quinta-feira, 28 de março de 2013

Ameixas madeixas...


Sentia-se incompreensível... inexprimível... naquele dia tinha partido de todos os cantos por onde estivera, refez toda sua história na sala de cinema por trás dos olhos e percebera: quem é este? quem é esta? por quê?... se continuasse a perguntar incessantemente, poderia chegar ao mínimo divisor comum... ou ao indivizível... indizível... calou-se. Calou-se dentro de si. Perguntar angustia demais e calar anestesia demais... um silêncio melódico passou então por entre seus dedos chegando à nuca e aos tornozelos... dançou... dançou como se ninguém estivesse olhando, ainda que todo o universo estivesse ciente dele... dançou como se não existisse nada nem ninguém para onde ir... Aparentemente tudo parecia desaparecer... Mordeu uma ameixa roxa molhada deliciosamente doce e foi como se todas as mordidas que deu estivessem ali... Mordeu-se de vontades loucas de dentes e línguas... mordeu-se até mastigar-se inteiro, retornando ao estado original de terra... Nos subterrâneos, nada viu... desistiu de ver... fechou os olhos n´uma escuridão esclarecedora que só o oxigênio orgânico fértil poderia lhe oferecer... Chegou a todas as conclusões que podem brotar do nascimento de si... conclusões que colidem-se umas com as outras fragmentando-se em infinitas areias costeiras e desértidas... a imensidão... o vazio inteiramente repleto de nós mesmos... e tão cheio de espaços para preencher que pode respirar tranquilo, pois não nos faltará ar para respirar no céu... Morando agora nesta silhueta perdida em pele, que de tantas formas desenrola o mundo até soltarem-se todos os fios, pode enfim tecer o que quiser tecer... de uma noite estrelada a um sorriso maroto que apaixona... porque amar é simplesmente deixar-se cair no vazio... no incerto... não é voar, "é cair, com estilo"...

Uma música - Recompensa - Wado

Leve...

"Meu amor é leve...
e que me leve longe"...

Sou... a princípio não era.... nada... e "do nada", no meio do "tudo", me fizeram... não me fiz, a princípio... e do que me fizeram, comecei a fazer-me... a cada instante, cada gesto, cada olhar, cada ideia... me fiz do já feito refazendo... Seguimos neste todo que mais parece um nada, porque não consigo me reconhecer em tudo que não parece comigo, apesar de não ser diferente de mim, tão nada e tão todo quanto eu... E assim, feito algo, a cada instante novo, porque vivo, logo em movimento, batendo, respirando, querendo, indo, amando, destruindo e construindo, assim, feito algo, vou... como alga marinha salina nas ondas na praia no fundo das profundezas da imensidão que não tem fim de tão escura e longíngua do mar... Como o oceano, uma treva que não se enxerga, lugares onde não se chega, um frio e um calor, em correntes remexendo as entranhas, há dentro de mim... Como o oceano, não me contenho, não chego, não páro, não sou... estou sendo... calmo, inquieto, desesperado, apaixonado, louco, gelado, furioso, distante, marejado, paciente, úmido ou encharcado.

Caminho, com meus pés, aparentemente escolhendo cada passo, mas sem saber onde me levará o caminho... Sem saber o que vou encontrar, a sensação dos pés, do chão, do toque, da temperatura, do sabor... com meus pés... meus pés... meus... com nenhum outro posso caminhar, nenhum outro pode sustentar meu peso ou levar-me pelos caminhos que preciso... próprias pernas, próprio corpo, próprio meu eu...Só imaginar... imaginar, pintar, fluir, manchar, pincelar, brincar, desenhar planos, futuros, telas fantásticas nas quais faço o que quero fazer e farei...

Assim, tão eu e tão tudo, tão nada, tão ninguém, tão sem mim, tão comigo, tão com todos e sozinho, tão sozinho no meu isolamento cardíaco de olhos fechados na minha tristeza sem fim, na sensação de esquecimento de tudo de onde eu vim, de todos que eu vi, na sensação cruel de que em nada caibo, que a qualquer momento o que era não foi mais, tornou-se outra coisa, movimentou-se inteiramente para outro lado para onde não fui nem posso ou quero ir, assim... continuo... ainda assim, continuo... num joguinho eletrônico de pingpoing entre a vida e a morte, a cada segundo vivo e morro, sou e não sou, fui e serei, quis e desquis... 

E sendo, apenas livre posso ser... porque tudo que não seja livre, não pode ser... e sendo, sinto, penso e vivo... sinto tudo que posso sentir, tudo que posso pensar, tudo que posso viver... não posso evitar, não dá para evitar... evitar é acabar... e nada acaba, não se pode acabar... infinitamente existe tudo que está...

Um dia uma fruta foi colhida de seu berço orvalhado por muitas mãos... e todas elas lhe deram uma mordida... e a cada boca que adoçava, mais linda se tornava a fruta que se transformava novamente em vida...


"Meu coração é um balão" e cada emoção é uma agulha...

Uma música - My Mistakes were made for you - The Last Shadow Puppets

sábado, 16 de março de 2013

Negros...

 
Estações de trem, de sol, de folhas secas... andando pela rua do velho centro baixo quase esquecido a vejo de costas, com as mãos cerrando brincando encostando quase sem querer querendo nas mãos dela que ela tinha dito que acabara ou não? Aqueles cabelos negros pintados de preto porque senão castanhos claros - ondulados compridos um pouquinho depois dos ombros... Não me vê, não me verá... apenas vejo, olho, observo, aprecio... N´uma curva pode-se ver-lhe o rosto e está mais linda do que antes... ou tão linda quanto antes... Não conseguia mais lembrar de sua beleza... De sua magia... De seu fascínio... Fez a curva e foi embora enquanto segui direto em busca de ratos nos livros de sebos... Eu sei que ela nunca irá ligar. Eu sei que não há nada para falar. Que a fiz de analista para desabar´far minhas demolições e pronto. Nada mais. Pronto. São tantas graças engraçadas na vida cruzada de encruzilhadas tortas por onde passamos. Lembro quão cômico´írônico é o fato de você às vezes se disfarçar... porque sua voz, seus risinhos, jeitos, sons, se fazerem passar por idênticos a memórias perdidas nos meus baús... Como no primeiro momento me deparei com o fato de sua mão ser tão pequeninha como outra pelaqual fui desmoronado... E descobrir´amar quão você você é, tão diferente e nada ver com qualquer lembrança, mas ainda assim sem saber brinca de me desconcertar com essas fotografias sonoras e táteis... E os sentimentos transbordam quando seus olhinhosões me encaram pidões de brilhos e lágrimas e sonhos... Não posso nem lembrar deles e do narizinhoarrebitadoarredondadofofotesão que você tem e da boca e das bochechas e do lóbulo da orelha sem brincos e do tornozelo enfeitado com tecidos furtacor... e me lembro de tudo e de tanto e do que há além, porque não terminamos em nós... Não nos chega nós mesmos... E não podemos nos bastar...

Com a ponta dos dedos - Wado com Marcelo Camelo e Mallu Magalhães

Sabotage



Não me caibo... explodo-me... pirotecnia sanguínea intraretina de adrenalina e insuficiência pancreática. Putz, não posso viver muito. Mas antes preciso largar tudo, mandar o mundo à merda... estou solto no mundo, boiando n´um barco louco de dois quartos, sala, cozinha e quintal... Remo com as mãos loucas em busca de ilhas, de pedaços de areia, de peixes... há momentos de coqueiros e água doce e momentos de deriva e calor rachado... O casco faz água, todo mês é preciso pagar ao mundo para que ele não afunde. Pois assim funciona esta merda, ou você paga, ou o ar vai te faltar, a água demasiado salina vai foçar caminho na tua garganta e te matar de choque anafilático e eu não quero ser salvo pelas correntes que alguns "entes queridos" poderiam me oferecer... É preciso morrer antes disso... criar uns botinhos efêmeros para brincar um pouco mais, mergulhar, poetizar bem muito/bem mundo, trançar bem muito / bem nu... E tentar fazer o maior estrago possível... descer, sabe, ir até o estacionamento subterrâneo abissal no último andar da garagem escondida e secreta desta caverna vulcâneca do sistema e explodir nas paredes, pra derrubar uns prédios, rolar um pânico, pirar umas caras medíocres que nunca deram um passo sozinhas... É preciso elevar a taxa de suicídios... o desespero precisa sair do controle do sofá da programação... e depois, se der, sair pra passear e nunca mais voltar... morrer mordido por uma paixão em algum lugar entre os Andes e o rio Amazonas...

Alice Pratice - Crystal Castles

sábado, 2 de março de 2013

Carinhando-se sem cessar


O beijo de 
Klimt´ropical 
natur´orgânico 
viscera´jazzmusical 
trans´entimental 
celesti´carnal
Agarra´paixonado
Livr´abert´orgasmo
Na tua pele de sobremesa
Que me balança de ponta´cabeça...

Uma música - You know i´m not good - Amy Winehouse

Zen-direções...



Hoje monge zen-lunático em meditação zen-liber´xtásica... Ontem urso b-pol-ar quase morrendo e com alucinações insones malditas depressivas calabouços porões cansaços pesos bolas de chumbo - Lendo o impossiveler semsaber conseguiu sair do redemoinho estático´pálido em que estava... as nuvens dessiparam-se em formas de poesimagens psicolíricas e delas sairam bom-ti-vis-sabiás-assobiando que nos dedos escreveram textos desatinadamente tatuados no papel passado. De pé, conversou com a telabrilhante que respondia calmante e em companhia refez o espírito de biscuit´argilasangue - Pôde enfim cerrar as pestanas-chamas que apagaram-se em suave fumaça incenso... Neste dia, acordado zen-lunático, decidido a iluminar-despir-se das trevas na pele, pôs-se a cuidar-meditar da maneira mais intensa e íntegra e ímã e irmã que quis... meditar varrendo, limpando, faxinando, esfregando, musicando, dançando, vibrando, celebrando, lixando, molhando, encharcando, rodando, puxando, brilhando, descarregando toda a tristezadepressãonegativacarregada no suor no ralo no fazer diário cotidiano doméstico que é cultivar o templo que encerra envolve acolhe a alma que sonha e quer e voa e transcende aqui e agora. Bolha de sangue na mão banho de água benta de chuva de chuveiro sagrado cachoeira de plástico líquido sublime que purificou a alma do pó e da penumbra... No meio disso tudo, ainda caminha na noite céu nublado de oceano atlântico´tântrico pr´um café ilha ladeira nutrir-se da oração da tapioca queijo branco tomate manjericão café creme de avelã... Que mantra, que cântico, que deliciosamente místico... E agora pode caminhar mais e mais sem cansar... lendo e fazendo e criando nuvens e pontes de sal e sorrisos...

Uma música - Universally SpeakingCan´t Stop - Red Hot Chili Peppers

sexta-feira, 1 de março de 2013

Loucanias...

Vivo numa vontade derreter-me como um bule de chá de cogumelos e mate que desce da garganta aos dedos e escapa pelas unhas pr´o esgoto e todo meu ser em fogo segue pelos canos loucos dejetos de cidades degeneradas desnecessárias de bípedes depenadas para o abate final que nunca chega por mais que rezem o hit do momento em vozes roucas de quem grita noite adentro por socorro sem ouvidos quando acordo novamente do teu seio onde moro sem móveis ou cobertas só teus pelos que me protegem do granizo de não ter medo que o fim chegue mais cedo que o horário empoeirado daquele ônibus fantasma atrasado de luzes negras e tristes e ferozes e desço as escadas das tuas pernas degrau por degrau de joelhos e tornozelos e suaves dedos de pés que beijo com uma volúpia de quem morre pelo último gole daquilo que um dia acordou para ser sua vida...