terça-feira, 26 de outubro de 2010
"Caminhando e cantando e seguindo a canção!"
Vem! Caminhar é preciso. O infinito é mesmo ali.
Deixe transbordar o suor. O que conta é somente a vida.
Há mais adiante um campo com água limpa e farta comida.
Foi na carta vinte e nove que tudo isto eu senti.
Nossas crianças (ciganas) são flores, donas do horizontes.
Nossas mulheres (cinganas), rainhas. Do amor doce fonte.
Os velhos (ciganos), nossa segurança. Minas de imenso saber.
Os homens (ciganos), muralhas serenas a nos proteger.
Creça, melhore, evolua, você que ainda é humano.
E um dia, quem sabe, poedrá até chegar a ser cigano.
Viverá com nossa ciência. Sorrirá com nossa alegria.
Saberá viver antes do sol e fazer o seu próprio dia.
Siga os sentimentos puros e espalhe alegria em seu caminhar.
Siga a estrada da vida. Faça do bem seu eterno altar.
E tudo o que for bondade, siga. Dance nossos cantos ufanos!
Siga-nos, Siga-nos! Seja feliz. Siga os ciganos.
Sungrê de Arael Magnovitch
(Sungrê é uma música de Caravana. Dá ânimo para a caminhada.)
segunda-feira, 25 de outubro de 2010
Entrópico
Procuro o não-procurar. Anseio por esse estado de inexatidão que exala seu próprio cheiro, quer atraia abelhas ou moscas. Procuro a imprecisão da vida que não se importa consigo, mas antes, com a ventura imperativa de viver, ainda que, ou principalmente, tão íntima do risco. Não quero saber do dia de amanhã. Não quero o que comer. As frutas que caiam das árvores ou que o mel atinja minha boca com um ferrão suicida.
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Procuro a iluminação. Só para ter o prazer de apagá-la, a cordinha-lâmpada do porão do paraíso.
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Iconoclasta... derreto o plástico com as mãos e devolvo-o aos veios negros da terra, desmanchando os deuses de todas as ré-legiões.
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A verdade é uma vícera comida por urubus. A honra é uma cerimônia canibal. O orgulho é o sadismo do escravo de si mesmo. A bondade é uma televisão em chamas.
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Queimo pneus para promover a acessibilidade aos cantos da alma. Quebro vitrines para distruibuir o vazio da vaidade. Escolho a nudez para reclamar a carne podre e congelada pelo pudor. Defeco no passado para purificar a esterilidade da tradição. Corto os pulsos para sinalizar os caminhos dos vivos...
Religar
O que me religa é a liberdade. Sem guias, sem leis, sem padrões ou referências... Toda e qualquer coisa aceita são violências... Uma aceitação nega outra... E negamos nossa própria humanidade. Pergunte-me o que sou e obterá a mim... E não saberá nada que fazer com isso... pois não sirvo para você... não posso lhe dar respostas. Pois, afinal, você, como eu, não existe... e toda resposta é uma invenção da nossa criatividade para saciar nossa sede de razão... ou silenciar nossa preguiça de perceber que só podemos formular perguntas...
Eu não posso lhe afirmar nada. Nem tampouco definir. Pois descobri que não adianta assassinar a dúvida nem o desejo. O pensamento é uma fuga inútil para templos de vidro trincado... afogamos-nos em nossas próprias lágrimas, nos aquários herméticos da ciência... Enquanto desejamos consolos para a miséria da existência humana, fabricamos dor e tristeza... E o ritmo dessa produção cavalar joga todos no caldeirão fervente da arrogância e da discórdia...
Eu não tenho pátria. Pois a pátria para mim não existe. E não tenho família, posto que meus irmãos e irmãos não me reconhecem... e eu não os conheço... E a cada dia dispo-me das armas com que fui dotado para sobreviver ao outro... Não aceito a morte como uma ameaça... Não aceito a lógica que nos separa... Mas não te digo o que é a verdade... apenas te pergunto até descobrires que não existem respostas...
Eu não posso lhe afirmar nada. Nem tampouco definir. Pois descobri que não adianta assassinar a dúvida nem o desejo. O pensamento é uma fuga inútil para templos de vidro trincado... afogamos-nos em nossas próprias lágrimas, nos aquários herméticos da ciência... Enquanto desejamos consolos para a miséria da existência humana, fabricamos dor e tristeza... E o ritmo dessa produção cavalar joga todos no caldeirão fervente da arrogância e da discórdia...
Eu não tenho pátria. Pois a pátria para mim não existe. E não tenho família, posto que meus irmãos e irmãos não me reconhecem... e eu não os conheço... E a cada dia dispo-me das armas com que fui dotado para sobreviver ao outro... Não aceito a morte como uma ameaça... Não aceito a lógica que nos separa... Mas não te digo o que é a verdade... apenas te pergunto até descobrires que não existem respostas...
Iconoclasta
Descontrução... A entropia do eu... não, não estou subindo... não estou descendo... não permaneço onde estou. Simplesmente, porque a verdade é simples, perco-me, desfaço-me, disperso-me em todas as direções e sem rumo, nada. Os átomos se partiram, as estrelas explodiram há milhões e milhões de anos, os corações racharam, como a rocha que transformou-se em praia, as ilusões se fundiram para nossas possibilidades...
Todo o esforço para a ordem, o progresso e o controle... é uma violência que se supera a cada novo passo...
Eu, que a cada dia me conheço menos, até desaparecer de mim, percebo que minhas construções esfarelam-se inevitavelmente. Meus ideais e referências ruíram a cada tremor da minha alma, cada implosão brutal desfere um golpe irreparável naquela identidade tosca que se forjou sobre mim. Rasgaram-se meus olhos e invadiram as vozes por entre as frestas da minha nudez imortal. Gritam e grito... a verdade imaterial e impalpável de que minhas mãos são espaços vazios de universo e no meu peito há apenas uma energia indivizível, que não é minha, que não sou eu, que não é diferente de tudo... que apenas é... um plasma luminoso e obscuro, que encerra os mistérios que transfiguram-se em vida. A minha existência não tem justificativa. A sensação é como a estrela que se queima, até o esgotamento... consumindo-se, perdendo-se a cada espectro de luz amerressado no vácuo. E quando a energia infinita termina, começa o nada... sugando tudo com uma atração gravitacional insuperável... arrastando o mundo para um abismo sem fundo.
Já não sei o que quero, quem quero, para onde quero, querer... o ímpeto e o estático chocaram-se n´uma colisão violenta, e o tempo parou na velocidade da luz. Quais os referenciais que me guiam? O que é um guia? Antes eu era muita coisa... sou cada vez menos. E as palavras perdem seus significados... e é inútil perguntar pelos erros antigos que continuamente renovamos. Sinto que não posso ser segurado... que a segurança é tão vã e inexistente quanto a morte. Como se o vento bastasse para me alçar como um dente de leão, incapaz de negar o movimento. Não acredito na palavra. Não acredito na voz. A fala emudece... a visão cega... só a pele escuta... só o nervo eriçado pode conectar-se ao destino... E as veias abertas são o caminho do alvorecer...
A solidão e a magia são o desconhecido que nos cerca, que nos é, que vamos e que voltamos. Somos tão somente um... A penumbra das teorias, das idéias e das crenças é a última prisão... Mas nada pode deter o nada... a oposição é uma mentira... a dualidade é uma mentira... a felicidade e a tristeza são mentiras... não há verdade... apenas sinto calado e cego, novamente terra, novamente nada.
quarta-feira, 20 de outubro de 2010
E se ninguém fosse par'a Guerra
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Ele via nela qualquer coisa de coragem explosiva e estúpida, capaz de se jogar mesmo sem asas, de se quebrar, mesmo sem anestésico, de ir embora, sem remorsos...
Ela via nela a energia vital, viceral, sanguínea e sanguinolenta... propulsora, motriz, geradora... Como o calor da fusão dos átomos, da criação do mundo, da destruição de tudo...
Ela... se via... como ela, somente... qualquer coisa sem nada, sem destino, fim, princípio, justificativa... Pro inferno com isso, foda-se aquilo... não importa, sabe. Aguarrar-se nela era impossível... Invisível, infalivelmente fatal e nebulosa, o que você via já não era mais e assim ela se ia, sem você perceber... Precisar de quê? Por quê? Nem da vida, nem da luz, nem de qualquer refúgio para olhos sensíveis... Ela se fundiu à sombra, atravessou as portas, mastigou as grades e decepou as veias... E ninguém poderia impedir. Já longe, em qualquer lugar inescrutável.
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Ele via nela qualquer coisa de coragem explosiva e estúpida, capaz de se jogar mesmo sem asas, de se quebrar, mesmo sem anestésico, de ir embora, sem remorsos...
Ela via nela a energia vital, viceral, sanguínea e sanguinolenta... propulsora, motriz, geradora... Como o calor da fusão dos átomos, da criação do mundo, da destruição de tudo...
Ela... se via... como ela, somente... qualquer coisa sem nada, sem destino, fim, princípio, justificativa... Pro inferno com isso, foda-se aquilo... não importa, sabe. Aguarrar-se nela era impossível... Invisível, infalivelmente fatal e nebulosa, o que você via já não era mais e assim ela se ia, sem você perceber... Precisar de quê? Por quê? Nem da vida, nem da luz, nem de qualquer refúgio para olhos sensíveis... Ela se fundiu à sombra, atravessou as portas, mastigou as grades e decepou as veias... E ninguém poderia impedir. Já longe, em qualquer lugar inescrutável.
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Logicamente que os dois não aguentaram viver sem ela. Como o vício ou a dor que une... Qualquer coisa malignamente necessária... Quando ela se foi, tornaram-se estranhos... Ele não tinha ânimo para ir além, ficava a perguntar-se das possibilidades para as quais não estava indo... Ela ficou com aquela eterna dúvida ou culpa sobre quem fora o responsável... Como assim? O que aconteceu? Culpa minha? Culpa minha?... Fez então disso um amuleto para carregá-lo sempre debaixo da pele...
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Desfez-se então a Guerra... em cinzas de sua própria combustão... Ela facilmente renasceria em qualquer lugar, lábio, ódio, sangue, cruz...
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A Paz recolheu-se sob um véu e vagou... penitente... Vendo nos outros pessoas que se afastavam... somente...
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Ele diluiu-se na fumaça que restou... virou vento... virou ar...
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Ashes - The Beautiful Girls - uma música
terça-feira, 19 de outubro de 2010
Sem início ou fim
“Nunca tenha expectativas”, ouvi quando eu tinha 15 anos e participava de um grupo de jovens. Uma das primeiras palavras do responsável pelos encontros. Na época esta frase me marcou como uma flecha e, ao longo dos anos, foi ganhando novos significados e impactos na minha forma de encarar a vida.
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Expectativa é querer ter controle sobre a matéria prima fluída do destino, é escolher o futuro, é esperar que a nossa vontade seja superior à gratuidade da vida. Quando lidamos com as pessoas, geralmente construímos diversas expectativas, como a presença, a participação, a interação, os sentimentos trocados...
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Agir em coletivo, estar com pessoas, ao contrário do que desejamos, é algo livre de seguranças, livre de amarras, pois cada pessoa é um caminho rumo ao sonho, e as rotinas ‘imprevisíveis’ produzem frustrações e novas possibilidades.
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Essa relação, o "nós", para mim, surge assim, como esse aprendizado constante de como sentir o outro e a si mesmo nessa fluidez do tempo e do espaço, que aproxima e afasta independentemente da proximidade ou da distância, que conflui, conflita e colabora de maneiras diversas e surpreendentes.
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Como lidar com o não-outro, com o outro? Lidar com a presença vazia? Ou com a ausência concreta? Qual a minha/nossa disposição para a entrega espiritual? Ver o outro está muito além do sentido da visão... o sentir é algo maior que os cinco sentidos... A interação não depende do tempo e do espaço... Ela é, independentemente... A conexão é algo difícil de estabelecer... Como fazê-lo?... Como criar a partir da matéria etérea da alma e da incerteza? Como ir além dos acordos e das definições? Saber sem ninguém ter dito? Ouvir o que falamos, calados?
Expectativa é querer ter controle sobre a matéria prima fluída do destino, é escolher o futuro, é esperar que a nossa vontade seja superior à gratuidade da vida. Quando lidamos com as pessoas, geralmente construímos diversas expectativas, como a presença, a participação, a interação, os sentimentos trocados...
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Agir em coletivo, estar com pessoas, ao contrário do que desejamos, é algo livre de seguranças, livre de amarras, pois cada pessoa é um caminho rumo ao sonho, e as rotinas ‘imprevisíveis’ produzem frustrações e novas possibilidades.
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Essa relação, o "nós", para mim, surge assim, como esse aprendizado constante de como sentir o outro e a si mesmo nessa fluidez do tempo e do espaço, que aproxima e afasta independentemente da proximidade ou da distância, que conflui, conflita e colabora de maneiras diversas e surpreendentes.
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Como lidar com o não-outro, com o outro? Lidar com a presença vazia? Ou com a ausência concreta? Qual a minha/nossa disposição para a entrega espiritual? Ver o outro está muito além do sentido da visão... o sentir é algo maior que os cinco sentidos... A interação não depende do tempo e do espaço... Ela é, independentemente... A conexão é algo difícil de estabelecer... Como fazê-lo?... Como criar a partir da matéria etérea da alma e da incerteza? Como ir além dos acordos e das definições? Saber sem ninguém ter dito? Ouvir o que falamos, calados?
Psico
Alguma vontade de isolamento... O que é mudar? A mudança repentina de rotina gera alguns estranhamentos... Venha para perto... só caminhar nas sete areias do esquecimento... Anos inteiros despejados d'uma só vez nas ondas de carangueijos e faíscas... qual o resultado? Dessa multidão de emoções degustadas... Correndo pelo silêncio suave, esticando os tendões da pantorrilha até a chama... controlando as portas do pulmão... Não há tédio... fortes emoções... novas cores, novos ares... Novas palavras? Nova voz...? Para onde se está indo?... É bom saber?... tudo planejado... Não saber... Nas mesmas águas, na mesma praia... tantas faces, tantas formas e tanto tempo... E mais nenhum... Aprender... com você. O que podemos ensinar? Balanços... rítmicos... Encontros ao acaso... Paradas... recomeço?... Para onde levará essas correntezas? Como navegar? Deixar levar... Viajar... caminhar em linha reta... sem retornar... a vida inteira... ao som das ressonâncias da mente... Onde você está? Escarpado...
Ria sem cessar
Irmã de sangue
Deita-me o coração
Na pedra de orvalho
Refaça-te o olhar
N´um sonho quebrado
A manivela furou
Afundou o barco
Vamos nadar
Não importa o frio
Queimar músculos
Exalar minúcias
Inspirar idéias
Ser sem estar
Desfazer o eu
Desaparecer no ar
Irmão do pó...
Ana - Pixies - uma música
Ria sem cessar
Irmã de sangue
Deita-me o coração
Na pedra de orvalho
Refaça-te o olhar
N´um sonho quebrado
A manivela furou
Afundou o barco
Vamos nadar
Não importa o frio
Queimar músculos
Exalar minúcias
Inspirar idéias
Ser sem estar
Desfazer o eu
Desaparecer no ar
Irmão do pó...
Ana - Pixies - uma música
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