quinta-feira, 29 de abril de 2010

eletro-punk...


Os olhos vibram, a luz centelha em clarões infimos, repetidos, fugazes, cortando como o piscar a escuridão... A vibração invade o corpo pelos ouvidos, mas segue também diretamente para o coração, a potência do ritmo se assemelha e sintoniza com o pulsar do coração, essa força externa impulsiona a liberação de rios de adrenalina, o sangue torna-se brilhante, de um laranja cintilante... O ritmo materializado em ondas poderosas deixa todos imersos, como se a atmosfera fosse a um só tempo sólida e fluida, como fios condutores de energias entre todos os corpos, todos pulsam livremente e em estranha conexão estelar... aquele grande descampago sob o céu estrelado é uma erupção de música, sons eletrônicos, virtualidade sonora, como canhões poderosos apontado para todas as almas... quebrando a cada batida as barreiras, as resistências, as separações, inundando os fôlegos de liberdade e excitação, explosões de movimentos, braços e pernas e pescoços e cabeças e troncos e gestos e expressões desconfiguradas de suas prisões habituais para deixarem-se fluir sem interrupções, sem pensamento, apenas o mais puro impulso emergindo de todas as profundezas intrínsecas de convulsão, ataques rítmicos, espasmódicos, cósmicos... tempestade de granizos musculares, chocando-se e lançando fagulhas de sensações, sentimentos energéticos esvoaçando-se e permutando-se entre os corpos, perfurando os poros dos sentidos, invadindo percepções extrasensoriais, superemocionais... o extravasamento é a rotina-instantânea, a expressão é a mecânica-criativa, a interdependência autônoma dos membros em movimentos desconectados e efervecentes e invisivelmente comunicativos explode em revoluções psíquicas-corporais... a mente celular liberta-se e o pensamento elétrico trepida todas as possibilidades... a liberdade não só do um, mas do tudo pertencente ao indivídual, da individualidade coletiva, da pluralidade única dos seres múltiplos... confluência diversificada, infinitas possibilidades, universo... humano...
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(Daft Punk
- músicas...)

terça-feira, 20 de abril de 2010

Mar...ginal

De olhos abertos
ouça minha voz
e siga-a como um caminho
de pedras multicoloridas
Pulando de uma em uma
com vinte pernas divertidas
Sem ilustrações, imaginando
utopias criativas
De olhos bem abertos,
veja com todo o corpo
a emoção que te entrego
de descobrir o mundo novo
agora nas suas mãos
puríssimas
De olhos tão abertos, jogue fora
a roupa que já em ninguém cabe
e use os trapos
para uma nova forma de arte.
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(Beach House - Norway - uma música)

Frenes´ipnótico

Tambores bailando no sangue
Articulações estremecendo em choques eufóricos
Alucinógenos sanguíneos varrendo e arruaçando as veias
Cordas vocais do espírto cósmico rodopiando vibrações potentes
versos concretos reformulando estruturas atômicas subjetivas
Dispersões revolucionárias desgovernando o esqueleto acorrentado
Consulsiva epilepsia cardíaca de felicidade incapaz
de conter tempo e espaço
rasgando todas as dimensões do universo
causando saques de emoções e violentos
ataques de êxtase coletivo
canções poderosas abalando o interior das pedras
dentro dos ossos burocráticos dos superiores
semideuses fictícios e enganosos
Surrealismo superado pela superexpandida
consciência em choque com as garras autoritárias
das fronteiras de uma sociedade tão bêbada
de controle que ignorou a vida para controlar
a supervalorizada morte n´um espetáculo
de corpos vazios ambulantes
dentro de suas roupas
sociais...

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Se mata

O que diferencia um ser humano de uma máquina? Ambos são capazes de realizar movimentos e ações mecânicas, ambos demandam uma certa manutenção, recursos básicos para manter o bom funcionamento. Alimentar um de comida, outro de eletricidade, boa lubrificação de um, um banho periódico no outro, reposição de peças em um, uma noite bem dormida para o outro. Ao longo da história da sociedade de classes milhões e milhões de seres humanos foram reduzidos à condição de animais de carga (e quem nos deu direito de escravizar os animais?) ou de máquinas. Uma minoria apropriou-se do que era necessário para produzirmos o que nos é importante e, através da violência, obrigo à maioria a trabalhar como escravos.

O que será que busca da vida o ascensorista cuja única função é apertar os botões do elevador? E a empregada doméstica que limpa o chão da sua casa e cuja jornada de trabalho é maior que qualquer outro trabalhador na atualidade, trabalhando na maioria das vezes das 06 às 18h, quando não é obrigada a dormir no local de trabalho e ser escrava 24h por dia? E o secretário, ocupando-se de burocracias intermináveis? O operador de máquina, apertando esse ou aquele botão, colocando insumos, menos que uma máquina, um serviçal para ela?

Seres que não trabalham para viver, mas vivem para trabalhar. A função deles é ser útil para outras pessoas que se beneficiam de sua escravidão. Ganham o suficiente apenas para manterem-se vivas e em condições (mínimas) para continuarem escravos. O dono de escravos moderno, ao invés de ter sua própria senzala e todo o trabalho logístico de alimentar e vestir seus escravos, dá a ele apenas uma ajuda de custo e ele que vá atrás de suas necessidades, se degladeie atrás de promoções, se enforque em prestações dos cartões das lojas de departamento.

Por que eles vivem? Para os outros. Qual sua motivação? A fome no estômago? A esperança religiosa? Ideologias finamente desenhadas para manter o escravo trabalhando (como a idéia de que "só o trabalho liberta")? Ou o simples ato de não pensar a respeito de tal situação? Todos esses aspectos são fundamentais para girar a roda do sistema escravista capitalista.

Páre para pensar. "O que faço da minha vida? Por que faço o que faço? Para que? O que eu sou ou represento para esta sociedade?"... se para todas essas perguntas não se obtiver uma resposta digna, duas opções, ou mude ou se mate. Viver para os outros não é viver. Comece a viver ou páre de fingir.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Realidade

Está chovendo, mas as janelas estão fechadas. A banheira sobre rodas range sua ilusão pré-programada. A visão está turva por intermédio da minha cegueira consentida. Aperto o botão 'desligar' da percepção do verdadeiro. Nesse auto(ignóbel) tudo poder ser desligado. Piloto automático de vidas sub-experienciadas. Há barulho mais eu não escuto. Sons gravados na memória ocupam todo o espaço. Chamo de normal a irrealidade, professo que minha cegueira e surdez são as únicas formas de entender alcançáveis. Esta máquina de 'senso-comum' é a minha religião sagrada. A consciência generalizada ordena os comandos do meu sistema. Pensar torna-se apenas um reflexo na aparência, cada ação repetindo o que nos foi autorizado. Vivo, assim, n´um circuito longo demais para minhas próprias pernas. Até que este circuito queime, tão curto que eu possa dar meus próprios passos. O motor estoure, a fumaça esvoasse e as janelas trinquem com as pancadas de minha testa ávida por descobrir o sabor da chuva.

Não sou de açúcar e gosto da dor da verdade.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Parta o grito em sílabas de ódio

19:40

Ânsia enclausurada no concreto
Portas fechadas no caminho estéril
Correntes materiais estagnadas
Putas parindo horas a fio
Filhotes-pragas cotidianas
Dilacerando nervos elementares
Eletro-choques tarefas do dia-a-dia
Diabo das 8 às 18 horas
Dentes a carne devora
A raiva a mente estoura
Vamos todos embora
Desliga a luz dessa sala porca
O ofício funciona tão bem como forca
O dia engole e já nada sobra
Enterra, que agora está morta.

20:00

Náusea interna vácuo vapor
Desânimo em ira
Doença costante
A escassez, a prisão doentia
Pontas de faca apetitosas
O charme da fuga exílio distante
Contraculturas libertárias...
Ser dinamite na estrutura
Efeito dominó desobediente
Molotovs cáusticos nesses carrascos
Arrombar as portas da esperança
Goles massivos de insânia
Não quero jamais me conformar

21:36

Contra a estabilidade
Contra a segurança
Asco desses frascos de vida
Foda com as fechaduras
Até que o ápice rompa
com as carcaças maduras
descarregue seu pente de balas anis de flores e orvalhos
Desmantele suas fornalhas verdes de aves carnívoras
Seja a lenha da ruptura
Adicione chama à massa
Infle a Crítica aos céus
Derreta as paredes com spray!
Cuspa na autoridade
Morda suas vontades
Destrua as necessidades
que te esmagam
sob status e maldade
Desperte da obrigação
qualquer ordem
não leva a nada!
Corte os pulsos nas grades da tua casa
isolada
Quem sabe se a dor criada
Não deságua no rio das novas formas
de olhar para dentro
e para fora...

Nada!
Não preciso
Vender 11 meses para comprar miséria,
convulsiva sede de parar... que a força do mundo
FAÇA GREVE
até aprender a respirar
Descaos! Descalço! Descaso...
Deus da corja
Deus das coisas...
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(ouça uma música do Nirvana)

sexta-feira, 9 de abril de 2010

gosto da alma

Escafandros abertos no hiperespaço
desejos livre-pensantes superexplorados
calmas maníacas e sem palavras
espelhos vagantes pelo estreito da estrada
indivíduo coletivamente isolado
cansamos de tudo que nos foi roubado
e agora é a dor do final deste espetáculo falsificado
não sei o que faz da existência algo tão documentado
mas eu queria ser assim muito mais desapegado
esquecer de mim no próprio esquecimento
começar zerado cada quadro branco do presente
pintar os extremos no interior da alegria
desfigurando qualquer semelhança com o passado
explorar o inconsciente com olhos vendados
explodir a cada instante a alvorada do universo...