quinta-feira, 11 de setembro de 2014
Beduíno-montanhês
Processos de transformação, ciclos de vida e morte, caminhos diversos, de tempos, ritmos, temperaturas particulares.
Num tempo longínquo passou muitas eras no calor agradável dos trópicos afetos. Foram lugares de muitas tempestades tropicais, sim, devastações, conflitos, escassez provocada, é certo, mas também de boas colheitas, aprendizados rachantes e poderosos, pazes e ninhos.
Mudou. Mudou-se.
Saiu do trópico (ou este saiu dele).
Alguma coisa como as planícies patagônicas de gentes e sentimentos tomou-lhe de súbito. Lugares frios em todas as estações, inóspito, irrespirável, isolador. Desavisado, inesperado, o novo clima existencial, tão antitropical, o arrasou, despreparado que estava para as provações que se sucederam. Não sabia como se cuidar, se proteger, se alimentar, respirar, se aquecer naquele universo vazio, seco e frio, tão grande onde nada se via, tão quieto que nada se sentia.
Tão só que eremitou-se, tão nada que monasticou-se. E morreu.
Quando novamente acordou, preveniu-se: aprender a viver com o cinza gelo da montanha deserta. E intrinsecou-se, enregelando-se, enrigecendo, insensibilizando o que não tinha mesmo o que sentir.
Três ou quatro nesgas de sol, de temperatura pouco mais aprazível, rapidamente iludiu-o. E tão rapidamente desapareceram que, qualquer sol inútil quer agora desperceber... Inútil, prefere desesperançar-se de sol, tão mais premente e tangível é o nublado inquebrável dessa atmosfera austral. E segue pela paisagem sem mais nada a fazer, criando só, por distração, compartilhando agoras pelo absurdo apenas, jogando sementes por ironia e teimosia marota mastigada com tédio, deixando-se ser por indefinição... Desfazendo-se até inexistir... Inexistência pura como o infinito...
Soa - Erik Satie - Gymnopédie No.1
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