segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Entrópico

Procuro o não-procurar. Anseio por esse estado de inexatidão que exala seu próprio cheiro, quer atraia abelhas ou moscas. Procuro a imprecisão da vida que não se importa consigo, mas antes, com a ventura imperativa de viver, ainda que, ou principalmente, tão íntima do risco. Não quero saber do dia de amanhã. Não quero o que comer. As frutas que caiam das árvores ou que o mel atinja minha boca com um ferrão suicida.
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Procuro a iluminação. Só para ter o prazer de apagá-la, a cordinha-lâmpada do porão do paraíso.
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Iconoclasta... derreto o plástico com as mãos e devolvo-o aos veios negros da terra, desmanchando os deuses de todas as ré-legiões.
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A verdade é uma vícera comida por urubus. A honra é uma cerimônia canibal. O orgulho é o sadismo do escravo de si mesmo. A bondade é uma televisão em chamas.
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Queimo pneus para promover a acessibilidade aos cantos da alma. Quebro vitrines para distruibuir o vazio da vaidade. Escolho a nudez para reclamar a carne podre e congelada pelo pudor. Defeco no passado para purificar a esterilidade da tradição. Corto os pulsos para sinalizar os caminhos dos vivos...

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