segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Distração


Sou um tipo insatisfeito? Melancólico? Triste?... A vida parece pálida e flácida?... Um tipo bêbado desde nascença? Que ri e conta piada como quem tá na lombra? Um tipo alucinógeno? Uma criança de 7 anos no corpo de jovem com espírito de 57 e um pé na cova?

Bem, descobri outro dia (eu e todo mundo) uma boa explicação para as coisas. Somos hoje uma sociedade fliperama, ou, como dizia Debord, Espetacular. Um mundo de pessoas superocupadas. Assassinamos o tempo para aprisionar a liberdade, contudo nos achamos cheios de escolhas e no melhor dos mundos livres. Isso porque o Sistema que reina hoje, o aprimoramento de doze milênios de dominação e poder, é supereficaz em nos manter ocupados, com os olhos ofuscados de luzes, os ouvidos surdos de plins plins e músicas pop, os sentidos perturbados com tantas e tantas sensações cópias e múltiplas, a mente ultraexalrida de spams, a invenção do século: lixo mental, masturbação mental, a indústria do entretenimento espetacular... programas de auditório e hollywood, celebridades e feriados, video-games e video-vidas, compras, compras e compras! Competir! Estudar! Concursar! Corrida pela sobrevivência, cavalos em busca do ponto de chegada! Ultrapotente-antidepressivos! Incessante rotina de trabalhos e compromissos! Filas, multidões, engarrafamentos! Megas, Gigas e Teras de informação inútil! Superinformação para nos entupir e afogar, enquanto as máquinas nos mantém artificialmente vivos, pois, em "condições normais", morreriamos com tanta tolice, superficialidade e banalidades enlatadas que somos obrigados a engolir.

Sim, é isso. A sociedade hoje é uma supermáquina de produzir drogas para nos matar e nos manter vivos ao mesmo tempo. Zumbis que perambulam pelos corredores dos shoppings aos sábados e voltam sossegados ao trabalho às segundas... vive-se para trabalhar e morrer! Que sina! Que explicação para o sofrimento e a miséria! Trabalhar e morrer! Máquinas-humanos, zumbis-TVs, Cartões-de-crédito-biológicos!

Supervaloriza-se a vida! Encobrem-na d'uma áura sagrada, põem-na em uma declaração de direitos, como uma bola de chumbo e corrente amarrada ao pé, um direito que teremos que carregar toda a existência, durante todos os momentos de tédio, ódio e frustração... Por quê?! Para que não nos matemos!... Diante de toda a insânia, estúpida existência, caótica e cruenta jornada (de trabalho) da vida... ainda querem que nos prolonguemos, sejamos longivos... 60, 70, 80 anos de trabalhos forçados...

Se as revoluções não mudaram este mundo, se as guerras não o destruíram, nem ao menos pode-se destruir a si, pois é pecado, é crime, é inaceitável! Moral! Princípios! Códigos! Regras! Cercados de todos os lados, material e simbólico, ideológico e subconsciente, somos bestas na roda de moer do sistema de geração de riqueza! Riqueza de poucos! Que a cada milênio aumenta e se concentra cada vez mais! Cada vez mais!!!

E o resultado é: A Loucura! A Violência! O Caos!

Uma sociedade profundamente doente, segregada, psicopata! Torturadamente rica, luxuriantemente miserável.
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Quando vês, realmente muito poucas coisas importam... de todas as distrações, entretenimentos, passa-mata-tempos. Tudo parece sem sabor porque a maior parte realmente não tem sabor... e o que tem? Onde está? O que tem sentido? Tão pouco... é preciso tão pouco para viver. A vida constitui-se, no fim, de tão poucos e essenciais sentimentos, ações, valores, símbolos, partes... Simples. Simples. Por que não ser simples? Uma sociedade prepotentemente dita "complexa"... para o bem de quem?

O que realmente nos distingue enquanto seres humanos é a criatividade e não a razão. A razão, o racional, prova-se todos os dias, é o dom da máquina, multiplicar, ampliar, velozmente fazer... mecânico, elétrico, morto, máquina. Nós, seres humanos, nos justificamos pela capacidade e possibilidade de criar - algo bom, algo novo, a vida e o mundo... Não criar monstruosos amontoados de concreto, mas sim o simples, o ínfimo, o pequeno, momento, expressão, forma de humanidade...

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