domingo, 12 de novembro de 2017
Desaba-far
Cava, cava, cava, joga fora o entulho, os pedregulhos, os grandes pedaços de cinzas endurecidas que haviam se acumulado nas bordas desta imensa caverna cardíaca. Abalo. Detonação. Explodiu e ruiu um pouco mais meu coração. Ficou maior? Não, apenas mais vazio. Mais rarefeita ficou a atmosfera daqui. Para asfixiar toda forma intrometida de vida, toda desobediente tentativa de nascimento do que quer que engane, que cause ainda mais partidas e rupturas. Contenção. Conservação. Não dá para criar nem cultivar nada aqui. Está seco. Mais seco. Drenar ainda mais qualquer umidade insolente que ouse permanecer. Não quero ver nada crescer. É preciso morrer. Já quebrou demais, inundou demais, não aguenta mais. Abandoná-lo para que ninguém mais possa abandoná-lo. Fechá-lo, para que ninguém mais possa rejeitá-lo. Mais um ciclo recluso, frio, glacial. Que a distância entre qualquer outra superfície seja maior que o Atlântico, que a profundeza deste frio seja maior que o Pacífico, que a tristeza aqui reinante cauterize e preserve, bloqueie todas as aberturas, as janelas, nenhuma brisa mais, não dá mais. Que este buraco negro se absorva agora, acumule-se, permita adensar-se, aumentar-se em sua gravidade para dentro de si. Basta. Não dá mais. Todo caminho para fora é vão. Canalizar seu interior para fortalecer, endurecer, para suportar as lidas, suas tarefas aforas, vamos olhar para fora, encerrada a visitação, nenhuma mais acomodação, agora apenas uma câmera de pulsos e impulsos necessários para realizar suas missões maiores que si. O eu se desfez, desmanchou, pisado e desprezado. Agora resta apenas Tudo. E Nada.
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