quarta-feira, 10 de março de 2010

êxtase

Havia noites em que o sono lhe fugia alvoroçado pois a multidão de pensamentos fazia de sua mente uma tempestade transbordando diques e invadindo as praias de sua tranquilidade. Dias, tardes, madrugadas, momentos vários, comuns, corriqueiros ou raros. E então lembrava-se da técnica oriental da meditação para refrear tais ânimos incontidos, afim de estabelecer ao menos um tênue equilíbrio. Basicamente, meditar para ele consiste em afastar os pensamentos e manter a mente clara ou vazia ou livre. Desta forma, descobriu para si duas formas de meditação, uma do corpo e outra do espírito. A primeira acontece relaxando o corpo e deixando o espírito livre para expressar seu interior e absorver e refletir sobre o exterior, de maneira serena e livre de pensamentos... uma reflexão sensorial, pura e voltada para dentro, uma forma de repouso do mundo exterior... Os olhos se fecham e buscam dentro de si os sons e as vibrações próprias para assim poderem entrar em consonância com o universo. Após um longo momento de esvaziamento da mente, o espírito se vê livre do corpo e entra em estado de sono profundo, sonhando, divagando. A segunda se dá através do relaxamento do espírito para libertar o corpo. Abandonar, esquecer ou simplesmente por todos os pensamentos em combustão, voltados para um propósito mais elevado de união entre dois espíritos através da ponte material dos corpos, emoções e sensações. É preciso transformar o tato n´uma forma de linguagem celeste que fala mil línguas desconhecidas ou simplesmente silenciadas... é preciso soltar todas as línguas... falá-las, externando os ímpetos de cada um n´uma comunhão de êxtase... já a visão se torna qualquer janela por onde a brisa quente das entranhas, da garganta, do ventre entra e preenche, envolve, cresce e alimenta a energia do corpo, como a chama que demanda oxigênio para explodir... a audição é mais profunda, algo como a luz que clareia, captando o alimento prazeroso e delicioso que transborda em sons e canções, um formigar da alma desejando transpassar os limites ou então manter-se no céu, alada, tão próxima do calor maior do sol quanto as asas podem levar... o paladar... possivelmente é o maior combustível que há, gritando e mordendo fortemente cada pensamento, para transfigurá-los em mais lenha e carvão e força para o calor interior e mútuo, glorificando um incêndio cerimonial, um holocausto interior de renovação pelo fogo, pelo desejo e pelo gozo ... e o olfato... é o supremo desatador de amarras, libertando o corpo de calor para deixar-se levitar, fluir, usufruir de si e do outro, n´um espetáculo de balonismo carnal e desesperado, onde os dois corpos em chamas agarram-se, alçando vôo nas termais de suas vontades imperiosas por estarem um no outro... sequioso e insaciáveis... sim... cinco sentidos e um sexto mais, a intuição mestra que rege cada gesto, cada fagulha, cada creptar de poros, células, partículas comburentes, como uma orquestra vermelha e luminosa, uma fornalha que transmuta os elementos vivos em divinos, um guia fundamental na tempestade magnética da suprema emoção e sensação... a união do todo e de tudo, uma explosão do universo para criar a si mesmo, recriar-se, inventar-se... Esta talvez seja a maior meditação... liberto para ser.

2 comentários:

Samis disse...

queria poder fazer aquela estátua da meditação com aqueles deseinhos da net...


=P


=******************

Samis disse...

relido...

(quero te beijar agora, como faço?)


;)