Mudanças. Perspectivas. Modos de Ver, Ser e Estar
no Mundo, lidar consigo e com o mundo, com os movimentos e pontos de vista vários,
reações e ações, emoções e comoções, dramas e comédias, lágrimas e dádivas,
retornos e transtornos, vazios e frios, calores e odores. Esta Vida, complexa, inquieta,
inconstante, desafiante, em ciclos variáveis, ora perceptíveis, ora imprecisos,
insistentes, esta Vida, cuja realização se dá por nosso mover-se nela, sê-la,
insPirá-la e transPirá-la, expressar, cuidar, direcionar, crescer, cultivar,
gerir nossa energia vital, essa chama intensa que nos define Vivos.
Viver demanda um modo. Vivemos como? Por quê? De
que forma e para onde? Ainda que estas respostas sejam variáveis, em constante
transformação e aprimoramento, redescobrindo e confrontando-as com as realidades
concretas com que nos deparamos, validando-as ou não na medida em esse modo de
viver nos pareça melhor ou pior para garantir nossa máxima, plena, intensa e
integral realização vital, ainda assim, precisamos criar/inventar/encontrar/descobrir/testar/experimentar
essas respostas, atualizando-as constantemente, a todo instante.
Hoje, em meus séculos de vida, minhas tantas idas,
partidas, chegadas e derrotas, conquistas e despedidas, feridas e memórias,
cheguei a uma Práxis de Vida que chamo de Gestão Autônoma das Energias Vitais e
Emocionais.
Entendo, como dito, que a Vida se manifesta em nós
nesta possibilidade de viver e neste ímpeto de viver que entendo ser nossa
Energia Vital. Queremos viver, algo nos faz viver, algo queima dentro da gente,
nos move, nos põe em direções várias, nos desafia a ir além. Contudo, esta energia
tem limitações e possibilidades que precisam ser geridas. Não podemos fazer
tudo que queremos ao mesmo tempo, não conseguimos sentir tudo já, não damos
conta da infinitude da Vida que em nós se materializa nesta individualidade. Uma
individualidade é, por definição, uma parte, um recorte, uma centelha desse
Universo. Por mais que, no final das contas, sejamos Tudo e façamos parte de
Tudo, a condição de indivíduas nos desafia a viver essa circunstância, lidar
com ela, aprender com essa limitação, expandir e transgredir até essa
limitação, transcendendo, nos (re)conectando com o Todo e com Tudo de inúmeras
formas.
Mas, entendendo que nossa condição nos coloca
limitações, faço a seguinte metáfora. Me imagino, esse ser/corpo que estou
sendo, como uma Casa. E a Energia Vital, que também chamarei de Calor, é essa
chama que mantém a Casa aquecida, capaz de realizar-se, pois energizada, forte,
potente (capaz de realizar seus potenciais). Porém, essa realização demanda que
empreguemos nossa energia externamente, no entorno, da Vida que nos cerca. E
cada gesto, ação, direção que tomamos, é como uma janela que se abre e para
onde flui certas quantidades de Energia Vital. E diversas experiências e
retornos de outras energias vitais, de outras pessoas, permitem também a
entrada e alimentação de nossa Energia Vital. Daí a necessidade de entendermos
e mediarmos esses fluxos de entrada e saída, de troca, de ciclos, de cultivos,
de desgastes, de perdas.
Se investimos demasiado Calor em algo que, por
diversas razões, não nos retorna Calor, podemos correr o risco de esfriar nosso
interior, nos enfraquecer, fragilizar, debilitar. Mas se direcionamos nosso
Calor para destinos que, seja por relações interpessoais que nos retornem Calor,
seja por produzir emoções geradoras de Calor, então podemos manter um
equilíbrio de nossa Energia Vital, crescendo-a, fortalecendo-a, permitindo-nos
mais energia para mais ações/sensações/emoções/realizações.
Importante refletir sobre as emoções. Nesta
metáfora da Casa e da Energia Vital-Calor, as emoções/sensações são elementos
que podem produzir ou dispersar nosso Calor. De um lado estão as emoções/sensações
expansoras, criadoras, geradoras, movimentadoras e animadoras de Calor, a
Alegria, a Satisfação, o Prazer, o Amor, o Acolhimento, o Reconhecimento por
outras seres, a Conexão, o Aprofundamento, a Diversão, o Carinho. E do outro
lado, estão as emoções/sensações que nos retraem, fragilizam, aquietam, desanimam,
recolhem. A Tristeza, Melancolia, o Isolamento, a Solidão, a Desconexão, a
Superficialidade, o Desafeto, o Ódio, o Rancor, a Frustração, o Medo, a Dor.
Não se trata de um lado certo e outro errado. Não
se pode apenas crescer nossa energia vital, sem gerar prejuízos e destruições
desnecessários pelo excesso, nem tampouco retrairmos, diminuir ou enfraquecer
nosso calor, chegando a uma estagnação, imobilidade, depressão. É preciso
vivenciar ambos os movimentos, cuidando deles, cuidando de si, de modo a
garantir a melhor relação possível entre nossos Calores e Frios, de modo a
realizarmos calorosamente tudo que quisermos, nossos sonhos, loucuras,
possibilidades de expressão, de desejo, de inovação e transformação, como
também termos o tempo e a tranquilidade, mais fria, de refletir sobre tudo
isso, avaliar, aprofundar nossas consciências de tudo que estamos sendo, tudo
que nos cerca, onde estamos e para onde vamos, nos conhecermos e nos cuidarmos.
Diante destas compreensões e em busca desta gestão,
existem inúmeros mecanismos e métodos, técnicas e místicas que nos permitem
navegar esse navio, essas velas, esses mares e ventos todos. Pessoais, mas
também exemplares, cada um descobrindo e inventando os seus, mas também
partilhando e inspirando as demais pessoas em seus processos.
Em minha caminhada pela Vida, tenho descoberto e
aplicado vários. Para ampliar e potencializar ao máximo e da melhor maneira
nossos calores, buscando-os fazer-lhes abundantes, acolhedores, cuidadosos,
atenciosos, intensos, mas considerando as possibilidades, vontades e condições
da outra pessoa e/ou de tudo que cerca, venho buscando fazer de todo
contato/relação que estabeleço, quer dure 5 minutos ou 5 anos, quer seja
constante ou aleatório, que todo contato/relação seja o mais profundo,
emancipador, atento, escutador, partilhador, inspirador, engrandecedor e
significativo para todas as partes. Buscando cultivar e praticar esta
abundância, gratuidade, escuta ativa e comunicação significativa, não-violenta,
esse movimento libertador, incentivando e inspirando a autonomia de todas as envolvidas.
Para lidar com os movimentos frios, os invernos e
desertos gelados, as mágoas, as dores e desfiladeiros, os isolamentos e
restrições afetivas, gestuais, sexuais, busco olhar com atenção para esses
movimentos, aprendendo com eles, mas também conectando-os com as demais
dimensões da vida que estiverem mais floridas, mais quentes, de modo a me
aquecer internamente, independente de fontes externas de calor. Algumas
circunstâncias são mais duras e demandam ações mais energéticas de cuidado que
envolvem o Esquecimento Provocado, o Ódio Cauterizador, o AutoRetiro, a
Reversão de Fluxos Desgastantes, o CicatriPerdão, entre outras ações/reações.
E em todos esses processos, sempre cultivar a
Resiliência, nos fazer/praticar resilientes. Nossa capacidade de restaurar
nossa melhor condição possível de ser e estar, nosso movimento mais fluído, conectado
com a Vida, nossa Energia Vital mais intensa e radiante. Diante das
adversidades, vivê-las, lidar com elas, sofrê-las, até, mas o mínimo possível.