segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Espíritos da Floresta


Correndo na escuridão entrecortada pela escassa luz lunar capaz de transpassar o cume das árvores, correndo por entre os espíritos da natureza, lobos, corujas, besouros, macacos, bichos-preguiça. Correndo por entre as folhas, as flores, os aromas verdes, saltando troncos apodrecidos, pisando no chão de folhas secas, gravetos e vida microscópica. Chega a beira de um rio, uma praia, um poço mais profundo, logo ali pedras-corredeiras, turbilhando as águas jovens do curso d´água. A lua minguante pouco ilumina, libertando a noite para as estrelas reinarem em suas inúmeras constelações, vias de leite, florações cadentes. Percebe então que uma garota está dentro da água, nua. Cabelos negros molhados ao longo do corpo, pele molhada brilhando, seios enrijecidos pelo sereno da noite. Ficaram se olhando por longo tempo, até que as pernas dele involuntariamente avançam para dentro d´água, desvencilhando-me do pouco tecido que escondia seu corpo. Nus frente a frente, deram-se as mãos, envolvendo-se, e conversaram com o sonido de suas respirações, a dele agitada, a dela suave, a dele questionando-a, a dela pedindo calma. Deixa-se acalmar no ombro dela, sentindo-lhe o cheiro do pescoço, das orelhas. Ela corta o silêncio “você veio me ver... “Eu estou aqui, pra você... “Juntos não sinto frio... “Juntos não sinto medo... E mergulharam na água, levados pela correnteza e pelos espíritos... e aos poucos seus corpos se transformaram, tomando a forma de seres mágicos, meio peixes, meio fadas.  

Arte de Elicia Elidanto

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