segunda-feira, 11 de abril de 2011

de sal a sal...


Trabalhando oito horas por dia (só 8?), com afinco, concentrados, olhando atentamente o que fazem, com as mãos ou com uma parcela da mente. Seguem suas rotinas, cumprem suas tarefas, aceitam suas obrigações, não como prisões, mas como a forma exata de suas vidas. Nem um passo além, conformados. Ou não fazem tão compenetrados assim, mas simplesmente fazem, empurram o tempo, carregam cada minuto como um monolito, Sísifos assalariados, arrastando a jornada de trabalho como destinos inevitáveis, como moldura invencível da realidade.
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Trabalham, assim, unicamente. Trabalham, há apenas isso para fazer. Oito horas, dez, doze... o dia inteiro como parte de suas vidas. Em casa comem, dormem e esperam o dia seguinte, fazem apenas a manutenção de si mesmos, para que não faltem o expediente. Assistem Tevê para o tempo passar ligeiro... não há muito que fazer fora do emprego... De manhã logo cedo, lá estão eles... tão dignos, tão valorosos... trabalhadores... eternos trabalhadores, a serviço dos patrões que com eles recheiam os bolsos... Tão corretos diante da moral que não é deles, mas que beneficia outros...
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Às vezes querem que seus filhos sejam o que não foram, conquistem o que não conquistaram, lutem pelo que não lutaram. Transferem para os filhos o futuro que não tiveram nem buscaram. Não tiveram oportunidades, mas continuaram trabalhando... para existir... Pra quê? Sobreviver como o fim em si mesmo... Pra quem?...
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Às vezes encomizam, sacrificam-se mais ainda, além de todos os limites, apertam os cintos até a espinha, engolem o estômago e "poupam"... Querem abrir o próprio negócio, querem virar a mesa, arranjar outros pobres não poupadores para trabalhar para eles... Acreditam na loteria do um em um milhão... um em milhões com seu próprio negócio, próspero. E não dá certo. Vão à falência e vêem que outros chegaram antes e mais bem preparados... e tentam de novo... ou outros tentarão...
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E trabalham... e trabalham...
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Com o único fim de gastar a vida... de ir vivendo... como Deus quer e o patrão manda... De novela em novela, de domingão em domingão... vivendo... cada dia como o dia anterior...
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E quando morrem... sentem-se felizes por terem sido "trabalhadores"... "honestos"... "lutadores"...
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Ou sentem a tristeza do nada, da pobreza, da miséria, do cansaço da vida inteira...
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Ou não sentem nada, quando morrem...

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