Está decretado o fechamento dos portos. E instituída a aplicação do princípio da precaução e do malefício da dúvida. Meu eu íntimo e afetivo se recolhe no alto da montanha interior e uma geada e forte tempestade impedem qualquer acesso.
O Princípio da Precaução na vida social humana entende-se como uma atitude de cautela - se não se sabe se uma potencial relação pode fazer mal a ambas as partes, prejudicar e destruir algo e alguém, a saúde, o bem-viver, o equilíbrio da vida, é preferível não estabelecer relação.
O malefício da dúvida é, de certa forma, o mesmo. O inverso do benefício da dúvida que dava a garantia de que, se não temos certeza de que algo ruim pode acontecer, vamos esperar que algo bom aconteça. Entende-se atualmente de que se não temos certeza de que algo bom vai acontecer, espera-se que algo ruim provavelmente acontecerá.
Acontece que, na verdade, isso inviabiliza qualquer relação. Porque não existe nada exclusivamente bom. Nem chocolate, que em excesso, engorda. Tudo tem polos positivos e negativos, claros e escuros, agradáveis e desagradáveis. E sempre tive essa compreensão e abertura para lidar com essa complexidade da vida. Acontece que tenho descoberto que existe uma expectativa geral e ideológica de que a outra pessoa não pode errar nem causar nenhum mal, e se o fizer, ela se reduz a isso - se torna errônea e má em sua totalidade e até o fim da vida. E com esta expectativa não se pode dialogar.
Acontece que até recentemente o princípio da abertura, otimismo e benevolência universal era aplicado na vida desta que escreve. Princípio que entendia que toda pessoa, contato e relação era potencialmente bom, favorável para bons momentos, agradáveis, bonitos, aprendizados, crescimentos. Supunha-se que com toda pessoa se tinha algo a somar, partilhar, sentir e aprender/ensinar. De fato, isso ainda é entendido como tal. Mas não se pode esquecer também, com o histórico dos últimos anos, de que não só isso toda pessoa e relação traz. Toda relação traz também o potencial de muito mal-estar, muito mal-entendido, muita incompreensão, muita culpabilização e equívocos de ambas as partes. E que muita coisa acaba sendo interpretada, entendida e julgada de forma reducionista, acusatória e fatalmente condenatória. As relações se tornaram tribunais do júri e corredores da morte. E os saldos finais e repercussões infelizmente estão poluindo e tornando opacas toda e qualquer alegria e prazer que se teve nisso tudo...
Sensação de que servi de expiação para todos os males... E não estou aqui para isso...
sábado, 14 de maio de 2016
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