terça-feira, 19 de outubro de 2010

Sem início ou fim

“Nunca tenha expectativas”, ouvi quando eu tinha 15 anos e participava de um grupo de jovens. Uma das primeiras palavras do responsável pelos encontros. Na época esta frase me marcou como uma flecha e, ao longo dos anos, foi ganhando novos significados e impactos na minha forma de encarar a vida.
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Expectativa é querer ter controle sobre a matéria prima fluída do destino, é escolher o futuro, é esperar que a nossa vontade seja superior à gratuidade da vida. Quando lidamos com as pessoas, geralmente construímos diversas expectativas, como a presença, a participação, a interação, os sentimentos trocados...
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Agir em coletivo, estar com pessoas, ao contrário do que desejamos, é algo livre de seguranças, livre de amarras, pois cada pessoa é um caminho rumo ao sonho, e as rotinas ‘imprevisíveis’ produzem frustrações e novas possibilidades.
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Essa relação, o "nós", para mim, surge assim, como esse aprendizado constante de como sentir o outro e a si mesmo nessa fluidez do tempo e do espaço, que aproxima e afasta independentemente da proximidade ou da distância, que conflui, conflita e colabora de maneiras diversas e surpreendentes.
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Como lidar com o não-outro, com o outro? Lidar com a presença vazia? Ou com a ausência concreta? Qual a minha/nossa disposição para a entrega espiritual? Ver o outro está muito além do sentido da visão... o sentir é algo maior que os cinco sentidos... A interação não depende do tempo e do espaço... Ela é, independentemente... A conexão é algo difícil de estabelecer... Como fazê-lo?... Como criar a partir da matéria etérea da alma e da incerteza? Como ir além dos acordos e das definições? Saber sem ninguém ter dito? Ouvir o que falamos, calados?

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