quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Menina

Segurou em sua mão e correram pelo campo, pulando pelo mato, escapando dos carrapichos, desviando dos capins altos e das flores, iam como animais selvagens, com o vento no rosto e as pernas ágeis. Giravam e às vezes caiam no colchão verde razoavelmente macio... rolavam um sobre o outro, cada toque das mãos e dos braços e da pele sendo uma emoção, a realização de uma ânsia, uma alegria escapando pela garganta. Quem ficava por cima ao final? Olhavam-se, respiração ofegante, sorriso incontrolável no rosto... brilho nos olhos... ele deixou os braços cercarem-na e pôs o rosto ao lado do dela, tocando com o nariz a orelha dela, um pequeno beijo na nuca para arrepiar. Ela olhava para o céu de olhos fechados... as nuvens tinham o formato do estremecer de sua pele ao contato da boca dele... Um perfume emanava da pele clara da menina, como se os sentimentos tomassem a forma etérea do cheiro e envolvessem os sentidos enamorados de ambos... Pouco depois, deitavam um ao lado do outro... e mãos dadas... punham-se a ouvir a música do vento... Olhando-se às vezes, para ver se o outro estava olhando... Alguns minutos depois, ela levanta-se, puxa-o. Quer levá-los para um lugar... Correm sem sentir qualquer cansaço... chegam a beira do bosque... percorrem a trilha até chegar à uma árvore antiga no alto da qual esconde-se uma casinha improvisada com tábuas e pregos enferrujados... lá em cima há ainda dois balanços dos quais podia-se ver ao longe... Ela subiu primeiro e ele não pôde evitar admirar as formas delineadas e suaves de suas pernas sob o vestido branco florido que mal a cobria até os joelhos. Será que ela fizera aquilo de propósito? Como uma menina marota, subia com incrível desenvoltura, sem se importar que vissem sua calcinha igualmente branca, do tipo shorte... Após chegar lá em cima, ela reclamou por ele ainda estar imóvel lá em baixo. Com grande esforço para sair do transe, segurou-se nos galhos, apoiou o pé onde pôde e subiu também. Sentaram nos balanços e lá ficaram por um bom tempo... Mas o apetite chamou-os e foram atrás de algum arbusto ou árvore frutífera... Encontraram, para grande satisfação, suculentas amoras silvestres que devoraram... e mais a frente um corregozinho molhou-lhes a garganta... Então ele percebeu um volume grande e vermelho além da copa das árvores... Correram para descobrir o que era... Tiveram que pular vários troncos apodrecidos e alguns galhos espinhentos, até chegar a extremidade oposta do bosque... na clareira estava parado um balão grandão, bonito, resplandecendo ao sol... segurando a cesta trançada estava o balonista, que verificava as cordas que amarravam o corpo flutuante. Aproximaram-se dele com a curiosidade de crianças e perguntaram para ele o que fazia... ele disse que esperava por eles... Surpresos, olharam um para o outro enquanto o homem abria a portinhola para que subissem. Subiram, o balão foi solto e o fogo aqueceu o ar enclausurado pela poderosa lona e lentamente despediram-se do chão...

2 comentários:

Samis disse...

que belo texto! que belas margaridas!

(não acredito que haja malícia na menina...)

=)

Lidiany Schuede disse...

E depois que alcançaram o céu...? Será que foram além?