quinta-feira, 11 de setembro de 2014
Ódio
Quando quero me desfazer do que me faz mal, do que me incomoda, daquilo para o qual não tenho mais paciência, seja um sentimento, uma lembrança, uma vontade ou expectativa, tenho dois caminhos. O primeiro é forçar-me a ignorar e esquecer tal elemento de agonia, provocar-lhe a inexistência.
O segundo é odiar.
Há coisas ou emoções ou vontades ou o que quer que nos persiga, que de tal forma se entranhou em nossos porões e abismos, nossas retaguardas e indefesas, que o caminho suave do esquecimento e da ignorância não basta, não funciona. A cada nível de eliminação memorial, reaparece num lugar mais além, mais aquém, mais dentro, mais inferno.
Nesses casos, mais graves e sérios (e sério para mim é uma palavra terrível, tudo que é sério é péssimo), resta a segunda opção, mais diretiva, incisiva, imperativa. É preciso agir pela ação, não pela omissão. Atacar, ao invés de desaparecer. Destruir. Matar. Morrer.
Não deixa de ser um processo espontâneo e inevitável. Se o esquecimento não funciona, aquilo que incomodava, que agoniava, passa a irritar, impacientar de forma intensa, como uma alergia, como uma praga, um mosquito insuportável de proporções humanas que não nos deixa dormir e precisa morrer.
O que eu chamo de ódio é um processo de destruição intensa. É uma energia de morte sobre algo indesejado. É, também, um método de cuidado, afinal. De cura. Odeio, para o próprio bem.
Cansa, esgota, demanda energias penosas, o ódio em si não faz o bem, mas o prepara. Que jeito?
Findo o ódio, findo o objeto ou direção do ódio, terra limpa e arrasada, mas agora disponível para florescer, revive-se.
E, de preferência, para além dos mecanismos e caminhos de cura e tratamento, intensificar os caminhos e mecanismos de prevenção, de autocuidado a priori, prévios, permanentes. Evitar tudo que causa ódio, já esquecer tudo que merecerá ser esquecido.
Desintoxicar a (im)paciência...
Caminhar...
Música - The Storm - Patrick Watson
Imagem - Joe Mangrum
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