terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Dois


Como dois estranhos,
cada um na sua estrada,
nos deparamos, numa esquina, num lugar comum.
E aí?
Quais são seus planos?
Eu até que tenho vários.
Se me acompanhar, no caminho eu possso te contar.
E mesmo assim, eu queria te perguntar,
se você tem ai contigo alguma coisa pra me dar,
se tem espaço de sobra no seu coração.
Quer levar minha bagagem ou não?

E pelo visto, vou te inserir na minha paisagem
e você vai me ensinar as suas verdades
e se pensar, a gente já queria tudo isso desde o inicio.
De dia, vou me mostrar de longe.
De noite, você verá de perto.
O certo e o incerto, a gente vai saber.
E mesmo assim,
Queria te contar que eu tenho aqui comigo
alguma coisa pra te dar.
Tem espaço de sobra no meu coração.
Eu vou levar sua bagagem e o que mais estiver à mão.

(Tiê)


A última concentração da noite posta nos ouvidos afim de marcar a memória de pedra-sabão com as notas musicais de amor que tanto o fazia lembrá-la. Um dia de crise - existencial. Uma pequena depressão em dose única, ou talvez dupla. No dia seguinte ainda resta um pouco do macarrão requintado - chique! Mas essa é uma lembrança boa que não chegou no outro dia. A primeira lua da semana meio nublada foi tediosa e burocrática, um passeio chuvoso por entre um céu entreaberto e semicerrado. As têmporas latejavam, o pescoço enrijecia-se do lado direito, uma impaciência subia-lhe pela nuca na porta da noite. Só quer agora expor livremente os desgostos - e deseja que não lhe surja nenhuma consequência posterior. Pois bem, sentiu-se vazio e desinteressado de si, opaco, estático, ártico. As memórias por um instante trancaram-se dentro do armário, impedindo qualquer lembrança reconfortante. Faltava-lhe piadas ou causos para refrescar o silêncio aparentemente árido. Não era comerciante de palavras, preferia simplesmente jogá-las sem nem mesmo preocupar-se com quem vá catá-las sujas no chão ou retirá-las dos galhos invernais sem flores. Um jogador (de palavras) e silêncio. Seu jogo predileto? Sentir-se bem através da multidão que o ignorava. Sentir-se ignorado na solidão dos outros. Escreveu um poema, mas teve medo de expô-lo - é verdade. Não queria que se pensasse muito a respeito dele, imaginando-se mil labirintos e dúvidas. Há muitos poemas nas veias para serem derramados ainda. Palavras beijadas de alegria - basta! No fim, enquanto aguardava para ir embora, tentou lembrar-se da música que tanto concentrara-se para internalizar. Não conseguia. Colocou-a no ouvido para não esquecer mais. Queria cantá-la no ouvido dela. Naquela noite havia uma euforia tão contagiante nela, mas ele sentia-se cansado e queria colo.

Um comentário:

Fernandes disse...

E o silêncio você aprendeu comigo?