quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Quem sou você?

Quem sou você? Não sei, porque morri sem tempo e tu morreu também. Mortos, não estamos preocupados com rótulos. Mortos, não damos nenhuma importância para aparências. Mortos, nenhuma maquiagem ou roupa da moda "salva". Mortos, não adianta ter vaidade nem egocentrismo. Mortos, toda matéria é supérflua e só serve para diversão. Mortos, as distinções de gênero tornam-se repulsivas. Mortos, o sexo é propriamente carne dentro da carne. Mortos, não temos ambições idiotas por dinheiro. Mortos, não queremos nada a não ser a terra, a água, e diversão. Mortos, não temos medo da chuva nem do fogo, melhor dizendo, não temos medo de nada, nem da morte, nem de ti. Mortos, tudo é mais simples que a decomposição. Mortos, andamos nus, transamos com todo mundo, matamos quem dá vontade, estamos sempre com fome, nunca temos sono, atravessamos oceanos de um fôlego só, devoramos feras, cultivamos flores de cemitério e festejamos no altar a mais profana ceia de gozo, doce e azedo.

Música fúnebre: Postcards from Italy - Beirut
  

Estou decente agora?


Fetichismo é a atribuição de um feitiço, ou seja, uma construção simbólica inconsciente/ignorada que atribui um valor a algo que este objeto/elemento não tem. As representações de gênero são um fetiche, as fixações por carros são um fetiche, as representações de progresso econômico são um fetiche, nossa ânsia por dinheiro é um fetiche. 

A repressão sexual sexista moralista religiosa inculcada em cada um de nós pela cultura cristã transforma nossos próprios corpos em elementos de medo, fascinação artificial, culpa e proibição, o que nos leva a transformá-lo em imaginação doentia e exacerbada, simplesmente porque não temos a possibilidade de viver e desfrutar de nossos corpos de forma natural...

O socialista libertário Charles Fourier disse certa vez que se pudéssemos apenas conviver naturalmente, sem repressões (de todos os moralismos vis), sem super estímulos (de tantas indústrias interessadas em nossas doenças físicas e psíquicas, com toda a propaganda, explícita e subliminar, todas as pressões sociais, as induções e ilusões), sem as infinitas e artificiais significações que damos para nossos desejos, vontades, paixões, nós poderíamos simplismente expressá-las todas de forma saudável e harmônica, pois nenhuma seria superexacerbada por ter sido contida violentamente. 

Toda forma de "pecado" é uma brutal violência contra o ser humano e a humanidade. Toda forma de culpabilização artificial para gerar medo e obediência, alienação e subserviência é inaceitável. Libertemos-nos! Por corpos e almas livres! 

Já disse a famosa frase: O CORPO É UMA FESTA!

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Relação e comunicação

 
O que é se comunicar? O que é se encontrar? O que é se entregar? O que é se deixar? O que é se umidecer? O que é se aquecer? O que é se desproteger? O que é não precisar se proteger? O que é se querer? O que é se ser? O que é entre-ser? O que é inter-comunicar? O que é ir além de si? O que é ser o outro? Ou o que é não ser nem eu, nem você, mas tudo?...

O que eu busco (em dois)? O que eu provoco (para dois)? O que eu construo (com dois)? Que caminho sigo (rumo a dois)? Pelo que vivo, escrevo que... 

Um relacionamento que vivo quer entender-se, ser prazer, ser afeto, ser calor, ser aconchego, ser água, ser brisa, ser chama, ser folha, ser fruto, ser raiz, ser mar, ser sal, ser sol, ser ave... ser o que é... 

é preciso que cada um, estando juntos, estaja cada vez mais consigo, e assim, esteja com o outro. Que entendendo-se, entendam-se, que conhecendo-se, conheçam-se, que amando-se, amem-se, que estejam lado a lado, nunca um sobre o outro... e que não se temam, que não se enclausurem em proteções tais como a arrogância e o autoengano, mas, ao contrario, abram-se um para o outro para que possam também ver a si mesmos claramente, de uma maneira que só nesta relação poderiam perceber-se. Porque sozinhos, não podemos ser realmente quem somos, apenas juntos é que nos revelamos profundamente, em toda nossa treva e toda nossa luz. E que não temamos nem o claro nem o escuro, porque são dimensões infinitas de nossa infinitudade. Não são o bem nem o mau, mas apenas a existência que existe. Aqui e Agora.

Assim é. Aqui e Agora. Sem depois. A todo instante e nunca mais. "O caminho se faz ao caminhar" e amanhã podemos estar em outro lugar... Sinceramente, é preciso coragem para ser quem é, coragem de se aceitar completamente, aceitando assim todos os outros, tudo o mais, toda a existência, todo o existencial, todo o existente... E, nesse ponto, quando se alcançar esse ponto, realmente não haverá fim, pois não haverá separação, pois tudo será uno múltiplo, diferente, diverso e divertido. Aqui e Agora.

Uma música - Planes Like Vultures - Le Loup

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Bem isso...


Dez anos em um
Que tempo-espaço é esse, menina?
Um velhinho tão novinho nesse corpo aqui
O relógio doido que não respeita o querer
Quanta correria, calmaria, pernas e edredons
Nunca mais tinha parado pra escrever
Mas não dá não, pois tudo é poesia nesses olhos grandes
E preciso dizer...
Te dizer...
Dizer mais um pouco...

Descendo, subindo, maré espuma nos ombros nus
Luz, sol, cachoeirinha na piscina de mar e sal e azul
Fugindo praquela praia de goma molhadinha e coco
Que delícia se (nos) deixar e parar um pouco
É, brincar, rir, sair rolando pelo lençol,
Ser um pouco mais rouxinol
Arteiro, travesso, brinquedos
Viver... na melhor maneira
Simples assim, carinho
N´o Caminho
Da água...

Uma música - Conversas de botas - Cícero