Gosta de dançar. Quando dança, sente que ela dança com ele, que dança como ela. A sente no corpo, na intuição do gesto, no pressentimento dos pés, dos joelhos, dos quadris e ombros... sente que os pulsos fazem a mesma brincadeira de ritmo, que os olhos se fecham na mesma penumbra. Ele põe aquela música mágica, que transpassa quilômetros e abismos e a traz pra perto, ao lado, junto, rostos cerrados no espírito melódico, na vibração cardíaca, na latência da pele...
Tem noites que apenas a música segura na mão, envolve o corpo, desmantela a ausência... brincando de ficar só, ou aceitando as solitudes, ele sorrateiramente descobre a gravidade do sentido... do sentir... a fragilidade do partir, do partido... e a desacralidade do porvir...
Quando toca esta música, a luz amarela do banheiro, a água morna do chuveiro, as gotículas no vidro do box, o sabonete de romã ou de erva doce, tudo o leva para lá... para onde não há, não está... Não importa, enquanto a música tocar...
Cecília e os balões - Cícero - uma música
sábado, 17 de agosto de 2013
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