sexta-feira, 25 de setembro de 2015

La Peliroja de Fuego (parte 1)




Dizem que se observares atentamente a chama, em especial de um fogo aceso em ritual, emanado por energias intensas de magia, tu poderás vislumbrar ao menos as sombras das salamandras, seres místicos que habitam a zona mais vermelha e calorosa do fogo. Dizem que se pores tua mão nas pontas azuis da chama, poderás sentir o beijo da salamandra, que não queima a pele, mas incendeia o espírito.
 

Dizem que certas mulheres, que naturalmente ou por meio de encantos avermelham seus cabelos, atraem estes seres para dentro de seus corposespíritos, transformando-se em fogueiras-humanas que incendeiam tudo que as toca. Eu conheci uma dessas salamandras com linhas e gestos e vozes e olhares humanos.



Ela tinha nos pés e nos quadris um rebolado misterioso, oriundo de suas raízes fumegantes nos desertos do Egito. Em seu ventre e em sua vagina existia como um caldeirão de carne e brasas incandescentes e líquidos borbulhantes. Sua pele alva escondia a sua lava sanguínea – mas bastava tocá-la mais intensamente para despertar-lhe a vermelhidão mais sincera da pele. Mas seus cabelos não escondiam seu incêndio ondulante, que balançava lançando fagulhas pelo vento, eventualmente tocando outros cabelos ou peles e causando inevitáveis devastações de ardências e sofreguidões.



Chegou às terras da ilha-continente da Tartaruga por meio dos navegantes mouros, que após conquistarem a ibéria lançaram-se ao mar em busca de novos povos com quem intercambiar as artes negras e obscuras do autoconhecimento e da autoexplosão. E desta origem guardou seu nome castelhano, La Peliroja de Fuego. Eu a conheci, ou melhor, ela me conheceu durante uma peregrinação a ilhas recém-nascidas de erupções vulcânicas. Os oceanos, poucos sabem, guardam imensas bocas de fogo que cospem novas filhas constantemente. Há poucos milhares de anos nasceu a ilha Cacira, palavra que significa maribondo na língua tupi, assim nomeada pelas tribos oceânicas que ali passaram e partiram em razão da escarpada montanha que se projeta no centro da ilha como um ferrão e da praia de peculiar formato arredondado, lembrando a sedutora bunda do inseto temido.



Na ilha habitava também uma variedade muito distinta de maribondo, que a semelhança das abelhas, produzia um néctar adocicado e avermelhado denomiado pelos índios de yapira, cujas propriedades gustativas e estimulantes dos sentidos e dos desejos foi muito apreciada pelos índios que por ali passaram. Antigas histórias dos povos nômades dos oceanos contam que na ilha Cacira se realizavam rituais profanos, em oferta aos espíritos vermelhos da Terra, temidos por suas perigosas manifestações vulcânicas. Conta-se de índios que tiveram seus corpos cozinhados por imprudentemente entrarem nas águas marinhas demasiado próximos dessas salamandras do mar.



Denominados Carirardos, estes rituais pediam clemência à impiedosa volúpia da grande embarcação Terra. E não raro as sacerdotisas e sacerdotes que os realizavam sucumbiam à morte pela exaustão sexual, tamanha fervorosidade eram dedicados às práticas orgíacas.



Cheguei naquela ilha na minha companheira de destemores Calé, termo árabe que significa cigana, minha estimada embarcação. Feita da madeira negra que nasce apenas nas florestas vulcânicas da patagônia, ela é pequena, veloz e amiga das tempestades. Vi minha vida ser salva por este ser-embarcação mais vezes do que posso me lembrar. Levei-a a praia e pequena como ela é, consegui trazê-la por meio de um sistema de troncos e cordas para de baixo dos coqueiros próximos. E então a Calé se transformou num acampamento árabe típico, com suas imensas velas se transformando em tendas e os tapetes que acolchoam seu interior se convertendo em camas macias sob a areia. Acesa a fogueira e posto para queimar incensos para agradecer a chegada àquela ilha, pus-me a explorar as redondezas.



Ouvi falar pela primeira vez sobre a Cacira num porto clandestino, só conhecido pelos nômades do mar, numa bacia escondida duma ilha do índico – mares perigosos habitados pelos temidos piratas somalis. Contaram-me sobre o pico da ferroada, no alto do qual existem certas rochas que parecem cristais de fogo, cujo brilho, quando a luz do sol ultrapassa seu interior, se assemelha à própria estrela-mãe. E advertiram-me: chegar ao pico é uma tarefa tão árdua e confusa que se converteu em uma enigmática e desejada peregrinação para os monges e druidas navegantes que ainda vagam pela Terra.



Eu, como aprendiz de bruxa-cigana-zen-lunática (sincretismo muito particular das minhas vidas passadas), zarpei imediatamente para a localidade obcecada. Em poucas horas de exploração das praias da ilha, percebi que não estava sozinho, ainda que a ilha não fosse permanentemente habitada por nenhuma tribo, pois se acordou há muito tempo que ela deveria ser guardada como lugar sagrado. Descobri sinais de fogueiras, de comida e até mesmo de fluídos sexuais nas areias sob os coqueiros. Mas pelas marcas parecia ser apenas uma pessoa. Quem seria? Como teria chegado ali?



Eu podia sentir uma energia poderosa naquela presença misteriosa. E isto se mostrou para mim como um sinal intenso do destino. Em dois dias circundei a ilha inteira e retornei à minha tenda-navio. Realizado este perímetro exploratório, podia iniciar a mais delicada entrada ao interior denso e exuberante da ilha.



Alimentar-se nunca foi tarefa tão fácil. Parecia que quase todas as árvores da ilha tinha um espírito tão farto e sedento que quase todas as árvores da ilha pareciam ser frutíferas (dotadas de frutos que nunca vira igual em nenhuma parte – uns pareciam-se com mamilos muito duros, outros assemelhavam-se a um sexo inchado, coberta de fina penugem ruiva). Muitas outras plantas, logo descobri, eram também comestíveis – era facilmente perceptível os animais dela se alimentando, ou melhor, degustando, pois a toda hora estavam a mastigar algo. Haviam folhas e flores perfumados em tamanha diversidade que os odores se transformaram em labirintos olfativos. Todas as noites eu experimentava uma nova alquimia de folhas e sumos de frutas, transmutando os mais esplendorosos chás que já tomei na vida.



Descobri que apenas uma relíquia da ilha devia permanecer intocada – ao menos àqueles que não ousavam arriscar suas vidas. O mítico yapira, elixir habitante de histórias tão antigas quanto os povos nômades dos mares. A única vez que eu vi uma gota de yapira fora dentro de um pequeno recipiente transformado em amuleto no pescoço de um velhíssimo ancião de Madagascar. Ele contara, na ocasião, que com aquele amuleto ele poderia comprar um reino, mas jamais o trocaria nem mesmo por um navio inteiro de ouro.



Nas minhas andanças pela ilha observei pontos mais sombrios, cercados por carcaças carcomidas de animais e ossaturas já roídas pelo tempo. Estranhei aquele cemitério aberto e, contrariando qualquer prudência mais acovardada, decidi descobrir qual a origem daquela mortandade. E rapidamente percebi, por um zunido muito intenso que gelou minha espinha, que eram as Caciras as responsáveis por aqueles sacrifícios. Notei, então, a estranha aparência dos cadáveres. Sequíssimos, como se suas essências tivessem sido sugadas até a última gota – que, morbidamente, contribuía para a preservação dos demais restos mortais. E fiz uma assustadora indução – o yapira era produzido a partir não do pólen das flores belíssimas da ilha, mas dos cristais do sangue dos seres vivos.



Empalideci quando percebi que corria seríssimo risco de vida, especialmente com o acelerar do meu coração e consequente rubor da minha pele. As Caciras sentiam o cheiro de medo com muita facilidade, alertando-as que um novo sacrifício devia ser feito. Lentamente afastei-me do lugar, sentindo pesar por acreditar que talvez nunca viesse a provar o sabor inexplicável do yapira.



7 dias já haviam transcorrido desde que desembarcara. Era chegada a hora de iniciar minha igualmente perigosa escalada do pico do ferrão. Lá em cima me esperava outra relíquia que também ansiava ardentemente, as pedras de sol. Descobri que a melhor rota iniciava-se na praia arredondada como uma bunda de maribondo. Dali iniciava-se uma trilha de pedras vulcânicas que subia ziguezagueantemente até a parte mais íngreme da montanha – como uma estranha e escorregadia coluna vertebral.



Reuni uma quantidade suficiente de água de coco e frutas energéticas, assim como algumas castanhas recém-cozidas no ritual que realizara na noite anterior para abençoar minha jornada. Vestia unicamente um lenço para proteger meu pescoço e rosto do sol escaldante e cobrira a pele de seiva vermelha, retirada da casca da árvore chamada Carajo Rojo, de excelentes propriedades protetoras e estimulantes. Protegera os pés e as mãos também, com couro de lagarto-azul, encontrado unicamente na ilha. Seu couro era recoberto de escamas de brilho exótico em múltiplos tons de azul, melhor instrumento para agarrar-me fortemente às rochas que precisaria escalar sem machucar minhas mãos e pés, pois que o interior do couro era incrivelmente macio (assim como era deliciosa a carne deste pequeno lagarto).



Comecei a caminhada às 4h da madrugada. Escolhi o primeiro dia de lua cheia, para iluminar meu caminho e atrair-me para o alto da montanha. O horário mostrava-se propício por ser o período em que a divisão entre os planos espirituais era mais tênue, de modo que eu pudesse convidar os espíritos da ilha a guiarem-me e encorajarem-me nos momentos mais difíceis. E melhor, pouco após iniciar minha caminhada, fui agraciado com bons presságios pelo nascer do sol, que naquele dia levantou-se diante de um céu muito limpo, projetando um amarelo muito intenso e energizante.



Neste cenário favorável, o primeiro dia de caminhada foi incrivelmente agradável, permeado de reflexões intensas sobre alguns mistérios que me acometem. Nossa relação com a dor e tudo que podemos aprender com ela – as formas pelo qual nós provocamos dor deliberadamente, de modo a ornar nossos corpos, transmutar dor em prazer ou mesmo de modo a superarmos nossos medos e nossas fragilidades. A dor, assim como o fogo, endurece, intensifica a resistência e mesmo a coragem, como também tornam mais belas as cerâmicas-almas, se apropriadamente dispusermos dos esmaltes corretos e dos pigmentos adequados.



Dediquei-me a sentir atentamente cada sensação, dos pés, dos tendões, das articulações, dos músculos, do suor escorrendo pelo corpo, da água de coco descendo pela minha boca e em poucos minutos alcançando cada capilar de minha corrente sanguínea. Seguia cuidadosamente cada uma dessas gotas bebidas, desvendando para onde iam em meu corpo. E onde brotariam novamente, em forma de suor.



Em dois dias de caminhada por trilha aberta, a floresta novamente me encobriu, amenizando a temperatura, mas também colocando novos desafios, como imensas árvores caídas na trilha, assim com um curso de rio que precisei cruzar por meio de cipós lançados e amarrados na outra margem, pois se ousassem entrar na água sem estar firmemente seguro ao outro lado seria arrastado e jogado contra correntezas apenas alguns metros abaixo. Mais um dia dentro da floresta e afinal alcancei o pé da montanha. Ela subia quase verticalmente, margeada pelas árvores imensas de vinte metros de altura. Observei que a aproximadamente 30 metros iniciava-se uma depressão na rocha que permitia caminhar ascendentemente margeando a imensa parede. Era preciso então escalar aquelas árvores colossais. Utilizando apenas cipós para amarrar-me aos troncos e minhas luvas espinhentas de escamas reptilianas, consegui em algumas e exaustivas horas alcançar o cume da árvore. A vista, em especial do pé da árvore, era incrível e assustadora. Um deslize, uma queda, e o fim. Do alto daquela árvore, certamente a mais alta dentre todas, para facilitar minha chegada ao início da trilha de rocha, eu podia avistar até a praia, numa paisagem indescritível. O mar estava azul ametista, rebrilhando os raios do sol. Eram cerca de três da tarde quando alcancei o topo da torre de madeira.



Agora o novo desafio, alcançar a rocha. Eu precisaria jogar-me seguro apenas por cipós e agarrar-me firmemente às reentrâncias minerais. Demorei alguns minutos para reunir a audácia necessária e concentrar-me o suficiente para ignorar a morte tão próxima que ali estava. Mas, eu havia atravessado anos da minha vida na expectativa desta jornada e nada, nem mesmo a morte, me faria recuar. Voei em direção à montanha e como um morcego, agarrei-me à sua superfície em uma colisão dolorosa. Meus joelhos pingaram um pouco de sangue, assim como um corte em meu peito, mas o sangue confundiu-se com a tinta carmim do Carajo Rojo. Após respirar profundamente, agradecendo aos ventos pelo feito, iniciei a escalada até o ponto em que poderia caminhar.



Finalmente chegara – ao início da trilha da montanha. Felizmente há apenas algumas horas de caminhada cheguei a um mirante cercado por um côncavo na montanha que dava-me abrigo para a noite. Resolvi descansar e rapidamente consegui recolher alguns gravetos e acender fogo, cozinhando um creme de castanhas amassadas com pedras e água de coco. Aquela noite significou muito para mim. A cada desafio vencido, superado, sinto como se meu corpoespírito ganhasse novas dimensões, alcançasse novos mundos. E vislumbrava nas estrelas daquela noite os universos aos quais eu ganhava acesso por meio da superação dos medos e da expansão dos meus limites.



Retomei a caminhada novamente às quatro horas e felizmente ela se mostrou agradável, pois a trilha margeava calmamente a montanha, subindo lentamente. Até deparar-me com uma imensa parede de pedra interrompendo a trilha, a qual continuava lá do alto, a quinze metros de altura. Felizmente trouxera comigo alguns bons metros de cipó, o qual, amarrado em um galho suficientemente resistente, consegui lançar até uma protuberância na rocha, prendendo-a. Desta forma, pude caminhar verticalmente a primeira metade da parede e repetir o processo para concluir o último trecho.



Mais dois dias de caminhada até a última e mais perigosa parte da montanha. Um trecho bastante íngreme, ainda que fosse possível caminhá-lo, mas coberto de pequenas e extremamente escorregadias pedras. Um passo em falso e eu escorregaria pela montanha, sendo jogado em um precipício algumas centenas de metros abaixo.



Nunca caminhei tão lentamente em minha vida, quase conversando e rogando a cada uma daquelas pedrinhas que me permitissem passar. Buscava enraizar-me a cada passo, andando agachado, para ter maior apoio. E ali não poderia haver parada. Precisava chegar ao cume e só então poderia descansar. Acontece que não era um caminho curto e isso me tomou nada menos do que um dia e meio ininterruptos de destruidora caminhada. Eu sentia como se meus músculos estivessem sendo comidos por animais selvagens dentro de meu corpo, tão dolorosas eram as fisgadas que sentia. E meu corpo a esta altura estava bastante ferido arranhado e até mesmo queimado de sol. Apenas minhas luvas e botas de lagarto sobreviviam bem à jornada.



Quando minha mão transpassou o nível do último mirante da montanha, no seu ponto mais alto, e consegui enfim arrastar-me para a plataforma plana que ali existia, derramei-me sobre o ponto seguro mais próximo e ali fiquei, prostrado, sem conseguir me mexer. Antes de desmaiar, consegui ainda perceber que eu chegara ali exatamente à hora do pôr-do-sol. O pôr-do-sol mais impressionante que eu já vira – parecia como se o sol penetrasse o oceano com tamanha potência que do mar jorrassem jatos de gozos avermelhados e alaranjados, cortando os céus em várias direções. Emocionado, desmaiei.



Quando acordei, qual não foi minha surpresa por descobrir todas as minhas feridas cobertas de uma espécie de seiva aparentemente cicatrizante, perceber que havia uma pele macia servindo de apoio para minha cabeça, perceber que minha boca não estava mais ressecada e que havia uma fogueira acesa ao meu lado, aquecendo-me. Fiquei imóvel de surpresa ainda por alguns minutos quando ouço um barulho vindo de uma caverna próxima. Assustado, coloquei-me de joelhos, pronto para uma reação ao que quer que saísse da abertura na pedra.



E quase desmaio novamente ao ver uma mulher. Uma mulher mais bela do que o pôr-do-sol que eu presenciara. De fato, iluminada pela luz do fogo, ela se assemelhava ela mesma ao pôr-do-sol, só que desta vez moldada em curvas deslumbrantes, delineando suas pernas fortes, seu quadril leve e rebolante, sua cintura suave, seus seios pequenos como frutas e terminados nos mamilos mais vermelhos e duros que jamais imaginara, seus cabelos ondulantes que pareciam brilhar um vermelho mais intenso que o fogo e seu rosto me olhava, me olhava com dois olhos de lua, de cor castanha (refletindo o brilho da chama), e eu sentia que neles dois havia a ternura de quem havia cuidado daquele intruso que ousou ascender aquele templo sagrado.



Nenhuma palavra ousou sair de minha boca aberta de espanto. Ela simplesmente aproximou-se de mim, molhou uma pele macia em água de coco e enxugou o suor de minha testa fria. Acontece que o tremendo esforço necessário para vencer o último trecho da montanha exigiu de meu corpo uma entrega que quase levou-me ao colapso. É provável que se aquela mulher não estivesse ali para receber-me e cuidar-me, eu jamais acordaria novamente.



Após molhar minha testa, sua mão fria segurando a pele de pequeno animal desceu pelo meu rosto, até molhar-me a boca, hidratando-me. Olhou-me profundamente nos olhos, como que indagando quem eu era e o que queria ali, mas por sentir meu profundo respeito por aquele lugar e também por ela, ela aproximou-se de mim e encostou seus lábios nos meus. Pude sentir um gosto acre que indicou que ela me medicava com aquele gesto. Mas, tão sublime foi a sensação de sua boca na minha que inevitavelmente comecei a beijá-la, acariciando-lhe a boca gentilmente, suavemente. Ela inicialmente não esboçou reação, permitindo apenas que eu me deliciasse com sua boca quieta. Mas logo me respondeu os gestos e começou a beijar-me, acelerando os movimentos de sua boca e língua rapidamente.



Tão logo pude minimamente superar a surpresa e a volúpia daquele beijo, minhas mãos avançaram para a cintura dela, convidando-a a aproximar-se mais de meu corpo. Ela então alçou-se sobre mim, sentando sobre meu quadril, perigosamente aproximando seu sexo do meu, que já pulava de excitação. Ela então segurou-o com força, sentindo a profundeza do meu desejo, acariciou-o um pouco, delicadamente, com a mão fechada em torno da cabeça, gesto esse que arrancou-me um gemido engasgado, e então guiou meu pênis em direção a sua vagina. Quando eu me encontrava na direção exata de seu universo negro e cintilante, ela parou, observou meu olhar vidrado naquela cena absurdamente intensa, sorriu levemente, e me envolveu como uma avalanche, um tsunami ou alguma outra manifestação furiosa da natureza que se pudesse comparar. Eu gritei, pus para fora todo o ar dos meus pulmões, num canto de prazer tão imenso que escaparam-me lágrimas. E ela parou novamente, com sua vagina envolvendo-me inteiramente, obrigando meu pau a apertar-se contra o colo de seu útero. E só então eu percebi que também sua buceta estava envolva em alguma substância medicinal, pois eu senti um calor que invadiu todo meu corpo, fumegando-me, formigando-me, expandindo-me. Após alguns segundos que duraram horas, ela passou a levemente rebolar sobre meu quadril, provocando a lenta e firme entrada e saída de meu pau em suas profundezas.



Seu corpo brilhava as gotículas de suor que surgiam em seu corpo. Sua pele branca estava ornada de alguns desenhos em tinta vermelha parecida com a que eu usara em meu corpo e a esta altura da jornada já havia desaparecido com os sucessivos suores que eu derramara.



Meus olhos reviravam-se com o tremendo prazer que ela me causava, somado aos efeitos quase alucinógenos da substância com a qual ela envolvera meu pênis. Eu podia sentir sua vagina apertar-me com tamanha força, enquanto intensamente friccionava-me em movimentos ritmados de seu bumbum (o qual ela me fez segurar, apertando-o, sentindo seu rebolar, sua dança terrível), que ora esquecia de respirar, ora sentia meu coração parar – ou pior, saltar para fora do peito.



Apesar dos cuidados enquanto eu permanecera adormecido e das não sei quantas horas de sono, não se podia ignorar que eu era um ser ainda enfraquecido. E que jamais experimentara sensação semelhante – eu me sentia um meteoro chocando-me contra a atmosfera, fervendo cada centímetro da minha superfície, completamente envolvido por este horizonte planetário que me tomava completamente, pulverizando-me em uma bola de fogo. O ápice do prazer foi tanto que senti uma imensa explosão jorrar de meu pênis. Ela não se contentou com isso, intensificando seus movimentos e a sucção de sua buceta. Pouco depois senti nova explosão, agora quase dolorosa, tamanho esforço meu corpo estava fazendo para suportar o tesão e o segundo orgasmo. Ela continuou em ritmo ainda mais intenso, enquanto fluidos escorriam por entre suas coxas, tornando-as ainda mais brilhosas ante a luz da fogueira viva ao nosso lado. Quando eu senti o terceiro orgasmo consecutivo, quando ela disferiu seu último golpe, obrigando-me a penetrá-la tão profundamente que até mesmo ela sentiu-me demasiado, eu senti um prazer tão intenso que parecia uma dor – ainda que deliciosa – e desfaleci. O céu negro tomou de conta da minha vista, tudo escureceu, ainda que pudesse vislumbrar alguns brilhos cintilando no breu, e então tudo silenciou na minha consciência – ou melhor, perdi a consciência.



Meu corpo tremia um pouco, meu quadril estava encharcado de sêmen e do gozo dela, assim como do suor de ambos. Após meu desmaio, ela ainda dançou um pouco, para seu prazer próprio, já que meu pau permanecia teso, e então lentamente levantou-se. Ela mesma estava exausta, e suas pernas fraquejavam um pouco, ainda que suas coxas fossem poderosas e muito resistentes. Entrou na caverna, apanhou um recipiente de cerâmica e calmamente começou a lamber-me, sugando nossos fluídos com a boca e despejando-os no pote. Degustava antes, deixava os líquidos ora adocicados, ora salgados, inundarem sua língua de sabores antes de permitirem que escapassem entre seus lábios. A seiva que ela colocara em sua vagina e com a qual esfregara meu pau deixou a boca dela levemente trêmula, ao contato com os lábios. Sua vagina também tremia, em curtos espasmos. Após coletar todo nosso gozo, ela introduziu dois dedos em sua vagina, masturbando-se delicadamente, mas também trazendo o sêmen e gozo que ali estavam para fora, de modo a despejá-lo no pote.



Então ela passou a lamber meu corpo, bebendo meu suor. Ainda que inconsciente, estes estímulos chegavam a algum lugar longínquo do meu ser, como um prolongamento da alucinação e/ou do sonho que ela me provocara. Ela bebia lentamente, lambendo-me cada centímetro da pele.



Ao terminar, meu corpo estava úmido e refrescado, agora molhado com sua saliva. Meu pau continuava extremamente excitado e latejante. Ela então começou a acaricia-lo. Massageá-lo. Friccioná-lo com suas mãos macias, mas vigorosas. Minha mente entrou em um turbilhão com este toque, como se eu estivesse agora percorrendo um túnel luminoso, a uma velocidade impressionante. Ela continuou sua brincadeira. Após alguns minutos, aproximou seu peito de meu pênis e apertou-o contra seus dois seios, envolvendo-me na sua maciez. E novamente moveu todo seu corpo, estimulando-me incessantemente. Finalmente eu sai do meu transe, despertando desesperado com o tesão incontrolável a tempo apenas de olhá-la nos olhos e ver meu pau jorrar o quarto orgasmo em seus seios, respingando um pouco em seu rosto, no canto da boca.



Com o olhar mais excitante que ninguém jamais viu, ela, penetrando-me com o olhar, massageou seus seios com meu sêmen, brincando com seus mamilos extremamente rijos. E ardentemente despejava toda aquela porra no estranho pote que só agora eu notara. Ele já estava quase que completamente cheio de gozos que exalavam um tênue vapor, tal a temperatura dos fluidos.



Após terminar e restar em seu corpo apenas o intenso cheiro de sexo, ela aproximou-se do meu rosto, no qual podia-se ver nitidamente algumas gotas brancas. Chegou a alguns centímetros de minha boca e parou. Segundos depois não pude evitar beijar-lhe as gotas, sentindo o sabor indecifrável do imenso orgasmo que ela me provocara. E sua boca então retribuiu o beijo e nos beijamos demoradamente.



Abruptamente ela interrompeu as carícias de línguas e levantou-se, caminhando em direção à caverna levando o pote. Eu tentei segui-la, mas descobri não possuir forças nas pernas – e no restante do corpo. Deite-me novamente, olhando para o céu extremamente negro respingando de gotas brancas que se assemelhavam-se ao meu gozo no rosto dela. Fechei os olhos e inspirei os fumaçantes odores que exalavam de meu corpo.



Ouvi novamente seus passos e abri os olhos. Ela trazia duas tigelas nas mãos cheias de um creme quente. Entregou-me um e sentou-se sobre os joelhos ao meu lado, começando a tomar o conteúdo da tigela em suas mãos. Fiz o mesmo, degustando um sabor muitíssimo agradável. Notei que seus olhos estavam delineados por uma fina linha vermelha. Ela bebia e me observava. Pensei que nunca fôssemos trocar uma palavra quando ela disse “Pensei que você não viria. Minha surpresa só não foi maior porque tudo que estava vivendo desde que alcançara o topo eram extrapolações de surpresas somadas de inundações de sensações. Sua voz era doce e firme.



“Te esperei por treze luas aqui no alto, preparando-me para sua chegada. Mas eu li no céu que esta seria a noite de sua chegada. E fiquei feliz quando vi sua mão atravessar a linha do limite da plataforma. Você parecia quase morto. Cuidei de você enquanto você dormiu por dois sois inteiros.



“Deu-me trabalho alimentar-lhe e hidratar-lhe. Eu precisava por a comida e bebida em minha boca e beijá-lo, para que minha língua pudesse fazer você receber o alimento e os líquidos. Nunca provei uma boca tão excitante como a sua. Às vezes eu me desconcentrava e derramava um pouco no seu peito e lambia-o, quase me perdendo e começando o que deveria esperar você acordar, ela disse essa última frase sorrindo de forma marota, o que me provocou um leve excitamento, ainda que sentisse meu pênis dolorido e deitado sobre meu quadril.



“Eu não sabia que era esperado. Apenas sentia já há muito tempo uma necessidade absurda de subir esta montanha, descobrir o que haveria aqui para mim. Mas confesso que jamais poderia pairar em minha imaginação tudo o que aconteceu. Na verdade, não tenho ideia do que aconteceu. Nem mesmo se isto é real. Você é real?



“Não pareço real para você? Ela disse isso se aproximando e levemente mordendo meu lábio inferior.



A dor prazerosa que senti pareceu confirmar sua concretude.
 

“Como é seu nome?



“ Jam, mas sou conhecida como Peliroja de Fuego. E seu nome é Lauro. Eu previ nas folhas de coca e café maceradas sua chegada e por isso vim para cá, esperá-lo.  Nossos destinos estão conectados há muito tempo. Mas não fale muito, você ainda está muito fraco, especialmente depois de nosso primeiro ritual. Você agora precisa se fortalecer para nossa tarefa. Ela então levantou-se e eu a acompanhei com os olhos, observando aquelas pernas estonteantes e aquele bumbum nocauteante rebolarem até dentro da caverna. Ela voltou com diversas pequenas frutas  de casca roxa seguras junto aos seios, lambuzando-os com sua tintura lilás. Segurava também dois novos potes, um preenchido com um outro líquido desconhecido e o outro vazio.



Ela então ajoelhou-se, colocando as frutas e o pote cheio diante de mim, sobre uma esteira de palha grande sobre a qual eu também estava deitado. Com o bumbum erguido e a vagina visível, ela posicionou o pote vazio logo abaixo de sua vagina e pegou a primeira fruta, molhou-a no líquido e, para minha nova surpresa – como essa mulher podia surpreender-me a cada gesto de forma tão poderosa?! – introduziu a fruta na vagina.



“Essa poção provoca uma contração forte da vagina, que somada ao meu controle sobre as paredes e contrações vaginais, é capaz de espremer a fruta até retirar a última gota de sumo.



E dito isto, observei o suco pingar suavemente de sua buceta no pote, sem derramar uma gota no chão de pedra da montanha. Após espremer todas as frutas, cujos bagaços ela começou a chupar, ela me entregou o suco de modo reverente. Aproximei-o do nariz e o cheirei. Era extremamente perfumado, como se o suco estivesse temperado com especiarias, e também tinha um odor muito carnal, muito intenso e excitante. Novamente senti meu pênis exausto tentar levantar-se, ainda que não tivesse a mínima condição física de colocar-se em ação.
 

Por fim bebi. O líquido quente encharcou-me todo o corpo. Bebi quase sem respirar, sentindo um prazer intenso. Quando terminei, respirei profundamente, para compensar a falta de ar. Mas estava sem fôlego.



Ela então, de forma provocante, reclinou-se para trás, apoiando-se nos cotovelos e abrindo as pernas, com os pés junto às coxas, na base do bumbum.



“Ainda tem um pouco de suco na minha xana, se você quiser. E sorriu maliciosamente.



Eu fiz um esforço tremendo para mover-me, arrastando-me e posicionando-me de bruços de frente para a vagina dela. Olhei-a, sentindo sua expectativa nas bochechas coradas. E lentamente desci em direção aos seus lábios inferiores. Delicadamente acariciei-os com os lábios e aos poucos comecei a brincar com seu clitóris com minha língua. Sentia o sabor da fruta exalando-lhe do sexo. E da entrada de sua vagina pingava o suco. O bebia com minha língua, lambendo de cima a baixo sua vagina, fazendo-a gemer baixinho. E continuei a explorá-la, deslumbrado aquela belíssima vagina que natureza esculpiu e desenhou para os desígnios mais sagrados e profanos. Bebido todo o suco da fruta, dediquei-me a sugar-lhe e estimular-lhe o clitóris, decidido a fazê-la produzir mais suco, desta vez de seu interior que me fascinava. A beijava ardentemente, a percorria, a desejava furiosamente, minha boca quase engolia sua buceta trêmula, encharcada, inchada, super sensibilizada. Seus gemidos se tornaram mais intensos e audíveis e seu quadril começou a mover-se, rebolando e esfregando sua buceta em meu rosto.



Inesperadamente pude sentir o efeito do suco, cujo líquido no qual as frutas foram embebidas tinha o poder não só de contrair as paredes vaginais, mas provocar uma imensa invasão de sangue no pênis. Eu estava extremamente duro novamente e notando isso, avancei contra ela, pondo meu corpo sobre o dela e posicionei a cabeça de meu pênis encostado em sua entrada. Por um ínfimo instante paramos, paralisando o tempo. O universo nos observou, ansioso. E quando penetrei com força aquele canal extremamente molhado, sentia como se duas estrelas houvesse se chocado, provocando imenso brilho. De fato vi, como em uma alucinação, um imenso brilho.



Tudo clareou em minha vista e só aos poucos aquela ruiva devastadora voltou a aparecer aos meus olhos. Mas eu continuava a penetrá-la com força, chocando meu quadril contra seu clitóris e provocando-lhe um imenso prazer e múltiplos orgasmos. Eu sentia seu suco escorrer entre minhas pernas, por entre seu bumbum.



Meus braços tremiam, tentando sustentar meu corpo. Como se não bastasse, ela pegou uma de suas mãos e pôs em seu seio, que eu apertei com um desejo feroz, o que intensificou minhas estocadas em seu ventre. Ela gemia, mordendo os lábios, seus olhos fixos em mim, cativantes, ardentes, misteriosos. Havia neles infinitas histórias e segredos que eu queria invadir com meu tesão, minha fúria.



Segurei então suas pernas para o alto, cruzando-as, apertando seus tornozelos e deliciando-me com aqueles delicados e ao mesmo tempo resistentes pés contraindo-se de prazer. Eu a fiz virar-se, deitando-se de bruços, com o bumbum voltado para mim, e a penetrei sua vagina assim. Ela gritava de tesão e eu só não gritava porque me faltava o ar. Então a puxei, colocando-a de joelhos, mas com o torso ainda apoiado na pedra. Com uma de minhas mãos, busquei seu clitóris para alucina-lo com meus dedos. Seu bumbum movia-se freneticamente, intensificando a penetração.



Ela então sentiu que eu estava prestes a alcançar o quinto orgasmo. Então repentinamente parou, o que me fez parar também, e disse, goze dentro de mim, mas pegue o pote vazio em que você tomou suco e deixe nossos gozos escorrerem para o copo. E assim o fiz, quase sem me mexer, apenas com alguns suaves movimentos de sua vagina, apertando-me, eu alcancei o quinto ápice do prazer sexual naquela noite. Quando senti que já havia jorrado tudo, retirei lentamente meu pênis e observei aquela tórrida cachoeira branca descer sobre o pote, até enchê-lo. Quando caiu a última gota ela me pediu



“Me beija um pouco mais, com carinho. Estou um pouco dolorida.



Então deitou-se novamente com a vagina voltada para cima, enquanto eu me abaixava para massageá-la com minha boca. E assim o fiz, muito lentamente e com grande delicadeza, para deleite daquela ruiva impossível. Então ela me puxou para junto de si e fez com que eu me deitasse em seu colo, acariciando-me os cabelos.



“Foi incrível. Nunca pensei que fosse ser tão incrível.



Eu ouvia sua voz deliciado. E dormi.

Nenhum comentário: