sábado, 18 de outubro de 2014
Desnecessário
Relação ou contato? Atração ou simpatia? Amor ou carinho? Toda relação é contato, mas nem todo contato é relação. Toda atração tem simpatia e todo amor tem carinho, mas a recíproca não é verdadeira (sintopenso eu). Como identificar o amor? Como diferenciar a atração da simples simpatia? Que critérios podemos ter e nos quais possamos confiar? Uma forma de olhar, uma forma de tocar, uma forma de estar? Existe alguma ação que inequivocamente seja conclusiva?
Sentir a sensação de estar e querer estar com alguém para além de qualquer limite, expressar afeto de forma irrestrita, aprofundar-se nelx de forma visceral... mas... se dar conta de que tal sentimento/vontade não é recíproco... ou ter a sensação ou possibilidade de ser, mas ter dúvidas, sentir qualquer incerteza... e... no final, perceber/dar-se conta de que de fato, apesar de todos os sinais aparentemente favoráveis, de fato não era recíproco... Desnecessário... Toda frustração e sofrimento é desnecessário... E eu estou evitando...
Recentemente venho (in)conscientemente desenvolvendo um mecanismo psicológico e emocional de quebra/bloqueio/corte/morte. Quando estou apaixonado por alguém e me dedico a esta pessoa, buscando aproximar-me, chegar-lhe, alcançar-lhe e sentir-lhe comigo, mas, em dado momento, sinto que tal encontro sincero não está acontecendo, de que não há uma mútua vontade de estar junto amorosamente, quase de forma automática mato este sentimento. Corto-lhe as raízes, retiro seu ar, faço o possível e o impossível para desfazer-me dele. Este é o resultado imediato.
Contudo, continuar convivendo com esta pessoa requer um processo de manutenção deste bloqueio. E sinto que este processo tem efeitos colaterais. Como um certo rancor ou ressentimento com o fato, com a realidade, com o movimento da vida, ou comigo mesmo, como me responsabilizando por ter me colocado nesta situação, ter me permitido atrair por quem não estava atraídx por mim. Evitar este sofrimento de certa forma me alheia. Este bloqueio com aquela pessoa, me parece, de algum modo tende a afetar outros contatos e relações. Venho me desacreditando da amorosidade, me ressentindo com ela. Há tempos mais que suficientes a amorosidade me causa mais desgosto do que gosto.
Se o máximo que desfruto destes casos é um carinho aparentemente excepcional de certas pessoas para comigo, que, contudo, não se trata de amor, então, me parece, (in)conscientemente, que o máximo que devo/posso dedicar a alguém é esse carinho intenso... que esta excessiva amorosidade me parece nociva e desnecessária, assim como essa frustração me parece nociva e desnecessária.
Talvez o que eu esteja matando não seja a amorosidade em si, mas qualquer mínima sombra de querer amorosidade. Se vier amorosidade do carinho, que seja, se não vier, que seja. Absolutamente não deve fazer diferença. Sinto-me como se estivesse me tornando ou querendo me tornar indiferente à amorosidade, querendo torná-la aleatória, qualquer-coisa. Dessacralizando ou desimportando este amor excepcional e pessoal por alguém. Se acontecer, nem me darei conta a princípio. Quando me der conta, não hei de ficar mais ou menos feliz por isso. Que a vida com ou sem amorosidade pessoal de alguém não seja melhor ou pior. Que nos sintamos tão bem com ou sem, tanto faz, tanto fez.
Para a outra pessoa, fará alguma diferença? Alguém que, afinal sinta amorosidade por mim, sentirá algo errado ou a menos ou faltando nos meus gestos? Poderá ela diferenciar o carinho intenso da amorosidade? O que diferencia a amorosidade do carinho intenso, do contato intenso, do estar intenso? Há diferença?
A questão é...
Essas pessoas de carinho intenso mas sem amorosidade... elas não gostam de beijo? (as que eu conheci, pelo menos)... elas o evitam, elas viram o rosto, elas rejeitam... por quê?
E isso afeta diretamente meu carinho/contato/estar intenso... então como saber se posso ou não beijar? Devo parar de querer beijar as pessoas?
Antes sempre achei estranho ou inadequado perguntar “posso te beijar”? Mas agora me parece inevitável. Nesses casos estranhos em que a dúvida paira, que fazer? Roubar o tal beijo e ver o que acontece tem se mostrado um belo brejo... O desgosto pelo não querer é muito pior quando o damos... preferível nem ter tido um beijo assim indigesto. E, como sempre, estou evitando tudo que não for bom pra mim...
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