, transcendental. É triste reduzirmos tudo a rótulos, a palavras, a tentativas frustradas de explicação. Já infinitas vezes foi provado que as palavras são totalmente insuficientes para expressar o que quer que seja. Se não fosse pela complementação de nossa imaginação, da projeção de nossa própria experiência social e reflexões pessoais, as palavras não nos diriam nada, porque, em essência, elas não são nada. Sendo assim, feminino, masculino, jovem, velho, são termos meramente ilustrativos para realidades muito mais amplas, profundas e deliciosas... Descartemos isso tudo, e voltemos à pergunta: Você é Homem ou Mulher? E a resposta é Porra Nenhuma. Que diabos! Quanta perda de tempo em tentar definir em conceitos o pôr-do-sol, a via-láctea, o prazer de tocar alguém querido, sentir um sabor sentimental. Que perda de tempo em tentar definir "quem somos", "o que somos". No dia em que finalmente conseguíssemos, estaríamos MORTOS, pois teriam esquertejado nossa possibilidade de negar tudo o que encontramos, resolver fazer tudo diferente, mudar, transformar, mandar tudo ao inferno, e assim seguir a vida...
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Putz, de onde viemos? Da porra que encontrou com um óvulo! Que dificuldade tem nisso? Para onde vamos? Novamente para a porra e o óvulo que, felizes para sempre, constituirão nossos infinitos corpos futuros, passados e presentes, em infinitas dimensões de espaço-tempo simultâneas e consecutivas... Fine! End! Fim! Início, meio, flashback e tudo junto misturado... E, se queres um conselho, exploda. E entre suas partes gosmentas, tripas, ossos, fragmentos cerebrais, espalhadas pelas paredes, talvez você encontre os trechos da sua personalidade tão egocentricamente lapidada ao longos dos anos...