segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Iconoclasta

Descontrução... A entropia do eu... não, não estou subindo... não estou descendo... não permaneço onde estou. Simplesmente, porque a verdade é simples, perco-me, desfaço-me, disperso-me em todas as direções e sem rumo, nada. Os átomos se partiram, as estrelas explodiram há milhões e milhões de anos, os corações racharam, como a rocha que transformou-se em praia, as ilusões se fundiram para nossas possibilidades...

Todo o esforço para a ordem, o progresso e o controle... é uma violência que se supera a cada novo passo...

Eu, que a cada dia me conheço menos, até desaparecer de mim, percebo que minhas construções esfarelam-se inevitavelmente. Meus ideais e referências ruíram a cada tremor da minha alma, cada implosão brutal desfere um golpe irreparável naquela identidade tosca que se forjou sobre mim. Rasgaram-se meus olhos e invadiram as vozes por entre as frestas da minha nudez imortal. Gritam e grito... a verdade imaterial e impalpável de que minhas mãos são espaços vazios de universo e no meu peito há apenas uma energia indivizível, que não é minha, que não sou eu, que não é diferente de tudo... que apenas é... um plasma luminoso e obscuro, que encerra os mistérios que transfiguram-se em vida. A minha existência não tem justificativa. A sensação é como a estrela que se queima, até o esgotamento... consumindo-se, perdendo-se a cada espectro de luz amerressado no vácuo. E quando a energia infinita termina, começa o nada... sugando tudo com uma atração gravitacional insuperável... arrastando o mundo para um abismo sem fundo.

Já não sei o que quero, quem quero, para onde quero, querer... o ímpeto e o estático chocaram-se n´uma colisão violenta, e o tempo parou na velocidade da luz. Quais os referenciais que me guiam? O que é um guia? Antes eu era muita coisa... sou cada vez menos. E as palavras perdem seus significados... e é inútil perguntar pelos erros antigos que continuamente renovamos. Sinto que não posso ser segurado... que a segurança é tão vã e inexistente quanto a morte. Como se o vento bastasse para me alçar como um dente de leão, incapaz de negar o movimento. Não acredito na palavra. Não acredito na voz. A fala emudece... a visão cega... só a pele escuta... só o nervo eriçado pode conectar-se ao destino... E as veias abertas são o caminho do alvorecer...

A solidão e a magia são o desconhecido que nos cerca, que nos é, que vamos e que voltamos. Somos tão somente um... A penumbra das teorias, das idéias e das crenças é a última prisão... Mas nada pode deter o nada... a oposição é uma mentira... a dualidade é uma mentira... a felicidade e a tristeza são mentiras... não há verdade... apenas sinto calado e cego, novamente terra, novamente nada.

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