Azul tem som
de pássaro, de asas batendo, de corais brotando da pedra, de pele molhada e em
arrepio...
Mas nem todo
azul. Azul profundo de solidão tem mais som de vento, som de vazio, som de água
quente para o chá, do que um azul de olhos infantis, que tem som de cafuné, de
cócegas e de sorriso bobo.
Amarelo tem
som de seiva cheirosa escorrendo do sexo da árvore. Tem o som da ponta dos
dedos da chama, um barulhinho suave como o da pena de ave caindo e dançando.
Tem amarelo,
daqueles amarelos terra, em que eu ouço o desabrochar de sementes, saindo
aquele pescocinho delicado de planta recém-nascida. Ouço também o barulho que
faz quando a fruta cai, madura, desmanchando-se no chão, machucando-se, mas
também derramando-se de alegria pela liberdade alcançada.
Verde me soa
dança de galhos e folhas balançando com o tempo do dia. Escuto ainda aquela
música que canta dentro quando se conhece outra pessoa, relação esverdeada, ainda
por se escurecer. Há verdes temporais que soam lágrimas que cuidam e renovam a
gente. Há verdes cujo som é idêntico ao do domingo pela manhã, com toques de
passos caminhando no parque.
Roxo é rugido
que vibra quando superamos um medo. Ou quando decidimos que esse/s medos não
vão deter a gente. Roxo é barulhento, como o barulho dos corpos em êxtase, em
saltos, em mordidas, sem fôlego. Lilás já tem o som do soninho que dá após uma
vitória, um orgasmo, aquele sono divino que se dorme a dois. Lilás ressoa
também a caixinha de música, de som metálico delicado e magnético, fazendo a
bailarina girar e viver.
Preto tem o
maior e mais longo som de todos, o silêncio. O preto inunda nossos ouvidos com
sua vastidão sublime. Às vezes o preto tem o som do medo, mas aquele medo bom,
do desconhecido, que nos incita a ir e desbravar. Preto é vibração poderosa,
todo tambor tem som preto, toda batida de pé no chão, todo movimento intenso,
tem som preto. A história ancestral canta, na maioria das vezes, músicas de cor
preta.
A cor Terra,
ou marrom, tem som de fruta comida, de pele queimada de sol, de tapioca pronta
para ser derretida na boca, de balanço de rede, de canoa cortando o rio. Tem o
som da respiração da Terra, o som das marés e dos terremotos, som das cavernas
esquecidas e dos precipícios.
E os vermelhos
e alaranjados, tem som de pele roçando, som de boca encontrando boca, som de
fogo transformando a comida em cheiro e gosto intenso, som de gemido de prazer,
gemido de vôo, gemido de morrer. O vermelho é a cor mais musical, pois tem o
som do sangue correndo nos músculos, inquietos e eufóricos, sentindo os ritmos
dos vários tons quentes e encontrando os acordes certos dos movimentos.
Vermelho tem som de afeto, mas também de ódio. Tem som de começo, mas também de
fim.
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