terça-feira, 17 de maio de 2016
Ar-Dor
A dor é uma grande educadora. Quando nos machucamos, quando nos machucam, quando somos agredidas, quando sofremos, quando perdemos, quando passamos por momentos difíceis, quando algo importante para nós é destruído/quebrado, quando sentimos tristeza, mágoa, decepção, desânimo, medo, pânico até... São momentos limite, são momentos em que somos colocadas contra uma parede existencial, somos pressionadas a pontos de ruptura, e temos que nos transformar, nos fortalecer, crescer, termos mais autonomia e capacidade de cuidar de nós mesmas, de lidar com essas adversidades, nos adaptar e mudar, aprendendo e superando todas essas dores e circunstâncias dolorosas... Ninguém "quer" viver esses momentos. Mas não se pode fugir deles e reconhecer sua importância em nossas vidas, o quanto crescemos e aprendemos com eles, também é uma forma de superarmos e passarmos por esses desfiladeiros, essas trevas, essas dores existenciais todas...
Eat me, Drink me - Marilyn Manson - devorando-me...
sábado, 14 de maio de 2016
InAcesso
Está decretado o fechamento dos portos. E instituída a aplicação do princípio da precaução e do malefício da dúvida. Meu eu íntimo e afetivo se recolhe no alto da montanha interior e uma geada e forte tempestade impedem qualquer acesso.
O Princípio da Precaução na vida social humana entende-se como uma atitude de cautela - se não se sabe se uma potencial relação pode fazer mal a ambas as partes, prejudicar e destruir algo e alguém, a saúde, o bem-viver, o equilíbrio da vida, é preferível não estabelecer relação.
O malefício da dúvida é, de certa forma, o mesmo. O inverso do benefício da dúvida que dava a garantia de que, se não temos certeza de que algo ruim pode acontecer, vamos esperar que algo bom aconteça. Entende-se atualmente de que se não temos certeza de que algo bom vai acontecer, espera-se que algo ruim provavelmente acontecerá.
Acontece que, na verdade, isso inviabiliza qualquer relação. Porque não existe nada exclusivamente bom. Nem chocolate, que em excesso, engorda. Tudo tem polos positivos e negativos, claros e escuros, agradáveis e desagradáveis. E sempre tive essa compreensão e abertura para lidar com essa complexidade da vida. Acontece que tenho descoberto que existe uma expectativa geral e ideológica de que a outra pessoa não pode errar nem causar nenhum mal, e se o fizer, ela se reduz a isso - se torna errônea e má em sua totalidade e até o fim da vida. E com esta expectativa não se pode dialogar.
Acontece que até recentemente o princípio da abertura, otimismo e benevolência universal era aplicado na vida desta que escreve. Princípio que entendia que toda pessoa, contato e relação era potencialmente bom, favorável para bons momentos, agradáveis, bonitos, aprendizados, crescimentos. Supunha-se que com toda pessoa se tinha algo a somar, partilhar, sentir e aprender/ensinar. De fato, isso ainda é entendido como tal. Mas não se pode esquecer também, com o histórico dos últimos anos, de que não só isso toda pessoa e relação traz. Toda relação traz também o potencial de muito mal-estar, muito mal-entendido, muita incompreensão, muita culpabilização e equívocos de ambas as partes. E que muita coisa acaba sendo interpretada, entendida e julgada de forma reducionista, acusatória e fatalmente condenatória. As relações se tornaram tribunais do júri e corredores da morte. E os saldos finais e repercussões infelizmente estão poluindo e tornando opacas toda e qualquer alegria e prazer que se teve nisso tudo...
Sensação de que servi de expiação para todos os males... E não estou aqui para isso...
O Princípio da Precaução na vida social humana entende-se como uma atitude de cautela - se não se sabe se uma potencial relação pode fazer mal a ambas as partes, prejudicar e destruir algo e alguém, a saúde, o bem-viver, o equilíbrio da vida, é preferível não estabelecer relação.
O malefício da dúvida é, de certa forma, o mesmo. O inverso do benefício da dúvida que dava a garantia de que, se não temos certeza de que algo ruim pode acontecer, vamos esperar que algo bom aconteça. Entende-se atualmente de que se não temos certeza de que algo bom vai acontecer, espera-se que algo ruim provavelmente acontecerá.
Acontece que, na verdade, isso inviabiliza qualquer relação. Porque não existe nada exclusivamente bom. Nem chocolate, que em excesso, engorda. Tudo tem polos positivos e negativos, claros e escuros, agradáveis e desagradáveis. E sempre tive essa compreensão e abertura para lidar com essa complexidade da vida. Acontece que tenho descoberto que existe uma expectativa geral e ideológica de que a outra pessoa não pode errar nem causar nenhum mal, e se o fizer, ela se reduz a isso - se torna errônea e má em sua totalidade e até o fim da vida. E com esta expectativa não se pode dialogar.
Acontece que até recentemente o princípio da abertura, otimismo e benevolência universal era aplicado na vida desta que escreve. Princípio que entendia que toda pessoa, contato e relação era potencialmente bom, favorável para bons momentos, agradáveis, bonitos, aprendizados, crescimentos. Supunha-se que com toda pessoa se tinha algo a somar, partilhar, sentir e aprender/ensinar. De fato, isso ainda é entendido como tal. Mas não se pode esquecer também, com o histórico dos últimos anos, de que não só isso toda pessoa e relação traz. Toda relação traz também o potencial de muito mal-estar, muito mal-entendido, muita incompreensão, muita culpabilização e equívocos de ambas as partes. E que muita coisa acaba sendo interpretada, entendida e julgada de forma reducionista, acusatória e fatalmente condenatória. As relações se tornaram tribunais do júri e corredores da morte. E os saldos finais e repercussões infelizmente estão poluindo e tornando opacas toda e qualquer alegria e prazer que se teve nisso tudo...
Sensação de que servi de expiação para todos os males... E não estou aqui para isso...
segunda-feira, 9 de maio de 2016
A-cor-dá
Azul tem som
de pássaro, de asas batendo, de corais brotando da pedra, de pele molhada e em
arrepio...
Mas nem todo
azul. Azul profundo de solidão tem mais som de vento, som de vazio, som de água
quente para o chá, do que um azul de olhos infantis, que tem som de cafuné, de
cócegas e de sorriso bobo.
Amarelo tem
som de seiva cheirosa escorrendo do sexo da árvore. Tem o som da ponta dos
dedos da chama, um barulhinho suave como o da pena de ave caindo e dançando.
Tem amarelo,
daqueles amarelos terra, em que eu ouço o desabrochar de sementes, saindo
aquele pescocinho delicado de planta recém-nascida. Ouço também o barulho que
faz quando a fruta cai, madura, desmanchando-se no chão, machucando-se, mas
também derramando-se de alegria pela liberdade alcançada.
Verde me soa
dança de galhos e folhas balançando com o tempo do dia. Escuto ainda aquela
música que canta dentro quando se conhece outra pessoa, relação esverdeada, ainda
por se escurecer. Há verdes temporais que soam lágrimas que cuidam e renovam a
gente. Há verdes cujo som é idêntico ao do domingo pela manhã, com toques de
passos caminhando no parque.
Roxo é rugido
que vibra quando superamos um medo. Ou quando decidimos que esse/s medos não
vão deter a gente. Roxo é barulhento, como o barulho dos corpos em êxtase, em
saltos, em mordidas, sem fôlego. Lilás já tem o som do soninho que dá após uma
vitória, um orgasmo, aquele sono divino que se dorme a dois. Lilás ressoa
também a caixinha de música, de som metálico delicado e magnético, fazendo a
bailarina girar e viver.
Preto tem o
maior e mais longo som de todos, o silêncio. O preto inunda nossos ouvidos com
sua vastidão sublime. Às vezes o preto tem o som do medo, mas aquele medo bom,
do desconhecido, que nos incita a ir e desbravar. Preto é vibração poderosa,
todo tambor tem som preto, toda batida de pé no chão, todo movimento intenso,
tem som preto. A história ancestral canta, na maioria das vezes, músicas de cor
preta.
A cor Terra,
ou marrom, tem som de fruta comida, de pele queimada de sol, de tapioca pronta
para ser derretida na boca, de balanço de rede, de canoa cortando o rio. Tem o
som da respiração da Terra, o som das marés e dos terremotos, som das cavernas
esquecidas e dos precipícios.
E os vermelhos
e alaranjados, tem som de pele roçando, som de boca encontrando boca, som de
fogo transformando a comida em cheiro e gosto intenso, som de gemido de prazer,
gemido de vôo, gemido de morrer. O vermelho é a cor mais musical, pois tem o
som do sangue correndo nos músculos, inquietos e eufóricos, sentindo os ritmos
dos vários tons quentes e encontrando os acordes certos dos movimentos.
Vermelho tem som de afeto, mas também de ódio. Tem som de começo, mas também de
fim.
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