Correndo na escuridão
entrecortada pela escassa luz lunar capaz de transpassar o cume das árvores, correndo
por entre os espíritos da natureza, lobos, corujas, besouros, macacos,
bichos-preguiça. Correndo por entre as folhas, as flores, os aromas verdes,
saltando troncos apodrecidos, pisando no chão de folhas secas, gravetos e vida
microscópica. Chega a beira de um rio, uma praia, um poço mais profundo, logo
ali pedras-corredeiras, turbilhando as águas jovens do curso d´água. A lua
minguante pouco ilumina, libertando a noite para as estrelas reinarem em suas
inúmeras constelações, vias de leite, florações cadentes. Percebe então que uma
garota está dentro da água, nua. Cabelos negros molhados ao longo do corpo,
pele molhada brilhando, seios enrijecidos pelo sereno da noite. Ficaram se
olhando por longo tempo, até que as pernas dele involuntariamente avançam para
dentro d´água, desvencilhando-me do pouco tecido que escondia seu corpo. Nus
frente a frente, deram-se as mãos, envolvendo-se, e conversaram com o sonido de
suas respirações, a dele agitada, a dela suave, a dele questionando-a, a dela
pedindo calma. Deixa-se acalmar no ombro dela, sentindo-lhe o cheiro do
pescoço, das orelhas. Ela corta o silêncio “você veio me ver... “Eu estou aqui,
pra você... “Juntos não sinto frio... “Juntos não sinto medo... E mergulharam
na água, levados pela correnteza e pelos espíritos... e aos poucos seus corpos
se transformaram, tomando a forma de seres mágicos, meio peixes, meio
fadas.
Ao som de Estou Triste - Caetano Veloso
Arte de Elicia Elidanto
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