domingo, 23 de junho de 2013

quieto...



A cidade parece vazia. Todas as lâmpadas apagadas. Todos os espíritos reclusos em seus quartos seguros, em solidões ou aconchegos inatingíveis. Os corpos estão nus ou agasalhados, com frio invencível ou um calor humano acolhedor. A escuridão tão silenciosa que não se consegue falar nem pensar nem mesmo piscar. A única melodia possível é a dos batimentos cardíacos descompassados entre todos os seres existentes. Um início de noite de céu nublado e negro e arroxeado e vazio... E tudo que existe parece um adiamento do que está para chegar, ao amanhecer... Uma família acende uma fogueira na rua para inundar os pulmões de fumaça fantasmagórica. Duas mulheres molham-se n´uma ducha a luz de velas azuladas de lanternas chinesas balançantes na parede. Uma criança olha impassível para uma tela iluminada que distrai-se eternamente. Um jovem sentado a beira da praia escura e ruidosa de ondas que nunca se cansam de valsear escuta o tempo e vê o invisível. Aquela menina deitada na rede de olhos fechados sente a imaginação que lhe conta histórias de porvir. A noite envolve tudo como um espírito do mundo.

sábado, 22 de junho de 2013

Rave´olução



Dormia enquanto sonhava, sonhava enquanto acordado, tu todos os cabelos gingando em rodopios de festa delírio / eu prazer em te devorar com´olhos e ser atraído gravidade astral e no meio daquela multidão de cem mil sem ninguém por perto além de nós e corpos cercando sem a gente nem notar era dia era noite era enfim momento de mudar - a partir de hoje o mundo acabou : a partir de hoje vivemos na Harmonia - lugar de solidariedade extática, de pão em ciranda, de comum´idade de todos que aprendiam e desaprendiam e se reinventavam porque os olhos choravam de tanta euforia daquele mar de gente ali pra fazer acontecer a história da humanidade em guinada destruindo os trilhos porque esse trem agora é livre pra voar. Poh, que dormia que nada porque era impossível dormir naquele lugar ocupado porque resolvemos que o mundo é nosso, não é propriedade de ninguém, porra de particular, privado nada mais, tudo é uma festa e nessa festa não existem donos, apenas convidados para o banquete do universo... Tu brincando batucando com os olhos fechados concentrados na batida e todo mundo ao redor na mesma vibração loucos cantando "insurreição"! Neste instante derrubamos todas as pátrias, todos os poderes, morreram os juízes, os clérigos, os milicos, de seus corpos nasceram borboletas nesse jardim tão impossível que é exatamente assim que é porque acabou a paciência pra ser escravo da demência de trocar 11 por 1, férias é sobra de vida, deixamos os sal(ários) exclusivamente pra temperar a comida, o resto a gente tempera com sorriso de fazer exatamente o que dá na vontade de viver irresistivelmente aquilo que nascemos e morremos pra viver...

Uma música - Ratatat - Mirando

Ah!


Atravessa a porta do aeroparque de saudades de vais-e-voltas pisando cada emoção latente urgente que emerge dos dentes e dos invernos de dentro do cárdio. Lança o olhar longe como avião de papel de infância inocente mordendo os lábios pra que pouse exatamente nela. Encontra os olhos de faróis noturnos guia de navios esquecidos pela morte piscando lentamente como uma brisa morna do mar do norte. Por um instante a poeira que paira no ar congela de tensão-louca de vontade insana de explosão de querer. E quebra-se o ar que separa os incalmos corpos que correm projéteis balísticos amorosíssimos. Encontram-se no meio do tempo no meio do imenso lugar de encontros. Os poros se adentram os pelos se enroscam os cabelos se esvoaçam os beijos se derretem os peitos se engolem com´uma estrela que se choca co´outra. Acabou-se o mundo. Fez-se novo...

Uma música - J'ecoute les cramps - BB Brunes

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Orgi



Correm respingando poças pratodolado com música debaixo dos passos e dança nos cabelos embebidos de alegria louca de chuva de 10mil quilômetros de altura em quedalivre adrenalina pura! As escadarias da praia roda gigante subindo e descendo brincando de girar agarrados nas mãos um´d´outro parqueando diversões ali sem mais nada que peles molhadas e roupas suadas e corpos excitados e vozes roucas e saias soltas e pés descalços e tirando a roupa ali mesmo semsimportar com nada que nada pode impedir a vida que nasce a cada dia... E resolveram nascer voltando às origens orgiacas do hoje nus noite nervos!

Uma música - Brune BB - BB Brunes

Manifesto do Egoísmo



Antes de tu, ninguém...
Porque sem tu, ninguém...
É por meio de ti, que tu és
Ninguém pode ser por você...

O que és? O que podes ser? O que estás sendo?...
Como uma corredeira, uma enxurrada, uma torrente, cresces, cresces a cada dia...
Ou te comprimes pelas margens demasiadas estreitas?
Inunde! Destrua, fertilize!

: o mistério é ser quem se está sendo num processo constantemente metamorfóseo em que não se sabe quem se é nunca porque já fomos e partimos e deixamos de ser e querer e aguentar o que quer que tenha sido antes agora queremos mais ainda e parte-se dentro como um equilibrista malabarista garçom de pizzas com mil pratos cambaleantes nas cinco mãos trêmulas da ressaca da noite mal dormida tendo que segurar a onda que quebra na nossa cabeça levando-nos ao chão areia sal olhos ardendo medo riso gosto de mar na boca seca que beija o céu de teus galhos castanhos de frutas doces como a magia do ser desapar-e-ser na cama que se levanta pra limpar a bagunça que deixamos tomar de conta de tudo que existe dentro fora lado cima baixo esquina canto beira quase nada sobra #porra aí você percebe que assim não dá que o balão precisa de direção nem que seja por brincadeira você quer saber pra onde o vento sopra você quer medir o algodão das nuvens mastigar o cosmos comprimir não não é isso / 



Não. Veja só, só. Eis o dilema universal do existente. Existirmos por resistência ou por efervescência? Como se nossa pele do existir fosforescesse ao contato com o agora!

Se cada um pensasse inteiramente em si, profundamente, como quem limpa a própria casa, cada cômodo, cada pedacinho empoeirento cheio de aranhas de pernas finas, descobrindo as coisas perdidas em baixo da loucura, resolvendo os perrengues an/in-teriores para que assim possa ser mais leve e livre, como quem sabe que aquela casa vazia não serve pra nada, que o espaço existe para se preencher de vida, de verde, de versos, se pensasse derradeiramente em si, percebendo a si como esse infinito potencial que se realiza aqui e agora, não "só", mas com tudo, em tudo, junto com tudo, nunca >só<, inevitavelmente com o/a/s outro/a/s/, se assim fosse/for, de fato egoístas, portanto, realizadores de si mesmos, cada um n´um processo esplendidorosoisticamentefoda realizando-se a si em comunhão com tudo, se assim fosse/for, cada um e tudo que existe seria/m/são/estão sendo uma floresta exuberantemente tropical de mil espécies de invenções transformadoras criativas lindas gostosas de bem querer e cuidar e expressar arte em tudo que existe cada gesto assim na pele na pedra no minério que quisermos fazer... Assim, declaro manifestando em mim o que tenho e estou sendo e deixo ir e largo abrindo espaço para ser de novo mais um pouco muito, declaro que sejamos egoisticamente felizes - e felicidade só é felicidade se compartilhada - um processo abraçadamente coletivo, e em nossos egoísmos nos inundemos de tudo e todos crescendo como o ar quente que sobe e funde-se na atmosfera infinitaluz... 

Uma música - Ratatat - Loud Pipes

sábado, 15 de junho de 2013

Desancorou...


Sentiu uma falta... uma necessidade de carinho... como quem mergulha lá no fundo e quer voltar para respirar (ainda que não precise)... como uma memória do corpo que se lembra bem de como é bom estar junto... Uma contradição dele, que ao mesmo tempo que tão só, tão sem, tão difícil de chegar ou de encontrar, ao mesmo tempo sempre por milagre encontrou, pôde compartilhar o afeto que transborda em nós e que não podemos guardar, que nos escapa... como a fruta madura que a árvore deixa cair do galho por não poder mais segurar, doa... Acontece que ela não estava ali, não queria estar ali... afastava-se e afastava-se, como a ilha desaparecendo no horizonte quando o navio alcança o alto mar... ela não quisera navegar... doía-lhe sentir o sabor do mar, da amplidão tão grande deste mar, no qual o moço se encontrava... por mais que ela entendesse, soubesse, que quando entramos na água, nos banhamos em todos os oceanos da terra e isso é tudo, isso é tanto, estamos livres, podemos nadar... ela agora prefere o seco, a terra aparentemente firme, aparentemente sólida, aparentemente estável... a água é imprevisível demais, fluída demais, líquida demais... E assim, eles se separaram, aos poucos, como o horizonte... hora podem se ver, mas uma hora não poderão mais... E essa distância de léguas de mar até a terra também doeu... nele. E ele quis voltar... tentar trazer... estendeu a mão, chamou, chamou - vem, vem comigo... simplesmente estar, sem nada mais, sem garantia... flutuar, sem medo de se afogar, pois somos a água... E não veio. Entendeu, ela não vem... não adianta esperar... não se pode esperar... a correnteza nos leva pelo caminho e o fundo do mar é profundo demais para tentar alcançar a âncora... nem mesmo havia âncora naquele navio... um navio feito para navegar, não para esperar... Aprendeu. Dois caminhos então, que não se cruzam mais, não agora... se é isso que quer, apenas aceitar o movimento e seguir com ele pode... aprendeu... a não se pesar, não se apertar... a não sentir falta... (muitas faltas ainda precisará sentir), mas, ao contrário, ser feliz por que tudo é, está sendo e segue sendo... aprendeu muito e segue aprendendo... e no mar agora vive, um mar tão grande e tão vivo que com tudo nos relacionamos... um mar que nunca para, sempre em ondas, que sobem, descem, que a todas as praias banha, molha, descobre... que em toda parte chove, evapora, troveja... um mar de encontros... de azul de céu e de profundeza abissal...

Unravel - Björk - para aprofundar...

Call it fate, call it karma - The Strokes - para flutuar...

quinta-feira, 13 de junho de 2013

companhia...

Precisamos... ou preciso... de presença... cambaleio rua deserta afora sob chuva e guarda-chuva... minha pele estremece... só... Como um choque térmico entre o interior e o exterior, sinto dentro de mim um calor sincero de afetos e bem-querer, sentimento, energias afins, puras... e sinto fora o deserto, frio demais a noite, quente demais de dia... pois para além da pele só existe a própria pele, que não se basta... Ah, que impulso vital que rasga os sentidos... que natureza do corpo que subjuga o espírito... Que força que une os seres, que os magnetiza, que os aproxima... como dizer que não somos todos e cada um um só fluxo, se tão poderosamente nos atraímos... 

Mas não por todos... só alguns seres se atraem, enquanto outros se repelem... Mas assim também somos cada um, intimamente, no âmago do ser, partes de nós atraídas entre si e partes arranhando-se, estranhando-se, afastando-se... nossa decisão e fraqueza, nosso cuidado próprio e autodestruição, nossa alegria e tristeza... conflitos que a cada instante se travam... e transbordam... e a pele arde, e o peito afunda, e a vontade só quer se acarinhar... sentir-se companhia...

La valse des monstres - Yann Tiersen

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Manifesto da Saudade



Tudo que somos é uma integração desintegrada de todas as partes
Aglomerados de infinitos luminosos e desinfinitos obscuros
Temos medo de nós mesmos, pois nos sentimos desconhecidos
Temos medo do outro, pois nos parece semelhante
Nos identificamos em tudo, mas não estamos em nada
Nos perdemos em tudo, mas vamos encontrando A Alma
Nos desesperamos com o mundo, sem perder a calma...

A cada segundo decifro-me - agora: uma tênue linha de invisível estar com quem comigo é perto de mim ainda que indo ou longe... há pouco: descendo ladeira abaixo porque o fundo nos atrai com sua força subtérrea para voltar a ser alimento da terra... antes: uma guerrilha entre o frio de ausências e distâncias e chuvas e vazios que nos quer quietos, escondidos, em baixo das cobertas, e o ímpeto do movimento que nos chama a realizar o que sonhamos ou ousamos querer... anteriormente: um balão subindo e descendo com calores em combustão em rodopios por ventos e céus que escrevem palavras atmosféricas que respiramos para não perder o ar... durante: o difícil mútuo aprendizado de viver e sentir e amar e cuidar uns dos outros sem sermos uns dos outros, mas, ao contrário, livremente com o outro, estando porque queremos estar, não porque precisamos... depois: sentindo que a falta que faz é também parte, é gosto, é sentido, é compreender, é descobrir novos caminhos para onde se vai... nossas faltas, saudadeantes, também nos definem... também nos impulsionam para o ser, para dentro, para fora... a fome que mastiga o interior do espírito... quero-te, saudade, não fujo de ti. És como o ar, entre tudo que está junto, mas se engana ao pensar que não... Respiro-te, inflando os laços que fazem desaparecer o "eu" e o "tu"...

Uma música - Olha pra mim - Arnaldo Antunes

segunda-feira, 10 de junho de 2013

(des)Frutar...


Preparam uma brincadeira culinária em íntima harmonia de sabores e gestos... ela corta de um lado cebolas em pedaços grandes para serem lindamente dourados na panela, corta também pedações de alho e gengibre para aquele sabor especial, enquanto ele reserva os outros ingredientes, preparando tudo. Os quitutes de bebericar já são adiantados, misturando-se inúmeras frutas-guloseimas tropicais. E aos poucos, vai surgindo outra invenção misturada de várias receitas desrespeitadas e cruzadas em orgias gastronômicas... Divertem-se nesses jogos de paladar, degustando cada sensação com uma pitadinha no lábio do outro. E riem-se da sujeira, do nariz pintado de molho, do beijo sabor laranja com mamão. Melhor ainda, é que depois de tudo, do banquete caseiro especial pelo carinho que tem, jogam-se n´uma cama fri´inha que logo se aquece nos dois corpos enrolados... e assim, repletos de alimento do corpo, as peles se deliciam de chamego que alumia a alma... 

Uma música - Contravento - Céu

domingo, 9 de junho de 2013

Noites nuas...



Nus, corpos sobre um canga de praia sobre um chão de madeira sobre uma cidade caótica, eles olhavam o céu... um ventinho frio soprava do leste, do mar lá longe do outro lado do morro... quase nenhuma nuvem teve coragem de sair de casa naquela noite e eles aproveitaram uma falta de luz para morrer com um céu tão estrelado. 
- Olhar pras estrelas tem um efeito sobre mim difícil de explicar... esse sentir-se tudo e nada, tão gigante e tão distante de tudo, submerso em sonhos e redemoinhos de vontades e desejos... insignificante boiando sem sentido de um lado para o outro... o céu é como o fundo do mar... imenso e negro... é como o fundo dos olhos... brilhando uma chama que não se sabe de onde vem, mas que toca a gente...
Ela apoiava a cabeça no ombro, passando a perna sobre a dele, cobrindo-se com a colcha azul estampada de florzinhas do tempo da infância...
- Eu acredito que tudo está em movimento, que tudo que existe é um movimento... que só podemos crer no movimento... mas, ao contrário disso, muitos agarram-se, fixam-se, querem parar no tempo, que tudo permaneça como está, pois acham que assim está bom e não querem perder... 
- E assim, por não quererem perder, é que perdem... agarram a água que escapa entre os dedos...
Ao dizer isso, ele olhou para o rosto dela em seu peito, com as mãos em seus cachos curtinhos castanhos de se perder e se achar... Ele continuou...
- Tenho que convencer-me, agora, neste instante, que tu também é um movimento, assim como eu... logo, não posso nem quero nem devo agarrar-me em ti, que estás aqui porque os caminhos te colocaram aqui e depois te levarão para outro lugar... e eu devo olhar para o que está diante de meus olhos, aqui e agora... saber disso nos faz perceber a necessidade de viver cada instante tão poderosamente porque de fato é o último... se um outro instante existir, será novo, jamais igual a este... não podemos prever como será, nem tem pra quê... porque assim, nos surpreendemos sempre, e o coração vive acelerado com tantas surpresas...
- Ai, mininu, nunca pensei que encontraria alguém que falasse mais do que eu... (sorriu)... mas é bom te ouvir. Por que você fala tanto?
Ele a olhou com cara de bobo. Riu um riso engraçado, envergonhado. Sentiu-se tagarela. Por quê? Pensou consigo. Respondeu, fazendo uma cara de inocente e injustiçado...
- Eu falo muito? Pooooxa, vou ficar calado então... (risinho)... Ah, é que... sei lá... também não é todo dia que eu encontro alguém com quem posso conversar essas coisas, tantas ideias, tantas besteiras que penso tanto tempo... sei lá, simplesmente dizer o que sinto... sabe, é só pra brincar mesmo de fazer palavras bestas que nos fazem sonhar e imaginar coisas... 
- Eu sei... eu gosto... no outro a gente se encontra... a medida que falamos, percebemos o que estamos dizendo... é como se fosse preciso nossas palavras refletirem-se no outro para que de fato possamos nos escutar... Não é a mesma coisa quando falamos sozinhos... (olhou pra ele com cara de culpada brincalhona) né? Eu falo muito sozinha... altos diálogos, eu e meus muitos eus loucos de todas as partes do mundo e épocas pra frente e pra trás e de baixo e do alto... e converso com muita gente que esteve comigo e eu imagino outras conversas... Mas, o problema é que quando estamos nessa conversa de um só, já sabemos todas as respostas... sei lá... não tem surpresas... com o outro, podem surgir palavras novas que mostram direções que não imaginávamos...
- Né isso?! Exatamente! Quantos eus você tem? Fale-me deles...
- Ah! Não vale! Você é quem tava falando horrores... não vale começar a me fazer perguntas pra eu me despir toda pra você!
- Mas você já está pelada, nua em pelo, já vi tudo, meu bem, o que mais você quer esconder?
- Você não viu nada, bobinho... de baixo dessa pele arrepiada de frio (me aperta mais, vai) tem mistérios que mordem... 
- Já te disse que adoro mordidas? Teus dentes na minha pele...
- Hmm... sei... quando eu sentir o gosto do seu sangue você vai ver como é bom... vou fazer um ritual de magia azul marinho pra você se apaixonar por mim e achar que eu sou inesquecível...
- Então... né?... (fez uma carinha sem graça)
- Né!
- Fecha os olhos pra eu escrever na tua pele... vê se você entende...
Ela aceitou. A ponta dos dedos começou a traçar frases...
P-R-E-P-A-R-A-Q-U-E-L-A-V-E-M-B-E-I-J-O...
Mal entendeu a frase e se viu envolta por lábios e cabelos e calor e tecido virando rolando tudo gentes e céu e bilhões de estrelas misturando-se naquela sede que suga e morde e brinca e se delicia...

Boiar...



Preciso andar com uma bússola pendurada no pescoço, um astrolábio no canto da boca, mapas de todos os universos no fundo do bolso, quem sabe umas indicações de direção sopradas no ouvido, e, se pudesse, com você levando minha mão... Porque tem horas que fico perdido, em que as estrelas são tantas no céu de alto mar que paro de navegar para apenas apreciar essas faíscas tão longínquas... em que minha atenção se quebra em mil pedaços, por causa de uma emoção entalada na garganta, como uma ansiedade por algo que não está marcado, que não estou esperando... Tem horas que não quero ir para lugar nenhum, apenas aninhar-me nos teus braços, aconchegado do frio chuvoso...

Música - Bouche B - BB Brunes

quarta-feira, 5 de junho de 2013

E foi...


Dias de olhos... disfarçando soslaio p´outro lado, como quem não quer nada com o/a passarinho/a que canta... Parecia que olhos de contornos negros seria tudo que teria, contemplação de distâncias montanhas entre vales e orvalhos e clima úmido e friozinho de ar-condicionado... Com olhos de objetiva câmara escura 55mm 14megapixels aproveita para degustar sem se esconder ser invisível como quem só está ali para registrar o oficial, a beleza oficial, os encantos dos olhos oficiais e cachos oficiais e pele morena oficial... Sem palavras, sem contatos, sem presença, nada além da imagem brincante e cordelante e chapeudepalha com castanhaserapadura... E bem que assim fosse, tranquilamente como um ser de meditação visual que descolava-se do chão nesse olhar de mantra e óculos de sol e cores no tecido da pele... E nada de estar, nada mais que uma palavra trocada sem importância e qualquer coisa de intermédio... Tudo bem assim... afinal, nunca foi de provocar o Ser... mais de deixar o Ser ser... e tudo que é será e vice-versa e pá... Sendo assim, que assim seja...Se só imagem é, muito bem sentida imagem está. Mas não. Estranho, mas não. Inusitado, mas não. Como que por mágica, sem saber, sem querer ou esperar, senta-se ao lado e põe-se a conversar... e que não pára e que vai e que hora do almoço inteira e mais... Tá... esquisito... que foi isso? Mas vamos embora, que é finda a estada... volta pro trem-bala ultraligeiro (maldade)... Por mil semrazões sentam-se ali, perto, lado, e frio e buscando calor e palavras como escaletas voando de contos e janelas e brechas de si que somos e compartilhando que estamos sendo... e vamos sendo em movimentos que querem e dedos que aquecem e lençóis que cobrem joelhos que se tocam e otras cositas más... Mas, sem pensar, sem propositar... afinal, nada há, há?... E foi... deixando-se ir... como água e gravidade, riacho e declive, parte e todo... E foi... surpresa... no ombro... beleza... ali... juntar... mais... e só. Hora de ir.

Música - How to care - The Delano Orchestra

domingo, 2 de junho de 2013

Cirandando...


O rio corre, o vento sopra, a vida vive...
Enquanto observamos o passear do mundo
Degustando a beleza que caminha
Sem esperar por nada, apenas acompanhando a si
No próprio caminho que se abre a cada instante
Sem que possamos ver um passo além,
Apenas cada pisar na areia molhada de mar
A chuva beija-nos o rosto, a brisa brinca-n´os lábios
O agora nos surpreende sempre, revelando-se aqui
Diante de nós, adentrando cada gesto, cada parte, cada sentir
Fazendo de nós esta realização irrefreável 
Que nada deve impedir, sob o risco de desexistir...

Saudadeando - Filarmônica Pasárgada