quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Transloucado

O que é viver? O que é amar? Livre! Quero libertar-me dos meus casulos, do cotidiano, de tudo! Como o vento, como um pássaro, só quero criar! Caminhos, casinhos, cantinhos, carinhos, sozinhos... Meu espírito selvagem toma conta de mim em noites como esta, em que cansa-me tudo, em que cansa-me viver e morrer... Arte, arte! Como podem as pessoas fazerem outra coisa na vida senão arte? Como podem matartelar, contabilizar, calcular, repetir, ações tão desprovidas de poesia... Como não viver uma vida de pura poesia? Para que mais estamos no mundo? Por que o mundo existe senão para nos soltar livres desfiladeiro afora, debaixo de árvores, sob colos e dedos, vagando nas ruelas pixadas de frases de pura loucura!? Pintar! Cada detalhe do universo com a mais pura insânia que eclode das unhas, gozar a grama com nossa vontade de viver! Viver! Se todos vivessem, não existiria sistema, governo, imposições, nada! Apenas a pura realização humana em sua ânsia de vida, de arte, de beleza, de sexo, de gozo de todos os sentidos, gastronomia, orgia, audiovisual, música, quadros, poemas e corpos a dançar e representar sonhos em palquinhos improvisados... Puta, quero entregar-me aos braços da vida, esta vida, tão finda, tão rápida, tão intensamente louca que não suporta horários nem salários! Vamos levantar casas para o prazer, prédios para a contemplação, templos para o nada, nada, nada... porque tudo que é bom floresce tão fácil quando somos simplesmente estupidamente felizes... Estupidamente desobedientes, ridicularmente absurdos! Pois só o absurdo faz sentido quado nos deixamos sentir...

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Pernoites...


Caminhavam... sem palavras... por uma rua estreita mas acordada, de prédios antigos, velhas fachadas de outrora, em cujas janelas acontecia a noite... respingos de chuva, uns goles de suco amarelo e doce, um abraço no meio da rua, paralisados, mãos agarradas e úmidas, olhos observando tudo, cada traço, cada risco no muro, no mundo...
- Quero estar contigo para me acalmar, me acolher, me recolher... não mais que isso, 
não me toque assim, não estou afim... - Quero só um ombro, um afago, um abrigo, quero seu toque amigo, mas sem malícia agora, que não estou em hora... - Deixe-me entre seus braços, me basta teu cheiro, tua temperatura, tua pele madura, mas pare logo a tentativa, que hoje estou esquiva... - Não seja teimoso, quero apenas um repouso... nada de gozo, que não me anima ainda... quem sabe outro dia, quem sabe quinta... 
Subiram escadas, percorreram praças, passaram por rostos, não deixaram rastros. Sentados na pedra, apertados, um vácuo entre os dedos.
- Não adianta, querido, que hoje não é dia de ceia... acalme isso, sim? Brinque com meus cabelos, vou deitar-me em teus joelhos... - Noite de lua é tão linda que me deixa amena... fujo do fogo, estou mais chama pequena, de lamparina e sombras... 
Andaram calçadas, pararam paredes, molharam garoas, deitaram gramados, sem passar o tempo, naquele suave sereno, um estar arrastado, uns olhos descalços, uns pés cochilos, umas horas findas, um querer querendo que não queria... um vai que ia, quase e volta... Sentiram as folhas sob as cabeças, olhando as estrelas intocáveis... longínguas, ambíguas, mínguas, estavam relvas e cílios, lábios e ninhos... Uma concha de dois, uma meia lua de pernas, uma vontade entre as pernas que não devia, era madrugada fria e os retalhos da roupa já aqueciam... As luzes da rua azularam, as pedras do chão escureceram, o longe foi embora, o perto sumiu, ficou uma desconhecido emaranhado de corpos, tempos, lembranças, colchas e silêncios... os olhos se encontraram, mas foram adiante... o novelo se desfez, mas não foi em brincadeira... fios espalharam-se, o chão ficou lilás, a abóbada celeste desmanchou em uma névoa perfumada... 
- Venha, bonito, venha... deite agora, é sua vez... aproveite a maciez, a tez, o carinho, mas não brinque comigo, que não sou brinquedo...

Eu não tenho barco - Cícero

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Coit´ado


Cansado. Emocionalmente cansado, espiritualmente cansado, fisicamnte frustado. Como se minha vontade de viver não encontrasse suficientes formas de queimar, de incendiar-me, para assim me refazer... como se minhas forças, que tanto gostaria derrarmar em ti, derretendo-me, destruindo-me em ti, fundindo-me, simplesmente ficassem retidas, contidas, presas, intocadas... como se não pudesse respirar, um sufocamento... A não sintonia de nossos desejos, a compreensão clara disto, derrotou-me. Não querer-me quase nunca é desolador... Sinto um aperto nas entranhas, uma sensação estúpida de que eu era um tolo querendo alguém que não queria... Putaqueparil, um idiota, incapaz de fazer querer, e tentando, gerar apenas afastamento... olhos distraidos olhando as paredes, corpo indiferente e um otário sozinho... E fica essa ânsia, de sexo e de vômito confundindo-se... estou com um buraco no estômago... Se continua o fogo sem combustível, agora há também um mal-estar... não, não é satisfatório... não basta... não é o suficiente... De que serve um espírito sem corpo? O que faço de meu corpo? Silenciado, frustrado, exausto por não conseguir exaurir-se plenamente, na medida de sua necessidade... Minhas emoções racham. Não tenho mais nervos para sustentar meu desequilíbrio... E quanto mais o tempo passa, pior fica. Parece um abismo... um abismo cujo fim nunca chega... por mais que queiramos, que caiamos, que busquemos seu fundo, seu fim pantanoso, não chega... não chega! Não quer chegar! Se aproximar-me não faz diferença, quero um pouco de nada... quero um pouco de morte, quero um pouco de gente...

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Só...

Viver...
Apenas viver...
Sem mais, sem dor,
Sem guerra, garra, desabor
Deixar
a água fluir
Escorrer
Chorar
Sorrir
Sorver o bem que há
Tirar da terra o fruto
O orvalho do ar
Suar o feito
Descansar no peito
Molhar
Rir
Com tudo e quem
Brincar também
E florescer
Plantar, comer
Alimentar o ser
Perder
tudo que houver 
para perder
E só.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Eu´spelho



(Re)Conhecendo as deformidades de si, o que fizeram de mim (nós), o que me (nos) ficou ferida, dor, ódio, rancor, percebendo tudo isso que se esconde por baixo das pálpebras, unhas, gengivas, couros, rugas, risos, piscos, que fazer? Abocanhar tudo novamente, morder, mastigar, salivar, degustar , triturar, dissolver, digerir? Esquecer, r´esconder, virar as costas e partir?

Para onde quero (queremos) ir?
Que queremos ser?
O que estamos sendo?
O que for, será...
Não adianta negar, ser-emos...
Estamos sempre indo
Pelo caminho do rio...
(ora agarrados nas raizes, ora derivando a fio...)

"Sushi, chá bar
E esse seu jeito de falar
Cantar, dançar, olhar pra mim
Viver é não ter que transplantar…

Doar sangrar trocar chamar pedir mostrar mentir falar justificar no cais chorando não sou eu quem vai ficar dizendo adeus batucada macaco no seu galho da roseira em flor da laranjeira amor é choradeira horror a vida inteira à beira da loucura e a dor e a dor e a dor e a dor…"

Uma música - Sushi - Tulipa Ruiz