segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Religar

O que me religa é a liberdade. Sem guias, sem leis, sem padrões ou referências... Toda e qualquer coisa aceita são violências... Uma aceitação nega outra... E negamos nossa própria humanidade. Pergunte-me o que sou e obterá a mim... E não saberá nada que fazer com isso... pois não sirvo para você... não posso lhe dar respostas. Pois, afinal, você, como eu, não existe... e toda resposta é uma invenção da nossa criatividade para saciar nossa sede de razão... ou silenciar nossa preguiça de perceber que só podemos formular perguntas...

Eu não posso lhe afirmar nada. Nem tampouco definir. Pois descobri que não adianta assassinar a dúvida nem o desejo. O pensamento é uma fuga inútil para templos de vidro trincado... afogamos-nos em nossas próprias lágrimas, nos aquários herméticos da ciência... Enquanto desejamos consolos para a miséria da existência humana, fabricamos dor e tristeza... E o ritmo dessa produção cavalar joga todos no caldeirão fervente da arrogância e da discórdia...

Eu não tenho pátria. Pois a pátria para mim não existe. E não tenho família, posto que meus irmãos e irmãos não me reconhecem... e eu não os conheço... E a cada dia dispo-me das armas com que fui dotado para sobreviver ao outro... Não aceito a morte como uma ameaça... Não aceito a lógica que nos separa... Mas não te digo o que é a verdade... apenas te pergunto até descobrires que não existem respostas...

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