sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Dezembro



Chegou atrasado nesse ponto, mas enfim chegou. Chegou à porta vazia, para poder ele mesmo ir adiante. Enfim ou mais uma vez o antes parece absurdo de tão distante, tão diferente do agora. Mais uma vez irreconhecível, não se reconhece no antes e ainda tenta se encontrar no agora. Parece até mentira, ficção, mito, fantasia. Quando o que era mais cotidiano se torna irreal. Reinventando o cotidiano num tarefa árdua de refazer o mundo de tudo, de dentro para fora, de fora para dentro, de fora e de dentro. Nesse processo tão estranho, passa por momentos de amnésia urgencial, modos de recuperação ou manutenção do ser, lutando para manter-se são diante de certos colapsos interiores e afetivos. A anestesia virou um coma. A ausência virou uma propriedade do ser. Nesse processo tão estranho, passa por momentos de basta, de chega, de não. Como se fosse preciso partir do zero, do nada, pois o negativo se torna insuportável, a história lhe parece impossível. Como se morto, como que não sente, nem dor. Como se nada sentisse, ainda que sinta, não se sabe mais o quê, ou ao menos descrever minimamente o sentir, minimamente tornar possível o sentir, diante de si, consigo. O sentir também parece impossível. Como se a dimensão do sentir nunca tivesse existido, parece que assim consegue ir adiante no que resta, nos outros planos da existência. Rabiscos de sentir parecem apenas rabiscos. Abstratos, alheios, aleatórios. Não tendem a uma linha, um laço, um caminho a seguir.

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