Coelhos e Cupidos
Deixe-me ser apaixonado
Mesmo que só por um instante vago
Pelo brilho de uma sombra escura
O triste e belo canto dos campos de uva
Embebido no sonambulismo dos teus olhos
Enfeitiçado pelos fios que de teu corpo emanam
No limite sensual de vidas separadas
O abismo de amores que explodem e se calam
O derramar de veias que nos corações se enganam
Numa vã tentativa de luz dispersa
No infinito do alto mar de violetas
Onde eu queria me afogar... céu de estrelas...
Deixe-me, deixe-me... não me respondas mais...
Que neste lugar onde tudo esquecido jaz
Ninguém nunca me fará as perguntas
Que eu gostaria que não me fossem feitas
Mas que desesperadamente responderia
Em busca de algo no fim do dia
A névoa fria da madrugada negra
O peso perdido do sonambulismo
Deixe-me ser apaixonado
Por essas molduras negras de tua alma
Por este sorriso que eu desconheço
Tudo isso por que eu sinto saudade
Sem nem mesmo saber do que eu falo
Deixe-me, deixe-me...
Porque no meu destino não há qualquer agrado
Pois o mundo se esconde, se encolhe de lado
Por qualquer caminho por onde eu passo
N´um sentimento de fuga e medo e fado
Pelas vidas e as mortes de todo o mundo
Que eu vejo perderem-se enquanto aqui eu calo
E enquanto minhas forças não destroem o fraco
Que se abriga na minha alma fugitiva...
Porque todos que eu conheço passam
Mas não a sensação de que eu ficarei sem nada
Que as conversas e as pessoas de granizo
Caem do céu e derretem meu sorriso
E somem na penumbra no fim da ocasião
São todos conhecidos, não há nenhum irmão
E ninguém me conhece por inteiro
Mesmo que eu quisesse ser um tagarela
Envergonham-me as palavras para o vento
Que parecem não fazer sentido
Não funciona nada do que eu tento
Para deixar de ser-me apenas uma espera...
Ah, deixe-me ser um apaixonado
A última droga a curar o meu estado
O torpor de emoções que só querem mil beijos sagrados
E de mim não espere mais que estar ao seu lado
Sendo o que sou, sendo o que há
Contigo, seja como for...
Ser, ser... ser amor.
--//--
Transloucado em palavras, desvairado, soterrado por sentimentos, eu sou.
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