domingo, 8 de fevereiro de 2009

O brilho da noite não me alcança...


(...)
Eu sou o que te espera na estrelada noite.
O que debaixo do sangrento sol poente, te espera.

Olho os frutos cairem na terra sombria.
Vejo as gotas do orvalho dançando na erva.

Na noite o espesso perfume das rosas
quando dança a ronda das sombras imensas.

Sob o céu do Sul, o que te espra quando
o ar da tarde como uma boca beija.
(...)
Eu sou o que guarda nos lábios o sabor das uvas.
Racimos esfregados. Mordidas vermelhas.

O que te chama desde as alturas brotadas.
Eu sou o que te deseja na hora do amor.

O ar da tarde vibra os ramos mais altos.
Ébrio, meu coração, debaixo de Deus, cambaleia.

O rio desatado rompe às vezes à chorar
sua voz se adelgaça e se faz pura e trêmula.

Retumba, entardecida, a queixa azul da água.
(...)
Eu sou o que te espera na estrelada noite,
sobre as praias áureas, sobre as douradas eras.
(...)

Pablo Neruda - adaptado.

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