quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Quem sou você?

Quem sou você? Não sei, porque morri sem tempo e tu morreu também. Mortos, não estamos preocupados com rótulos. Mortos, não damos nenhuma importância para aparências. Mortos, nenhuma maquiagem ou roupa da moda "salva". Mortos, não adianta ter vaidade nem egocentrismo. Mortos, toda matéria é supérflua e só serve para diversão. Mortos, as distinções de gênero tornam-se repulsivas. Mortos, o sexo é propriamente carne dentro da carne. Mortos, não temos ambições idiotas por dinheiro. Mortos, não queremos nada a não ser a terra, a água, e diversão. Mortos, não temos medo da chuva nem do fogo, melhor dizendo, não temos medo de nada, nem da morte, nem de ti. Mortos, tudo é mais simples que a decomposição. Mortos, andamos nus, transamos com todo mundo, matamos quem dá vontade, estamos sempre com fome, nunca temos sono, atravessamos oceanos de um fôlego só, devoramos feras, cultivamos flores de cemitério e festejamos no altar a mais profana ceia de gozo, doce e azedo.

Música fúnebre: Postcards from Italy - Beirut
  

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